RETRATOS DE NOSSA SENHORA.
Nossa Senhora Rainha
Parte 7/7
Que dia de gozo lhe deram no dia em que foi proclamado dogma de fé o privilégio da sua Assunção aos céus! O triunfo do céu tinha de ter repercussão na terra.
Provavelmente não se terá celebrado na Igreja solenidade tão grandiosa como nesse dia. Os meios rapidíssimos de comunicação modernos permitiam ir a Roma um tal número de peregrinos que as gerações passadas não o poderiam suspeitar. E mais ainda, as cerimônias do Vaticano não assistiam só os que se achavam em Roma; por meio da rádio assistiram quase todos os católicos do mundo, e em algumas regiões os atos puderam ser vistos a distância, graças a televisão. Para assistir a solenidade, aguentaram-se incômodos, que por nenhum outro motivo se sofreriam, algumas pessoas passaram a noite estendidas no chão da praça de São Pedro. As primeiras horas da manhã como um rio que transborda, desembocam na gigantesca praça que estende os dois braços enormes de colunatas como um abraço de amor que o Papa quisesse dar aos seus filhos; e penetram na basílica imensa que até então ninguém jamais suspeitava fosse pequena, e a multidão estende-se também pela praça imensa; o povo continua afluindo e os peregrinos tem que estender-se ao longo da esplêndida avenida que tem por fundo a fachada do Vaticano. Quem os poderia contar? Milhares e milhares de todas as raças, de todas as nações, de todas as línguas; amigos e inimigos que ali só pensam que são católicos, que são da mesma família, que aquela é a casa de todos e que o pai de todos é o Papa. Enquanto na terra milhares de seres humanos se agrupam emocionados, fora de si, esquecidos de si mesmos, no céu tem lugar outra cena mais grandiosa. Todos os anjos e todos os santos poderíamos dizer que naqueles momentos desviam os olhos do trono da divindade para dirigi-los ao trono da Rainha dos céus. Mais ainda, a própria Santíssima Trindade, parece que se esquece de si mesma para festejar a Esposa, a Mãe, a Filha de Deus.
A expectativa que se sente em Roma para ver o Papa é indescritível. É a esperança que aqueles milhares de almas abrigaram toda a sua vida, ver o Papa. Esperam-no como qualquer coisa de sobrenatural, de divino, que viesse do céu. E a expectativa não fica defraudada. Desfilam os 40 abades, os 589 bispos, os 40 cardeais com as suas vestes mais vistosas, com as suas mitras brancas que se movem no ar como bandos de pombas. Espetáculo grandioso; porém não é isto o que a multidão espera; o que em outro lugar seria arrebatador, aqui apenas interessa. O que espera é a chegada do Papa. Os corações batem com violência. As gigantescas lâmpadas da basílica, as centenas de luzes que pendem das colunas e dos arcos do templo iluminam-se; as estátuas dos apóstolos e dos santos parece que tomam movimento e vida. Os doutores da Igreja que sustêm a cátedra de São Pedro parece que se põem em movimento, e avançam ao encontro do Vigário de Cristo; e os inumeráveis e belíssimos anjos que sustêm a tiara pontifícia e volteiam no ar, parecem adiantar-se para colocarem aquela tiara sobre a fronte do sucessor de São Pedro.
Pela magnífica porta de bronze começa a aparecer o vistoso acompanhamento pontifício, a família vaticana com os seus vistosos uniformes. O Papa aproxima-se e todos os olhares se fixam na porta. Divisaram-no. O entusiasmo trasborda e é indescritível; aplausos, vivas, mãos que se agitam no ar. Os sinos repicam festivos. As trombetas pontifícias soam do alto do templo. O coro canta com entusiasmo as palavras eternas de Jesus Cristo escritas com letras de ouro sobre o sepulcro de Pedro; Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. E no meio desta apoteose aparece o Papa na sua cadeira gestatória coberta de vermelho, que parece tingida om o sangue de todos os mártires e de todos os perseguidos em 20 séculos de contínua luta; sangue das veias e sangue do coração; e sobre aquele trono de sangue, a figura branquíssima do Papa, como um anjo que tivesse descido do céu; como se o próprio Jesus aparecesse na terra. A figura impressionante de S. S. Pio XII. Entrada indescritível que só poderá comparar-se com a entrada de Jesus Cristo no dia do juízo final com as suas vestes brancas como a neve e sentado nas nuvens do céu. O momento solene aproxima-se . O Papa senta-se debaixo da cátedra de São Pedro sustentada pelos doutores da Igreja. Sobre ela a branca pomba do Espírito Santo no seu vitral radiante de luz, coroada por multidões de anjos. À volta do Papa sentados em sendos escabelos, os 40 cardeais, os 589 bispos, os 40 abades - a coroa do Vigário de Cristo na terra. Nunca foi tão numerosa como neste dia. E em espírito estão todos os milhões de católicos. O mundo em volta do Papa, com os olhos fixos no Papa.
