9 de setembro de 2015

ASSUNÇÃO DE MARIA SANTÍSSIMA - Capela N. Sr.ª das Dores - Padre Daniel Pinheiro, IBP

Fonte: Missa Tridentina em Brasília

[Sermão] Assunção de Nossa Senhora: o dogma e seus benefícios



Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Nós celebramos hoje a Assunção de Nossa Senhora aos céus. A festa é do dia 15 de agosto, mas, como depois da infeliz separação da Igreja e do Estado, o calendário civil não corresponde, muitas vezes, ao calendário religioso, a Igreja nos leva a transferir algumas festas de preceito para o domingo. E o fazemos, primeiramente, para honrar a Deus, a fim de que todos os fiéis – que não podem ir à Missa durante a semana – possam honrar os mistérios de nossa religião, como por exemplo, a Epifania, ou a Ascensão, ou a Assunção. Mas fazemos essa transferência também para benefício nosso. Toda festa litúrgica tem a sua graça própria. E essas grandes festas de preceito têm não só uma graça própria, mas têm também uma graça abundante. Privar os fiéis católicos dessas graças seria extremamente prejudicial. Por isso, faz já muito tempo, quer dizer, desde a não correspondência entre calendários civil e religioso, que a Igreja permite que se transfiram as festas de preceito para o Domingo, quando elas não correspondem a um feriado no calendário civil. Não é preciso dizer que esse não é o estado normal das coisas, pois essa distinção dos calendários civil e religioso vai contra o princípio de que o Estado, enquanto criatura, deve também ele cultuar a Deus publicamente em conformidade com a religião que Ele nos revelou, que é a católica. Essa não correspondência termina, também, diminuindo a influência da liturgia na vida social dos católicos. Essa distinção de calendário induz, ainda, as pessoas a pensarem que a religião é algo puramente privado, que deve permanecer nas sacristias e nas igrejas, o que é um erro. E muitas das mais importantes festas da cristandade – Epifania, Ascensão, Assunção, Todos os Santos, para citar algumas – terminam passando quase despercebidas, infelizmente. É preciso remediar isso marcando bem essas festas, principalmente em família.
Nós festejamos hoje, então, a Assunção de Nossa Senhora. A Assunção de Nossa Senhora é motivo de alegria não somente para Nossa Senhora, mas também para nós, seus filhos. Mas antes de tratarmos da razão pela qual a Assunção é motivo de alegria não só para Nossa Senhora, mas também para nós, devemos falar algo da proclamação do dogma da Assunção.
A Assunção de Nossa Senhora aos céus sempre foi professada e ensinada pela Igreja, mas tornou-se verdade de fé somente com a proclamação do dogma pelo Papa Pio XII, em 1950. Nós sabemos que a revelação por Deus de novas verdades acabou com a morte do último apóstolo, São João Evangelista. Dessa forma, a Assunção de Nossa Senhora é uma verdade já contida naquilo que Cristo e o Espírito Santo revelaram aos Apóstolos. Não se trata, pois, de uma invenção da Igreja, que, aliás, não foi constituída por Cristo para ensinar novidades, mas foi constituída para defender, propagar, explicar e explicitar as verdades reveladas. Assim, a Assunção de Nossa Senhora é uma verdade contida na doutrina dos Apóstolos e na Sagrada Escritura, mas que se tornou mais perfeitamente conhecida e explícita com a proclamação do dogma. E depois da proclamação do dogma ninguém mais pode deixar de confessar a Assunção de Nossa senhora aos céus sem deixar, ao mesmo tempo, de ser católico. O Papa Pio XII se exprimiu assim na Bula MUNIFICENTISSIMUS DEUS, na qual proclamou o dogma em 1º de novembro de 1950, Festa de Todos os Santos: “pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial”. E, logo em seguida, acrescenta o mesmo Sumo Pontífice: “Pelo que, se alguém, o que Deus não permita, ousar, voluntariamente, negar ou pôr em dúvida esta nossa definição, saiba que naufraga na fé divina e católica.”
Nós vemos, então, pela definição de Pio XII, que a Assunção de Nossa Senhora consiste no fato de que, terminada a sua vida aqui na terra, ela subiu em corpo e alma para a glória celestial. Convinha que Nossa Senhora sofresse e mesmo que ela morresse, pois ela recebeu uma natureza semelhante à nossa em tudo, salvo o pecado. Convinha que ela sofresse e que ela morresse para participar de modo muito particular na obra da redenção operada por seu Filho, redenção que se realizou pela morte e morte de cruz. Convinha que Maria Santíssima sofresse e morresse para se assemelhar a Nosso Senhor, que sofreu e morreu para nos salvar. Convinha que Maria Santíssima sofresse e morresse para nos dar o exemplo e para nos consolar, quer dizer, para nos ensinar a morrer bem e para adoçar nossos temores na hora da morte, mostrando que a morte não é tão terrível para aquele que viveu santamente. Nossa Senhora não morreu por doença, nem por morte violenta – por exemplo, por martírio – nem por idade avançada. Nossa Senhora morreu por força do amor divino, e do desejo veemente de alcançar o céu, de contemplar as coisas celestes. Essa morte é tão particular que, muitas vezes, é chamada de dormição. Se convinha que Maria sofresse e morresse, não convinha, porém, que seu corpo conhecesse a corrupção. Cristo permitiu que sua mãe sofresse tremendamente porque