RETRATOS DE NOSSA SENHORA
O Corpo da Virgem Santíssima.
Parte 3/6
A Virgem Santíssima não devia sofrer a dor porque era inocente, mas nós é que deveríamos sofrer: e o vê-la sofrer seria para nós um exemplo e um alento.
É condição inerente à natureza humana evitar ao corpo todo o incomodo e procurar-lhe o maior prazer possível.
Esta inclinação acentuou-se extraordinariamente na vida moderna, em que a indústria se orienta para proporcionar aos homens o maior conforto e o maior prazer.
O corpo do homem converteu-se num ídolo a quem a maior parte das pessoas rende adoração. Ter por ídolo uma coisa é servi-la, é fazer o que deseja, é dar-lhe o que ela pede.
Muitos, muitíssimos homens têm por ídolo o dinheiro e vivem continuamente ao seu serviço: os seus pensamentos para o dinheiro, os seus desejos de dinheiro, as suas atividades para ganhar dinheiro. É mau ter por ídolo o dinheiro; é pior ter por ídolo o corpo. É tão exigente que pede tudo e tem que se lhe sacrificar tudo. Diz esse ídolo: Sacrifica-me o tempo e pede todo o tempo para que o arranjem e o afaguem. Dá-me prazer, toda a classe de prazeres..., e exige até os mais baixos e degradantes.
E que tirano é ao exigi-los, mesmo que tenha de sacrificar a paz do lar, a tranquilidade da consciência, o dinheiro, a saúde, a vida e a bem aventurança eterna; porque a maior parte dos que se condenam vão para o inferno por se terem deixado arrastar pelo instinto do corpo que pede prazer.
O mundo rege-se por uma lei a que poderíamos chamar a lei do prazer e que se poderia enunciar desta maneira: "O fim supremo da vida é gozar."
Por conseguinte, em todas as ações deve-se perguntar: onde gozarei mais? como gozarei mais? Esta é a pergunta que fazem a si mesmas as jovens quando traçam o plano para um dia de festa ou um dia de trabalho e podemos dizer que para toda a sua juventude e para toda a sua vida.
Isto é o que as pessoas mundanas chamam gozar a vida. A lei do prazer causa espantoso estragos no indivíduo e na sociedade. O jovem ou a jovem que se rege por ela embrutece a sua inteligência.
Um rapaz, uma rapariga nos primeiros anos do liceu tira notas brilhantes, ocupa os primeiros lugares. No quinto ano, no sexto ano, as notas baixam lastimosamente. O que sucede? Os pais procuram afanosamente a causa. Essa causa pode ser múltipla; mas muitas vezes a causa é muito íntima. Esse jovem, essa jovem são vítimas das paixões que pedem prazer. Essa paixão absorve-os por completo.
Gozar, divertir-se, todas as suas energias se gastam nisso. Quando se deita e quando se levanta, quando está a mesa de estudo com o livro aberto, e quando assiste a aula com o corpo, em que pensa? Em tudo menos em estudar. Pensa no romance que leu, no filme que viu, no baile a que assistiu; pensa no que se divertiu ontem, como se divertirá amanhã e em outras coisas menos inocentes.
Não peçam a esse jovem interesse pelo estudo; não peçam a essa jovem afeição pelas coisas de casa; só pensa em viver a vida, em pôr em prática a lei do prazer. O prazer, convertido em norma de vida, causa ainda maiores estragos na inteligência.
Os psiquiatras dir-vos-ão que o maior contingente de crianças anormais o dão as crianças mimadas, as crianças que nunca foram contrariadas nos seus caprichos.
Dir-vos-ão, que os frutos da intemperança são, entre muitas outras misérias: a debilidade mental e mesmo a demência paralítica, essa horrível paralisia geral das faculdades mentais, que vem a ser como que um aglomerado de todas as decadências.
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