3. Socialismo cristão
Os fautores da Revolução realizaram
esta proeza de enfeitarem o socialismo com o rótulo de cristão. Com um
semblante comovido tais socialistas cristãos condenam o capitalismo como
intrinsecamente mau, pior do que o comunismo. E com comoção dizem que no
comunismo há muita coisa boa. Seu ódio à América do Norte é violento.
Suas simpatias pela Rússia são difíceis
de esconder. Consideram o capital uma abominação quando nas mãos daquele que o
amealhou com seu suor, mas o acham admirável quando nas mãos do Estado. Têm uma
confiança cega no Estado, e uma desconfiança irremediável da iniciativa
particular. Têm antipatia à ordem desigual e hierárquica de uma sociedade de
classes, e têm prazer de se proletarizar. Mas confessam‑se e comungam, e se
dizem católicos progressistas.
É possível um socialismo cristão? Sua
Santidade o Papa Pio XI já respondeu a esta questão na Encíclica Quadragesimo Anno: "Se este erro, como todos os
mais, encerra algo de verdade, o que os Sumos Pontífices nunca negaram, funda‑se
contudo numa concepção da sociedade humana diametralmente oposta à verdadeira
doutrina católica. Socialismo religioso, socialismo católico são termos
contraditórios: ninguém pode ser ao mesmo tempo bom católico e verdadeiro
socialista" (Edit. Vozes, p. 44, n.° 119).
E se o socialismo for muito moderado?
Mesmo neste caso continua incompatível com o Catolicismo. Pio XI é explicito
também neste ponto. Ouçamo‑lo: "E se o socialismo estiver tão moderado no
tocante à luta de classes e à propriedade particular, que não mereça nisto a
mínima censura? Terá por isto renunciado à sua natureza
essencialmente anticristã? Eis uma dúvida que a muitos traz
suspensos. Muitíssimos católicos, convencidos de que os princípios cristãos não
podem abandonar‑se nem jamais obliterar-se, volvem os olhos para esta Santa Sé
e suplicam instantemente que definamos se este socialismo repudiou de tal
maneira as suas falsas doutrinas, que já se possa abraçar e quase batizar, sem
prejuízo de nenhum princípio cristão. Para lhes respondermos, como pede a Nossa
paterna solicitude, declaramos: o socialismo, quer se considere como doutrina,
quer como fato histórico, ou como "ação", se é verdadeiro
socialismo, mesmo depois de se aproximar da verdade e da justiça nos pontos
sobreditos, não pode conciliar‑se com a doutrina católica, pois concebe a
sociedade de um modo completamente avesso à verdade cristã" (Encíclica Quadragesimo Anno, Edit. Vozes, p. 43, n.° 117).
Realmente, Deus estabeleceu uma ordem
natural, que não é licito ao homem violar, e a esta ordem pertencem dois pontos
que todo socialismo viola. São os seguintes:
a) O papel subsidiário do Estado. O
Estado não existe para absorver ou substituir os indivíduos, as famílias e as
associações, mas para realizar as tarefas que estes elementos não podem
realizar por si mesmos. Assim João XXIII, na Encíclica Mater et Magistra: "Essa ação do Estado, que
protege, estimula, coordena, supre e complementa, apóia‑se no "princípio de subsidiaridade" (A. A. S., XXIII,
1931, p. 203), assim formulado por Pio XI na Encíclica Quadragesimo Anno:"Permanece,
contudo, firme e constante na filosofia social aquele importantíssimo princípio
que é inamovível e imutável: assim como não é lícito subtrair aos indivíduos o
que eles podem realizar com as próprias forças e indústria para confiá‑lo à coletividade,
do mesmo modo passar para uma sociedade maior e mais elevada o que sociedades
menores e inferiores poderiam conseguir, é uma injustiça ao mesmo tempo que um
grave dano e perturbação da boa ordem. O fim natural da sociedade e de sua ação
é coadjuvar os seus membros e não destruí-los nem absorvê‑los" (ibid., p. 203) (apud
"Catolicismo", n.° 129, de setembro de 1961).
b) O indivíduo, as famílias, as
associações têm direito de possuir bens de raiz, bens móveis e bens produtivos.
O Estado não pode açambarcar estes bens para si. Os homens têm o direito e o
dever de proverem às suas necessidades, e o Estado não pode se arvorar em
Providência e suprimir este direito ou substituir‑se a este dever.
Por isto tudo, o socialismo é condenado
pelo direito natural, e não pode haver socialismo cristão.
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