Dentro da vida secular cabe o estado de virgindade, de viuvez ou de matrimônio. Aquele que vive no mundo no estado de virgindade ou viuvez, pode organizar sua vida espiritual, de modo muito semelhante à vida religiosa. Aquele que vive em atual matrimônio, pode também santificar esse estado. Pode-se desviar dos perigos do mundo com uma vida sóbria e retirada até um certo ponto, dentro de cada ofício. Muitos sacerdotes e religiosos devem ocupar também a maior parte do dia em assuntos meramente temporais, para cumprir o ofício de ensinar, governar, administrar o que lhes foi confiado. Focando com grande retidão de intenção todas suas atividades profissionais, o casado tem a oportunidade de desenvolver muitas virtudes e adquirir grandes méritos. É possível ao fiel leigo, com um  pouco de ordem e organização, a prática da meditação, do exame de consciência, da leitura piedosa, a frequência aos sacramentos e os demais atos de piedade que engrandecem os ideais, purificam os juízos que fazemos e nos aproximam de Deus. As mesmas comodidades e alegrias materiais anexas ao matrimônio já têm o contrapeso de outras pesadas cruzes que não têm os que conservam a virgindade; com o matrimônio se evita que uma entrega excessiva à alegria material (legítima em si) não alimente demasiadamente o egoísmo e enfraqueça a percepção ao que é espiritual, tão necessária a quem aspira à perfeição ascética.
Enfim, sempre cabe o  ideal apostólico, em maior ou menos escala, dentro do matrimônio: a educação dos filhos, a caridade para com os pobres e doentes, a catequese, a ajuda ao culto divino, a cooperação ao labor apostólico de algumas associações católicas, etc., abrem amplos panoramas. Não tem faltado, nos tempos atuais, casados que seguem o missionário em terrenos de missão viva, ajudando-o dentro de sua profissão de médico, de professor, de comerciante, de industrial.
Desgraçadamente se tem limitado a vida secular, e sobretudo o matrimônio, sobre um ponto de vista exclusivamente moral, dizendo que a Ascética nada tem de fazer no lar. São reminiscências daquela velha questão na qual se apresentava o matrimônio como algo tolerável, venialmente pecaminoso. O fato de que o estado de virgindade seja, em si, mais perfeito, não implica que o que vive casado não possa aspirar a perfeição.
As valiosas renúncias da virgindade podem ser compensadas com outros sacrifícios muito valiosos também, que são possíveis no matrimônio, se o casado aspira à perfeição. O casado terá maiores felicidades se ambos os esposos vão unidos nas mesmas aspirações elevadas; porém, ainda sem o comparecimento de um, o outro pode santificar-se intensamente.
Sobretudo quando a vida secular foi escolhida retamente, com sã intenção, com uma eleição de estado realizada com perfeita deliberação, ela está santificada em sua raiz e o processo de santificação seguirá mais logicamente.
Entretanto, ainda em um estado secular (que já não se pode mudar) escolhido de modo errado, sem reta intenção, o casado pode iniciar um caminho de purificação, de aperfeiçoamento, de santificação, como tantos pecadores o tomaram com êxito.
1. Piedade sólida
O católico empenhado em sua santificação deve ficar longe de contentar-se com a piedade mecânica da velha devota rezadora de rosários incontroladamente; de ficar satisfeito com algumas festividades, algumas imagens devotas ante as quais arde uma lamparina, umas medalhas penduradas no pescoço, de reduzir a vida espiritual a uns quantos usos piedosos exercitados ora em particular, ora em família. Deixem-se estas exterioridades para quem não pode ou não quer aspirar a mais. A santificação é um trabalho mais profundo das almas: é aproximar-se de Deus com a mente e com o coração; criar em si mesmo uma vida sobrenatural e abundante; é aperfeiçoar sempre mais a intenção e as obras; é purificar cada vez mais a alma de toda desordem; é fecundar nossas ocupações ordinárias com elevadas intenções.
Para conseguir uma santificação sólida e profunda, é necessário ter presente que a graça divina é protagonista de toda santificação. O que fazemos é apenas não atrapalhar a ação divina dentro de nossas almas. É preciso, pois, por-se em contato com as fontes da graça santificante, que é o caminho ordinário com o qual Deus intervém nessa obra de arte, que é a santidade.
Os sacramentos são uma fonte segura da graça divina, que realizam sempre algo ex opere operato, em virtude do mesmo sacramento, quando se recebem com as essenciais disposições. Se o católico se aproxima do sacramento não somente com as disposições essenciais, mas com disposições excelentes, o fruto em graça divina é muito superior. Daí a necessidade de frequentar a Confissão e a Eucaristia o máximo possível. As boas obras, o cumprimento das obrigações, e aumentar outras ocasiões não obrigatórias de boas obras, se são feitas com reta intenção, são obras meritórias que aumentam a graça. Finalmente, a oração sincera, fervorosa e frequente, pedindo graça ao Senhor em diferentes ocasiões da vida, em especial ao empreender obras, na hora da tentação e nas circunstâncias mais difíceis, leva Deus a intervir com mais eficácia.
O católico deve olhar esta obra sobrenatural de ir acumulando um capital divino cada vez mais rico em graça, ao menos com a mesma solicitude com que vai reunindo suas posses, seus salários e o rendimento de seus negócios temporais. E é lógico que, dado o valor deste capital eterno, é necessário colocar maior atenção nele do que em qualquer outro negócio humano.
Junto a estas grandes energias com que há de procurar vivificar a vontade, é indispensável que o católico seleto favoreça em seu entendimento um ambiente propício. Deve fomentar nele nobres ideais, firmes convicções religiosas, critérios retos, diretrizes luminosas, objetivos claros e metas elevadas. As capacidades volitivas costumam seguir o caminho que as capacidades intelectuais lhes traçaram. Os grandes pensamentos se concretizam, ao longo do tempo, em grandes ações.
Para conseguir este grande ambiente mental, o católico deve nutrir-se diariamente com as ideias que nos foram reveladas por Cristo e nos propõe a Igreja. A Sagrada Escritura, a documentação oficial da Igreja em seus ensinamentos ordinários e extraordinários, as melhores obras dos varões santos e prudentes, aprovadas por legítima autoridade, nos oferecem grandes provisões de alimentação realmente nutritiva. Por meio da meditação e de leituras frequentes, essas ideias sagradas vão fazendo-se pensamento próprio na mente do cristão.
Esta alimentação habitual da mente é mais necessária ao leigo do que ao religioso, o qual ordinariamente respira critérios menos corrompidos dentro do claustro. O secular, no meio do mundo, é forçado a ouvir tantos absurdos, tantas desorientações, tantos critérios materialistas e ver tantos maus exemplos, que necessita com muito mais urgência de uma constante desinfecção mental. E ainda que possa encontrá-la, em parte, nos círculos de boas amizades, entretanto, as palavras humanas nunca terão, por cheias que sejam de boa vontade, a eficácia purificante da palavra divina, que é semente, fermento, e remédio poderoso.