16 de novembro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Vestido da Virgem Santíssima


Parte 2/5

Como vestiria a Virgem Santíssima?
Nas suas ações nada houve de desordenado; não o houve portanto no seu modo de vestir.
Ora bem; a ordem no modo de vestir, pede que se cumpram os fins que Deus assinalou ao vestido.
Não cumprir esses fins seria desordenado. Que fim são esses? Defender o corpo contra as inclemências do tempo. E sobretudo cobrir: cobrir tudo aquilo que possa excitar as paixões.
Que seja este o fim principal do vestuário,  deduz-se da conduta de Deus com os primeiros homens.
Enquanto Adão e Eva tiveram as paixões tranquilas, submetidas à razão, não precisaram de vestido.
No momento em que pecaram, eles mesmos sentiram a necessidade de se vestirem. Abriram-se os olhos de ambos, diz a Escritura, compreenderam que estavam nus; teceram folhas de árvore e fizeram um vestido. Aquele vestido era insuficiente e imperfeito, por isso o próprio Deus, depois de lançar contra eles o castigo, fez uma túnica de pele e deu-lhas para que se vestissem com elas.
A vontade de Deus é clara: quer que o vestido seja principalmente para cobrir, e a Virgem Santíssima ordenadíssima em tudo, deu aos seus vestidos a finalidade que Deus lhes deu. Por isso foi a mais modesta de todas as mulheres.
Se as mulheres tivessem em conta esta disposição de Deus, procederiam de outra maneira.
Quando uma mulher está a fazer um vestido, quando o está a provar, pensa que esse vestido quer Deus que seja para cobrir tudo o que possa excitar paixões ou pensa tudo ao contrário?
Tem em conta que o outro fim principal do vestido é abrigar?
De ordinário pensa que o fim principal é agradar com ele. Contanto que consiga isto, o mais é secundário e aguentará o frio ainda que daí venham graves prejuízos para a saúde. Depois de cumprir estes fins impostos por Deus ao vestuário, a Virgem Santíssima acomodou-se aos costumes da época e da região.
Digo "depois de cumprir os fins impostos por Deus", porque esses fins hão de ficar sempre de pé, em todas as épocas e em todas as regiões e contra eles jamais deve prevalecer o costume da região.
Em todas as épocas e em todas as regiões os homens têm paixões, têm concupiscência; e sempre e em todas as regiões o nu é o que mais excita as paixões. Por isso, sempre e em todas as regiões o vestido deve empregar-se para cobrir.
Fala-se de climas e de temperamentos frios e alega-se isto, como razão para tolerar neles um nudismo maior. Quando a experiência provar que nessas regiões onde vivem esses temperamentos frios, os homens, no meio do nudismo, são exemplos de pureza, dever-se-á pensar se  se lhes deve tolerar maior liberdade no vestuário; mas se a experiência prova o contrário, se diz que nessas regiões reina a corrupção mais espantosa, então que não falem de temperamentos frios nem de liberdades de vestir.
Sempre deve ficar a salvo este princípio: o fim do vestuário é cobrir o que excita a paixão, e cumprido isto, poder-se-á acomodar aos costumes da região e da época, como fez a Santíssima Virgem.
Acostumados a olhar para os quadros e estátuas, fruto de imaginação dos artistas, facilmente  colocamos a Virgem Santíssima num mundo irreal, diferente daquele em que viveu.
Não situemos a Virgem Santíssima num mundo imaginário; viveu na sociedade palestinense de há vinte séculos e vestiu-se como as mulheres galileias de então, posto que a mais modesta de todas.
Vede-a caminhar pelas ruas de Nazaré. O seu porte é nobre, corre nas suas veias sangue de reis. O seu andar é comedido, reflete o domínio que tem sobre si mesma. Veste uma túnica comprida de cores vistosas, adornada com bainhas e bordados, tudo obra sua, pois aprendeu a bordar no templo de Jerusalém e tem mãos primorosas para isso. Essa túnica é tão comprida que apenas deixa entrever os pés calçados com sandálias. A túnica está cingida com uma faixa. A cabeça vai toucada com uma mantilha que lhe cai sobre os ombros. O rosto podia levá-lo coberto com um véu transparente, segundo o costume oriental; e podia levá-lo descoberto; pois o costume de velá-lo não era frequente nas povoações pequenas.
Aqueles vestidos são feitos e tecidos por suas próprias mãos; pois era uma obrigação e ao mesmo tempo uma glória das mulheres hebreias, mesmo as mais nobres, fazerem os próprios vestidos e os de todos os da sua casa. E ao fazer aqueles vestidos, a alma da Virgem Santíssima punha neles algo de si mesma. O equilíbrio, o bom gosto da alma davam-lhes elegância. O seu espírito de austeridade punha moderação nos adornos. 
A sua rara pureza comunicava-lhes modéstia. Não digais que os costumes da época impediam a Virgem Santíssima de pôr luxo e imodéstia nos seus vestidos. 
Como hoje chega até as nossas povoações o influxo da moda de Paris e dos Estados Unidos, as modas da Grécia e sobretudo da Itália, chegavam até as povoações afastadas da Palestina, e pretendiam harmonizar-se com as velhas tradições judias.
Pelas ruas palestinenses a Virgem Santíssima pode ver muitas vezes senhoras vestidas com luxo, que vestiam trajes ricamente bordados, senhoras e jovens que levavam o cabelo pintado e adornado com jóias e lantejoulas de metais mais ou menos preciosos. Muitas delas levavam no calçado umas ampolazinhas de essência que, agitando-se ao andar, exalavam um delicioso perfume.
À porta da casa da virgem Santíssima deviam chegar muitas vezes os vendedores ambulantes apregoando a sua mercadoria de adornos femininos e perfumes de Jericó.
Foi contemporânea da Virgem Santíssima aquela bailarina Salomé, que na corte de Herodes, rei de Galileia, exibia os bailados e os vestidos provocantes importados da capital do império, e com a sua imodéstia e sensualidade inflamava as paixões do rei, até conseguir dele que mandasse cortar a cabeça de João Batista.
O impudor e a imodéstia são plantas que se dão em todos os climas e em todas as idades.
A Virgem Santíssima era modestíssima, porque a sua alma lho exigia, porque a modéstia é uma planta que brota espontaneamente nas almas puras, e Maria foi a mais pura de todas as almas.


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