12 de abril de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora Rainha


Parte 4/7

Admitida a morte da Virgem Santíssima, o privilégio da sua Assunção aos céus pressupõe uma ressurreição antecipada.
Quanto tempo esteve o corpo de Maria no sepulcro? Nada de certo podemos afirmar. Mas dizem que ressuscitou no quadragésimo dia, outros que ao terceiro dia como seu Filho, outros que no mesmo dia do seu enterro.
O certo é que Jesus Cristo apressou a ressurreição da sua Santíssima Mãe e as causas temos que as buscar na mesma razão da sua incorrupção. A sua pureza virginal pedia uma ressurreição antecipada.
Muito graficamente compara-se o corpo sepultado com a semente enterrada na terra. A semente por  influência do sol germina e brota para o exterior. O corpo sepultado pela influência do sol divino, Jesus Cristo, sairá glorioso do sepulcro. Porém há sementes mais ou menos sensíveis à influência do sol, que brotam com mais ou menos rapidez. Algo semelhante acontece com os corpos. O corpo da Virgem Santíssima é o mais bem preparado para receber a influência do sol divino, Jesus Cristo, por ser um corpo virginal, e não só virginal, mas livre de todo o pecado, e ainda das raízes do pecado; livre da concupiscência; por isso tinha de ressuscitar antes do corpo dos outros homens, apenas sepultado, e sem sofrer a incorrupção.
A ressurreição antecipada da Virgem Santíssima pedi-a também a sua dignidade de Mãe de Deus.
Um bom filho, se pudesse, não se contentaria com ter junto de si o corpo de sua Mãe morto, tê-lo-ia vivo. Por isso faz todo o possível para que sua mãe não morra e gasta tudo o que pode em médicos e em remédios para deter a morte. Maria é a Mãe de Deus. Seu Filho é o melhor de todos os filhos, quer-lhe como nenhum filho quis a sua mãe. E esse filho pode fazer com que sua Mãe esteja viva em corpo e alma no céu, para viver sempre em sua companhia. O coração de Jesus batia com impaciência santa por levar quanto antes o corpo de sua Mãe ao céu. Podia fazê-lo e fê-lo. A ressurreição antecipada tem íntima união com o dogma da Conceição Imaculada da Virgem Santíssima. Ela não contraiu o pecado original. Se não contraiu a dívida, não devia sofrer o castigo. Somente devia sofrer o que pedia a sua missão de Corredentora e que não repugnava à sua dignidade de Mãe de Deus. Esta missão pedia o sofrimento e a morte, e isso teve.
Assim remiu Jesus Cristo o mundo. Assim tinha ela de o corredimir. Outras consequências do pecado original não tinham finalidade alguma no seu papel de Corredentora, e não eram dignas da Mãe de Deus; por conseguinte não devia padecê-las. Entre essas consequências estavam a corrupção do corpo e a permanência por muito tempo do corpo no sepulcro.
A presença desse corpo glorioso, reclamavam-na também os moradores de céu.
A terra não era relicário digno dele. Se tivesse ficado na terra, certamente que seria a relíquia mais preciosa do mundo. Estaria no relicário mais rico, e esse relicário estaria sempre aberto para que pudesse ser visto continuamente. E todos os crentes do mundo iriam em peregrinação contemplá-lo.
Se agora se organizam peregrinações a regiões remotíssimas para visitar o sítio onde apareceu a Virgem Santíssima em Lourdes, e em Fátima, quem poderá imaginar as peregrinaçoes que se organizariam para ver o corpo formosíssimo e incorrupto da Mãe de Deus? Grande prêmio seria esse; porém pequeno para o que merecia. Se Jesus Cristo tivesse permitido isso, diríamos que se tinha dado no céu como que uma revolução. Todos os anjos e todos os santos se apresentariam a Jesus Cristo e lhe diriam:
- " Senhor, como permitis que o corpo da nossa Rainha esteja inerte lá no desterro e não venha ocupar aqui o trono que lhe tendes preparado? Fizeste-a nossa Rainha, e não quereis que contemplemos mais que a sua alma? Os filhos ingratos da terra hão de ser preferidos a nós? Não é aquele relicário, ainda que riquíssimo, o trono que merece aquele corpo virginal. Não são aqueles cânticos, ainda que ardentes, os que devem escutar aqueles ouvidos sempre abertos à voz de Deus. Que culpa cometeram aqueles olhos puríssimos feitos para contemplar-vos a Vós, que não se macularam com nenhuma imagem pecadora; que culpa cometeram para estarem ali na terra apagados e sem vida? Porque esses dois sois não vêm iluminar e alegrar a nossa morada? Que culpa cometeram aqueles ouvidos sempre fechados ao pecado e atentos unicamente à voz de Deus, que culpa cometeram para que estejam insensíveis e se vejam privados dos louvores e dos cânticos que ouviram de nós aqui no Céu? Que culpa cometeu aquele coração, que não albergou jamais um afeto impuro, que foi um vulcão de amor de Deus, para que esteja na terra inerte, sem palpitar de amor? Não desejais amor? Porque tendes sem vida esse coração que vos amaria mais e mais puramente que todos os moradores do céu? Pela honra de vossa Santíssima Mãe, pelo desejo que nós temos, trazei quanto antes o corpo dessa Mãe vossa e nossa para o céu. Que venha quanto antes receber o prêmio que mereceu."
Tudo isto e muito mais diriam os habitantes do céu a Jesus Cristo.
Porém não necessitava que lho dissessem. Ele amava sua mãe incomparavelmente mais do que todos os anjos e santos, tinha maior desejo que todos eles de a ter a seu lado e levou-a consigo e glorificou aquele corpo puríssimo como merecia.

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