7 de setembro de 2015

XI DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES - Capela N. Sr.ª das Dores - Padre Daniel Pinheiro, IBP

Fonte: Missa Tridentina em Brasília

[Sermão] Tradidi quod et accepi. Guardar a fé: transmitir o que recebemos


Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Porque, antes de tudo, transmiti-vos o que eu mesmo recebi.”
A Epístola da Missa de hoje, tirada da primeira Epístola de São Paulo aos Coríntios, é uma resposta do apóstolo a uma dúvida dos coríntios acerca da ressurreição. Bastaria afirmar a imortalidade da alma ou seria preciso afirmar a ressurreição do corpo efetivamente? São Paulo responde demonstrando a ressurreição de Cristo ao mencionar alguns testemunhos dessa ressurreição: Cefas, quer dizer, São Pedro, e depois os onze viram o Senhor ressuscitado; depois foi visto por mais de quinhentos de uma só vez; Nosso Senhor ressuscitado foi visto por Thiago e os outros apóstolos; também São Paulo o viu.
Ao afirmar a ressurreição de Cristo e consequentemente a nossa futura ressurreição, São Paulo diz que está transmitindo aquilo que ele recebeu. Ele está ensinando aquilo que ele recebeu de Nosso Senhor Jesus Cristo e dos outros apóstolos. O apóstolo diz: “porque, antes de tudo, vos transmiti aquilo que recebi.” O apóstolo não inventa novidades, não cria novas verdades, não cria uma doutrina própria. Ele simplesmente transmite o que ele recebeu do Senhor.
Essas palavras do apóstolo – “vos transmiti aquilo que recebi” – são importantíssimas para nós, sobretudo nesses tempos em que de todas as partes e em todos os níveis se quer mudar a doutrina católica. Atualmente, em nossa sociedade moderna, antropocêntrica, a religião tende a ser simplesmente algo para aos homens e não para Deus. Assim, muda-se a doutrina para que ela seja mais conforme ao pensamento atual dos homens. Muda-se a moral, para que ela seja mais de acordo com o comportamento dos homens. Muda-se a liturgia, para que ela seja mais centrada no homem. E assim em cada aspecto da prática religiosa: tudo na religião deve ser feito de modo que a pessoa se sinta bem, nos dizem. Se a sociedade atual não suporta mais a noção de hierarquia, é preciso aplicar isso na Igreja e dizer que os leigos são iguais ao padre, os padres aos bispos, os bispos ao Papa, para agradar à mentalidade moderna. Se a sociedade atual não suporta mais a indissolubilidade do matrimônio, é preciso permitir a comunhão aos divorciados recasados. Em tudo querem mudar nossa santa religião para que ela agrade aos homens. Tudo isso é um erro profundo, grave e extremamente difundido. Nossa santa religião, ao contrário, caros católicos, não é uma fabricação humana, ela não é forjada pela imaginação coletiva ou por uma inteligência engenhosa. Nossa religião não é a expressão de um sentimento religioso subjetivo que está em nós. Nossa religião não adapta a sua doutrina segundo as filosofias da hora presente. Ela não adapta sua moral para agradar aos caprichos dos homens. Ela não deve mudar sua liturgia para se conformar simplesmente aos sentimentos dos homens.
Não. Nossa religião, a religião católica, a única verdadeira, nos foi dada por Deus. Nós recebemos as verdades, em que acreditamos, de Nosso Senhor Jesus Cristo, enquanto Ele esteve aqui nessa terra entre os homens, e do Espírito Santo, depois de Pentecostes. O Salvador e o Espírito Paráclito ensinaram essas verdades aos apóstolos, que as transmitiram intactas dentro da Igreja fundada por Cristo, que é a Igreja Católica Apostólica Romana. As verdades que nos foram ensinadas por Deus são imutáveis: elas nos falam de Deus, que é imutável: Deus é uno e trino sempre, o Verbo se encarnou, padeceu e morreu para nos salvar e ressuscitou ao terceiro dia. Nada pode mudar isso. Nosso Senhor fundou a Igreja Católica e lhe deu uma constituição que durará até o fim dos tempos: hierárquica, tendo Pedro como chefe supremo, tendo bispos e sacerdotes para governar, ensinar e santificar o povo. Não mudam os principais meios de santificação, que são os sete sacramentos. A moral dada por Deus também não muda, já que não muda o ensinamento dado por Deus nem muda a natureza humana. Não pode mudar a liturgia formada ao longo dos séculos por simples gosto do homem.
Pouco antes de sua ascensão, ao mandar os apóstolos para que batizassem todas as nações, Nosso Senhor lhes deu uma ordem muito clara: “ensinai-as a observar tudo o que prescrevi.” Na Igreja, ninguém tem ordem para ensinar algo distinto do que foi ensinado por Cristo aos apóstolos. Os pastores e fiéis podem simplesmente transmitir aquilo que receberam. Nem mesmo o Papa, sucessor de São Pedro, tem autoridade para inventar uma nova doutrina, para favorecer uma novidade qualquer no campo da fé ou da moral. Como ensina tão perfeitamente o Concílio Vaticano I: “o Espírito Santo não foi prometido aos sucessores de S. Pedro para que estes, sob a revelação do mesmo, pregassem uma nova doutrina, mas para que, com a sua assistência, conservassem santamente e expusessem fielmente o depósito da fé, ou seja, a revelação herdada dos Apóstolos.” Também o Papa pode apenas transmitir aquilo que recebeu dos apóstolos. E ele o faz infalivelmente, sob certas condições. Quando uma autoridade eclesiástica ensina uma novidade, contrária ao que foi ensinado por Cristo, contrária ao que foi ensinado infalivelmente pela Igreja, não deve ser seguida nesse ponto preciso. A fé é chamada de depósito, justamente porque não podemos modificá-la, mas devemos guardá-la intacta até o fim de nossos dias.
Nesses tempos, caros católicos, em que os homens já não suportam a sã doutrina, mas em que multiplicam para si mestres conforme os seus desejos e afastam os ouvidos da verdade e os aplicam às fábulas, é preciso que perseveremos constantes no Evangelho recebido de Cristo e transmitido intacto pelos apóstolos e pela Igreja católica em seu magistério infalível. Como diz São Paulo, aos pastores cabe pregar a palavra de Deus, insistir oportunamente e importunamente, exortar, suplicar, repreender com toda a paciência e doutrina. A todos, ainda com as palavras de São Paulo, cabe combater o bom combate e guardar a fé. Como está na Epístola de hoje, se conservamos a fé transmitida pelos apóstolos e a colocamos em prática efetivamente, seremos salvos por ela.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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