15 de agosto de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

A Alma da Virgem Santíssima


Parte 6/7

Muitos homens passam pela terra e saem deste mundo sem nunca terem recebido este precioso dom de Deus: a graça santificante.
Todos os que morrem sem o batismo. Pobrezinhos! Essas almas não poderão entrar jamais no céu, nunca poderão ver a Deus.
Nós estivemos sem essa graça santificante uns meses, não a recebemos no primeiro momento da nossa existência como a Santíssima Virgem.
Porém apenas nascemos, as águas do batismo regaram a nossa fronte e Deus depositou na nossa alma este tesouro.
Agradeçamos a Deus o imenso favor de havermos nascido num país cristão.
Compadeçamo-nos dos pobres infiéis destinados a viverem sem esta luz divina na alma, se algum missionário não chega a tempo de a iluminar.
Agradeçamos esta dádiva de Deus e estimemo-la.
Estimemo-la como os santos, que todos os sacrifícios julgaram pequenos para por esse meio conservarem e aumentarem na sua alma a graça santificante: o sacrifício dos prazeres, das diversões, o sacrifício do lar e dos pais, o sacrifício dos bens, o sacrifício da pátria, o sacrifício da saúde e da vida. Todos estes sacrifícios os fizeram: as virgens, os apóstolos, os mártires.
Estimemos a graça como Jesus Cristo a estimou. Queria comprá-la para os homens e deu para isso os seus trabalhos, o seu sangue e a sua vida.
Estimemo-la como o próprio Deus que não encontrou na criação um dom mais precioso para enriquecer sua Mãe.
Estimemo-la pelo que vale em si mesma e pela nobreza que nos comunica.
Ele torna-nos filhos de Deus; com ela temos direito de levantar ao céu a fronte e chamar a Deus - Pai.
Este deve ser o nosso titulo de glória.
Os títulos da terra, por muito nobres que sejam, são títulos vãos, incapazes de nos fazerem dignos de que Deus nos olhe. São títulos caducos, pois a morte apressa-se a quebrá-los e a faze-los desaparecer. Por isso desprezaram-nos alguns santos como S. Luís Gonzaga e São Francisco de Borja.
A tua verdadeira grandeza não é ter nascido de uma família de elevada posição social; é ter sido feito filho de Deus pela graça santificante. A tua verdadeira desgraça não será mendigar o pão de porta em porta; será perder a graça santificante. Se estimamos esta grandeza de filhos de Deus, não a rebaixemos, não a calquemos.
Quando um jovem, filho de pais nobilíssimos, se torna um perdido, infama o nome da família, arrasta pelo chão a sua nobreza.
Se somos filhos de Deus, procedamos como filhos de Deus; não inferiorizemos a nossa dignidade. Como é vergonhoso que um filho de Deus se deixe arrastar pelas paixões e pelos vícios!
Quando te assaltar a tentação, que te assalte também este pensamento: sou filho de Deus, não quero rebaixar-me. Se aprecias a graça santificante, não a vendas ao desbarato. Não a devemos vender por nada deste mundo.
O demônio se pudesse, dar-nos-ia o mundo inteiro para que lha entregássemos. Ofereceu-o a Jesus Cristo: " Haec omnia tibi dabo".
Dar-te-ei todos os reinos da terra. Nem por esse preço deveríamos entregar a graça santificante; porque seria entregar a alma, renunciar ao céu. Que loucura seria vendê-la!
Porém o que não tem nome é vendê-la ao desbarato, é vendê-la por uns nadas, como faz a maioria dos cristãos. Por que coisas trocam a graça santificante?
Dizem na bilheteira do cinema: dê-me uma entrada para essa película vermelha e entrego-lhe a graça santificante da minha alma. 
Dizem ao livreiro: dê-me essa novela verde e entrego-lhe a graça santificante.
Dizem a uma companheira: conversemos sobre qualquer assunto desonesto e dou-te a graça santificante.
Dizem a um companheiro: dá-me uma entrada para o baile e entrego-te a graça santificante.
E às vezes nem pedem um prazer real, contentam-se com um prazer imaginário: dá-me um pensamento desonesto e entrego-te a graça santificante.
Que maus negociantes são os cristãos! Que barato vendem o que tanto vale! Se fossem bons negociantes, em vez de venderem a graça que possuem, procurariam aumentá-la.
Também a nós nos diz Deus quando nos entrega este tesouro do céu no batismo: " Negocia com ele até que eu venha exigir-te contas depois da morte ".
E os bons cristãos não o têm ocioso.

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