No céu todos em volta do trono da Virgem Maria com os olhos fixos n'Ela. Aproxima-se o momento solene. A Igreja inteira roga ao Pontífice Romano que declare dogma de fé o privilégio da Assunção de Nossa Senhora ao Céu. Pedem-lho as gerações católicas de 20 séculos. Pede-lho de uma maneira especial a geração presente: 4.500 bispos, 49 Superiores Gerais em nome de 700.000 religiosos. Pedem-lho 12 milhões de congregados marianos de todo o mundo. Pedem-lho as faculdades teológicas de todas as Universidades. Ante esse pedido universal o Pontífice Romano convida a todos para que rezem e peçam a assistência do Espírito Santo. E ele ajoelha-se para orar. Os milhares e milhares de almas esquecem o seu próprio idioma e na língua da fraternidade cristã, em latim, entoam o "Veni, Sancte Spiritus". Uma torrente de súplicas dirige-se ao céu, ao Espírito Santo. E as súplicas dos homens da terra unem-se as dos santos e dos anjos do Céu. Todos se dirigem ao Espírito Santo e pedem-lhe:
"Desce à terra, ilumina a mente e move o coração do Vigário de Jesus Cristo, ilumina-o para que contemple com toda a clareza o que nós estamos contemplando: a nossa Rainha em corpo e alma cheia de glória nos céus".
O Vigário de Cristo reza de joelhos. A pomba branca da glória de Bermini ilumina-se de resplendores do céu e esses resplendores descem à cátedra de São Pedro e dessa cátedra infalível descem ao Pontífice Romano; e o Papa, numa visão sobre humana, contempla a cena do céu: a Virgem Santíssima em corpo e alma sentada no seu trono de glória recebendo a homenagem dos anjos e dos santos. O Papa levanta-se. Dirige-se aos fiéis do mundo inteiro e com voz trêmula pela emoção declara solenemente:
- "A Imaculada Mãe de Deus, sempre Virgem Maria, terminado o curso da sua vida terrena, foi assumida, trasladada em corpo e alma ao Céu".
Os sinos do Vaticano tocam gloriosos e festivos, os seus ecos difundem-se por todo o mundo e respondem os sinos das catedrais, os ecos destes transmitem-se a todos os campanários até as povoações mais pequenas, até as missões dos infiéis; e o sino do missionário, alegre como nunca, faz vibrar a estrutura débil da sua igreja, e as estátuas e imagens de Nossa Senhora na sua Assunção ao céu parece que palpitam de vida; e as cinzas de todos os defensores do mistério estremecem de júbilo nas suas sepulturas.
A alegria da terra repercute-se no céu. Os anjos e os santos e a Santíssima Trindade prestam homenagem incomparavelmente mais gloriosa à sua Rainha e entoam-lhe um hino que os ouvidos humanos não podem suspeitar e que reproduz a cena de há 20 séculos, o dia em que a Virgem Maria entrou nos céus e foi coroada como Rainha da glória. A Virgem humilíssima recebe aquela homenagem do céu e da terra, dirige os seus olhos para Deus e entoa de novo o "Magnificat":
- "Engrandece, alma minha, ao Senhor. Porque se lembrou da pequenez da sua serva. Obrou em mim grandes coisas o que é Todo Poderoso. Por isso todas as gerações me chamarão bem aventurada".
Nós, os católicos, temos um novo dogma de fé para crer.
Creio que o corpo da minha Mãe não esta na terra, pois não é sitio digno dele. Creio que esse corpo virginal e imaculado vive glorioso no céu. Creio que esta ali aquele corpo que segurou em seus braços o Filho de Deus feito menino, aqueles pés que se enterraram na areia do deserto, aqueles olhos que choraram no Calvário, aquela língua que pronunciou o "Fiat"da encarnação, aquele coração que sofreu um martírio cruel e me amou e continua amando ainda. Creio que esse corpo santo esta recebendo no céu o prêmio que merece. Creio e espero que algum dia a verei e que a minha fé se converterá em evidência. Creio e espero que um dia o meu corpo ressuscitará como o da Virgem Maria, e receberá uma glória semelhante.
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