16 de maio de 2018

Sermão para o 3º Domingo depois da Páscoa – Padre Daniel Pinheiro, IBP

[Sermão] A piedade para com a pátria


“Sejais submissos a toda autoridade humana por causa de Deus.”
Caros católicos, na Coleta de hoje – oração que precede a Epístola – nós pedimos a Deus para que possamos repudiar tudo o que se opõe ao nome cristão, e pedimos que possamos seguir tudo o que é conforme ao nome cristão. Entre as coisas que são conformes ao nome cristão, está a virtude da piedade. Não tratamos aqui, porém, da piedade em seus sentidos mais comuns, como sinônimo de devoção, compaixão ou misericórdia, mas tratamos aqui da piedade em seu sentido mais estrito, que é a piedade para com os pais e a pátria.
A virtude da piedade propriamente dita é, então, aquela que nos inclina a dar aos pais, à pátria e a todos os que se relacionam com eles a honra e o serviço que lhes são devidos. A justiça nos diz que nos tornamos devedores daqueles que nos deram benefícios. Somos devedores, em primeiro lugar, de Deus, em razão de sua excelência e em razão de todos os bens inumeráveis que nos deu, a começar pelo nosso ser. Em segundo lugar, são os pais que nos dão o ser e nos governam. E, finalmente, a pátria, em que nascemos e que nos nutre. E por isso, depois de Deus, o homem é devedor sobretudo dos pais e da pátria, nos diz São Tomás. A primeira dívida, que é para com Deus, paga-se com a prática da virtude da religião, pela qual damos a Deus o culto que lhe é devido, em união com Cristo. A segunda e terceira dívidas, devidas aos pais e à pátria, são pagas com a prática da virtude da piedade. Vemos, então, que a virtude da piedade está em estreita relação com o quarto mandamento: honrar pai e mãe. Como sabemos, o quarto mandamento não se resume ao pai e à mãe, mas diz respeito a todos os superiores na ordem familiar, civil e eclesiástica. E esse mandamento indica os deveres dos inferiores para com os superiores e também dos superiores para com os inferiores.
O que nos interessa, porém, hoje é a virtude da piedade que diz respeito à pátria, aproveitando a ocasião desse 22 de abril, data considerada do descobrimento do Brasil. Se somos católicos, buscando, assim, imitar Cristo, e praticar aquilo que é conforme ao nome cristão, devemos ter e praticar a virtude da piedade para com nossa pátria porque ela também é princípio de nosso ser, de nossa educação e ela nos governa. A pátria faz isso enquanto proporciona aos pais – e por meio deles aos filhos – grande quantidade de coisas necessárias e convenientes para o nosso ser, de tal forma que, sem a pátria, não poderíamos ter tantos bens que temos. Devemos praticar a virtude da piedade para com nossa pátria como o fez Nosso Senhor Jesus Cristo em seu tempo e em sua pátria, obedecendo a ela em tudo o que é bom e socorrendo-a em suas dificuldades, sobretudo, se assim podemos dizer, as espirituais. Devemos praticar a virtude da piedade obedecendo às leis justas do país e resistindo, serena e firmemente, àquelas que se opõem à lei de Deus, pois é preciso obedecer antes a Deus do que aos homens. Devemos fazer tudo o que nos manda a autoridade civil, a não ser que mande algo contra a fé, contra a moral, contra a lei natural, contra o bem comum. Cumprir uma lei que é contra a lei de Deus é prejudicar a si mesmo, a sociedade, a pátria.
Devemos praticar a virtude da piedade buscando que nossa pátria reconheça a Verdade e se submeta a ela, para que nossa pátria possa, assim, ajudar seus filhos não só materialmente, mas também espiritualmente, favorecendo e facilitando o conhecimento daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida: Jesus Cristo. Para tanto, devemos rezar por nossa pátria, nos mortificar pelo bem de nossa pátria. Está dito na Sagrada Escritura que o clamor de Israel foi ouvido por Deus. Para tanto, o povo de Israel rezava e fazia penitência. Se rezarmos e fizermos penitência, Deus poderá, então, ouvir nosso clamor. Para ajudar nossa pátria, devemos também agir dentro de nossas possibilidades, começando pela nossa conversão e pela nossa família.
É muito comum reclamarmos de nossa pátria e, ao mesmo tempo, fazermos pouco ou nada por ela. Devemos rezar e agir, mas agir de modo ordenado e sempre segundo os princípios católicos, fazendo isso pelo bem de nosso país. Muitos ainda se iludem querendo ajudar a pátria pela política em primeiro lugar e não pela religião. E assim vão se associando a pessoas ou a grupos contrários aos princípios católicos, vão aderindo a erros sob o pretexto de combater erros maiores. Que ilusão. Na prática por exemplo, vemos católicos se associando a grupos maçônicos para combater o comunismo, como se o comunismo fosse erro maior a ser combatido por esse erro menor. Na verdade, o erro maior aqui são os princípios maçônicos e foi nas lojas maçônicas que foi originado o comunismo/socialismo. Não se pode aderir a um erro, ainda que menor, para combater outro maior. Nesse caso, o erro triunfará sempre. Como os Papas sempre ensinaram, não é pela ação política, mas pelo Evangelho que ajudaremos nossa pátria. Pio XI, na Encíclica Divini Redemptoris dizia: “Como em todos os períodos mais tormentosos da história da Igreja, assim hoje também o remédio fundamental é uma sincera renovação da vida privada e pública, segundo os princípios do Evangelho.” São Pio X dizia na Notre Charge Apostolique: “a reforma da civilização é uma refor religiosa em primeiro lugar, pois não há verdadeira civilização sem civilização moral e não há civilização moral sem a verdadeira religião.” São Pio X diz que isso é uma verdade demonstrada, um fato da história. E o Papa João Paulo II na Centesimus annus diz que “é preciso repetir que não existe verdadeira solução para a «questão social» fora do Evangelho.”
Devemos, ainda, rezar pelos nossos governantes, para que sigam a lei de Deus, para que governem em vista do bem comum, que não pode simplesmente fazer abstração da verdadeira religião. E devemos ter em mente que temos os governantes que merecemos. Para mudar para melhor, temos que rezar muito e procurar a nossa conversão a Deus.
Com isso, ajudaremos nossa pátria sem cair no excesso de endeusá-la, com um nacionalismo descabido, e sem cair no defeito de rejeitar nossa pátria e dizer como os pagãos: minha pátria é onde me sinto bem. Não, caros católicos! Temos verdadeiro dever de justiça para com a nossa pátria, apesar de seus defeitos. Dever de justiça, de piedade. A pátria é princípio de nosso ser. Devemos procurar que ela o seja não só materialmente, mas também em ordem mais elevada, nos ajudando a conhecer a verdade e a praticar o bem.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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