14 de maio de 2014

Preparação para a Morte

CONSIDERAÇÃO XXV
 
Do juízo universal
Cognoscetur Dominus judicia faciens. Conhecido será o Senhor, que faz justiça (Sl 9,17)
 
PONTO I
 
Não há neste mundo, quando bem se considera, pessoa mais desprezada que Nosso Senhor Jesus Cristo. Respeita-se mais a um aldeão que o próprio Deus; porque se teme que esse aldeão, vendo-se injuriado e oprimido, se vingue, movido por violenta cólera. Mas a Deus se ofende e se ultraja sem receio, como se não pudesse castigar quando quisesse (Jó 22,17).
Por isso, o Redentor destinou o dia do juízo universal (chamado com razão, na Escritura, o dia do Senhor), no qual Jesus Cristo se fará reconhecer por todos como universal e soberano Senhor de todas as coisas (Sl 9,17). Esse dia não se chama dia de misericórdia e perdão, mas “dia da ira, da tribulação e da angústia, dia de miséria e calamidade” (Sf 1,15). Nele o Senhor se ressarcirá justamente da honra e da glória que os pecadores quiseram arrebatar-lhe neste mundo. Vejamos como há de suceder o juízo nesse grande dia.
A vinda do divino Juiz será precedida de maravilhoso fogo do céu (Sl 96,3), que abrasará a terra e tudo quanto nela exista (2Pd 3,10).
Palácios, templos, cidades, povos e reinos, tudo se reduzirá a um montão de cinzas. É mister purificar pelo fogo esta grande casa, contaminada de pecados. Tal é o fim que terão todas as riquezas, pompas e delícias da terra. Mortos os homens, soará a trombeta e todos ressuscitarão (1Cor 15,52). Dizia São Jerônimo: “Quando considero o dia do juízo, estremeço. Parece-me ouvir a terrível trombeta que chama: Levantai-vos, mortos, e vinde ao juízo”. Ao clamor pavoroso dessa voz descerão do céu as almas gloriosas dos bem-aventurados para se unirem a seus corpos, com que serviram a Deus neste mundo. As almas infelizes dos condenados sairão do inferno e se unirão a seus corpos malditos, que foram instrumentos para ofender a Deus.
Que diferença haverá então entre os corpos dos justos e os dos condenados! Os justos aparecerão formosos, cândidos, mais resplandecentes que o sol (Mt 13,43). Feliz aquele que nesta vida soube mortificar sua carne, recusando-lhe os prazeres proibidos, ou que, para melhor refreá-la, como fizeram os Santos, a macerou e lhe negou também os gozos permitidos dos sentidos!... Regozijar-se-á, então, de haver vivido assim, como se alegrou São Pedro de Alcântara, que pouco depois de sua morte apareceu a Santa Teresa de Jesus e lhe disse: “Ó feliz penitência, que tamanha glória me alcançou!” Pelo contrário, os corpos dos réprobos serão disformes, negros e hediondos. Que suplício então para o condenado ter de unir-se a seu corpo!... “Corpo maldito — dirá a alma — foi para te contentar que me perdi!” Responder-lhe-á o corpo: “E tu, alma maldita, tu que estavas dotada da razão, por que me concedeste aqueles deleites, que, por toda a eternidade, fizeram a tua e a minha desgraça?”
 
AFETOS E SÚPLICAS
 
Meu Jesus e meu Redentor, que um dia deveis ser meu Juiz, perdoai-me antes que chegue esse dia terrível! Não apartes de mim o teu rosto (Sl 101,3). Agora sois meu Pai, e como tal recebei na vossa graça o filho que volta cheio de arrependimento a vós. Meu Pai, peço-vos perdão. Fiz mal em ofender-vos e afastar-me de vós: não merecíeis tratamento tão detestável. Eu me arrependo de tudo. Perdoai-me, pois; não aparteis de mim o vosso rosto, nem me abandoneis como mereço.
Lembrai-vos do sangue que por mim derramastes, e tende misericórdia de mim... Meu Jesus, não quero outro Juiz do que vós. Dizia São Tomás de Vilanova: “Gostosamente me submeto ao juízo daquele que morreu por mim e que, para não me condenar, quis ser ele condenado ao suplício da cruz” (Rm 8,34). Já São Paulo havia dito: “Quem é aquele que condena? Cristo Jesus que morreu por nós”. Amo-vos, meu Pai, e desejo nunca mais me separar de vós. Esquecei as ofensas que vos fiz, e dai-me grande amor à vossa bondade. Desejo que este amor seja maior do que a ingratidão com que vos ofendi. Sem a vossa assistência, porém, não sou capaz de vos amar. Auxiliai-me, meu Jesus. Fazei que minha vida seja conforme ao vosso amor, a fim de que no dia derradeiro mereça ser contado no número dos vossos eleitos...
Ó Maria, minha Rainha e minha Advogada, socorrei-me agora, porque, perdendo-me eu, já não me podereis valer naquele dia terrível! Vós, Senhora, rogai por todos. Rogai também por mim, que me prezo de ser vosso devoto e que tanta confiança tenho em vós.

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