isso era o melhor para ela e para nós. Melhor para ela, porque aumenta a sua glória no céu. Melhor para nós, que temos em Maria um modelo a ser seguido, além de Nosso Senhor. Mas permanecer no sepulcro não podia acrescentar nenhum mérito para a alma de Maria Santíssima. NSJC observando, então, o quarto mandamento, honrar pai e mãe, e querendo sempre o melhor para sua Mãe, fez que ela ressuscitasse e subisse ao céu em corpo e alma pouco tempo após a sua morte. Além disso, Maria foi concebida sem pecado, sem o pecado original e, portanto, ela não estava sujeita a essa pena do pecado original, que é a corrupção do corpo depois da morte. Maria morreu para imitar seu Filho e nos dar o exemplo de uma boa morte, mas ressuscitou e subiu aos céus imediatamente. Devemos dizer também que a carne de Maria e a carne de NSJC são a mesma carne. Não convinha que tão nobre carne conhecesse a corrupção devida ao pecado, corrupção que faz a carne voltar ao pó, ao nada. Finalmente, Maria santíssima foi associada intimamente ao Calvário e pelo Calvário ela participou da vitória definitiva de Cristo sobre o demônio, o pecado e a morte. Nada mais normal que se manifestasse em Nossa Senhora, pela assunção e logo depois de sua morte, essa vitória completa sobre o demônio, o pecado e a morte.
Nossa Senhora subiu, então, ao céu em corpo e alma para a glória celestial. E nós mal podemos imaginar a glória de Maria no céu. Nossa glória no céu corresponde ao grau de graça com que morremos aqui na terra. Os teólogos dizem que a graça de Maria no instante de sua concepção era, em virtude de sua futura maternidade divina, maior que a graça de todos os anjos e santos juntos no céu. Não somente essa graça inicial de Maria era imensa, mas ela aumentava a cada ato de Nossa Senhora. A graça progredia nela em verdadeiro movimento acelerado. Embora imensamente inferior à graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, a graça de Maria Santíssima no instante de sua morte é, para nós, incompreensível. E, consequentemente, a glória de Maria no céu também é, para nós, incompreensível. Não podemos imaginar a alegria da Santíssima Trindade no céu. Deus Pai, que recebe sua Filha perfeita, sem nenhuma mancha. Deus Filho, que recebe a sua Mãe, Mãe que o seguiu em tudo, negando-se a si mesma e carregando a sua cruz. Deus Espírito Santo, que recebe sua esposa, fidelíssima a todas as graças recebidas. Também os anjos se alegram, pois recebem no céu a Rainha deles. Rainha não em virtude de sua natureza humana, inferior à natureza angélica, mas Rainha em razão de sua santidade, superior à santidade de todos os anjos juntos. Os santos também se alegram, pois recebem no céu a Mãe deles, aquela que obteve para eles não só o princípio da salvação – Cristo -, mas que obteve para eles todas as graças por sua mediação universal – sempre subordinada à mediação de Cristo. A alegria de Nossa Senhora é evidente. Sua alegria, com a Assunção, é plena. Sua alma contempla Deus face-a-face e ama-o de todas as suas forças. O seu corpo unido à sua alma no céu recebe também ele a recompensa da maternidade divina, da virgindade perpétua, das suas dores imensas. Maria Santíssima é a criatura mais feliz no céu, pois é aquela que mais amou a Deus na terra. Alegremo-nos, então, com Nossa senhora, elevada ao céu em prêmio de seus trabalhos aqui na terra, trabalhos sempre voltados para a glória de se Filho e para o bem das almas. Alegremo-nos com a Santíssima Trindade, com os coros de Anjos e com os Santos no céu.
Devemos, por outro lado, nos alegrar também nós com a Assunção de Nossa Senhora porque ela nos traz grandes benefícios. Se já na terra a intercessão de Nossa Senhora era poderosíssima – basta lembrarmo-nos das Bodas de Caná – quanto mais eficaz será a sua intercessão no céu? Ao adentrar o céu, o amor de Maria por Deus cresceu ainda mais e consequentemente cresceu também o amor dela pelos homens e, portanto, sua vontade de nos ajudar a alcançar o céu, concedendo-nos graças abundantes. No céu, Nossa Senhora conhece perfeitamente nossas necessidades. Ganhamos no céu uma advogada onipotente, pois ela alcança de Deus tudo aquilo que é bom para a nossa salvação. É no céu que Maria se torna plenamente Mãe de misericóridia. A misericórdia consiste justamente em reconhecer a miséria de alguém e em ajudá-lo a sair dessa miséria. No céu, Nossa Senhora conhece perfeitamente nossas misérias e tem poder para nos ajudar a sair de nossas misérias, sobretudo espirituais, mas também materiais, se sair dessas misérias materiais é útil para nossa alma.
Deus, em sua perfeita sabedoria, quis que a Assunção da Santíssima Virgem beneficiasse não somente a ela e aos habitantes do céu, mas Ele quis que a Assunção beneficiasse também a nós, pobres pecadores nesse vale de lágrimas. Alegremo-nos, então, porque ganhamos no céu uma advogada onipotente, que pleiteia por nós e que nos obtém, se estamos bem dispostos, ganho de causa. Recorramos a tão boa advogada, a tão boa Mãe de Misericórdia com grande confiança. Nunca se ouviu dizer que algum daqueles que tenha recorrido a tão sublime advogada, tenha sido abandonado.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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