28 de fevereiro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora Dona De Casa


Parte 2/4

Que faz nessa casa a santa família?
Passemos um dia na sua companhia. Muito cedo, apenas as luzes da aurora permitem distinguir o céu da terra, todos se levantam. O Menino Jesus talvez se levante primeiro e de joelhos sobre a esteira, que lhe serviu de cama, reza a seu Eterno Pai. Ao amanhecer o novo dia, renova o oferecimento que fez ao vir ao mundo: "Meu Pai, mais um dia que me concedeis para que com o meu exemplo, com o meu trabalho, com os meus sofrimentos, leve as almas ao céu. O meu alimento é fazer a tua vontade. "Ecce venio". Aqui me tens disposto." 
Depois São José ensina Jesus a recitar a profissão de fé, que duas vezes ao dia, de manhã e a noite, devia semi-entoar o pai de família com os seus filhos varões. Era um compêndio dos preceitos divinos e das promessas e ameaças vinculadas à observância da Lei. A esta profissão de fé, que deviam fazer só os varões, juntavam-se duas breves orações em que tomava parte Maria: "Bendito sejais, Senhor, nosso Deus, pai do mundo, que fizestes a luz, que dais a paz e criais todas as coisas, que iluminais a terra e os que nela moram".
"Bendito sejais, Senhor, nosso Deus, pela glória das obras das vossas mãos e pelos astros luminosos que fizestes para vosso louvor".
"Bendito seja o Senhor que fez a luz".
Que sublime louvor sobe ao céu, do coração e dos lábios daquela santa família! Ali palpita a divindade. Porque não hão de ser as famílias cristãs como as famílias hebreias? Ao pai compete a direção religiosa da família; porém abdicou este direito na mulher. Não a abandones tu também, mãe cristã. Reza com teus filhos as orações da manhã: o oferecimento das obras, a consagração à Virgem Santíssima, o "Angelus"; reza diante do Coração de Jesus entronizado no teu lar, diante da Virgem Maria vossa Padroeira.
A Sagrada Família passaria as horas em oração, se o trabalho não os reclamasse a todos. No lar hebreu, o primeiro cuidado da esposa era preparar o pão necessário para o dia.
Maria tira um pouco de trigo da ânfora de barro, pega no moinho de mão e sai com ele para o pátio quando o sol começa a iluminar o céu límpido e azul. O moinho são duas pedras redondas, com um eixo ao centro. A de baixo é fixa, a outra gira à volta do eixo. O ruído estridente das pedras ouve-se em todos os pátios da aldeia. 
O Menino Jesus ajuda sua mãe, deitando os grãos de trigo pela abertura que tem em torno do eixo. Maria faz girar a pedra superior. A farinha cai pelos lados das pedras. O Menino Jesus olha admirado e pensativo. Pensa que todas as manhãs ele se ocultará sob as espécies do pão, para ser alimento das almas. Moído o trigo, Maria pega no fermento, um bocado de massa, conservada do dia anterior, e com aquele fermento faz nova massa. Jesus observa e medita.
Mais tarde dirá na sua pregação: "O reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher tomou e misturou com três medidas de farinha, até que tudo fique fermentado".
Amassada a farinha, coze o pão ou no forno portátil ou sobre duas pedras quentes. É o pão de cada dia que Jesus Cristo manda pedir no Padre-Nosso. Depois de cozer o pão, a mulher nazarena devia ir buscar água a única fonte do povoado.
A Virgem com o cântaro à cabeça e seu filho pela mão vai buscar a água a fonte, que mais tarde terá o seu nome: a fonte da Virgem. As mulheres e as crianças agrupam-se a volta dela. A fonte do povoado foi sempre centro de notícias, comentários e murmurações. A Virgem Santíssima é afável, carinhosa; porém não participa nas conversas, nem gasta o tempo a falar, por isso a admiram e respeitam.
A senhora, a jovem que não murmure, que é delicada nas suas conversas, também infunde respeito quando se apresenta na sociedade.
Cumpridos estes deveres, Maria retira-se, vai para casa. Não tem criadas e, sozinha, tem que fazer os trabalhos domésticos.
Faz roupas para todos. Era um dever e uma honra para a mulher hebreia vestir todos os da casa. E fazer as roupas significava: fiar a lã e tecê-la. A túnica inconsútil de Jesus que sortearam os seus verdugos, foi tecida pelas mãos primorosas de Maria.
Também prepara a comida. Jesus, quando era pequeno, ajudava sua Mãe; depois trabalhava na oficina em companhia de José. Reúnem-se para comer. A refeição dos israelitas piedosos era cheia de orações: benzia-se a mesa e benzia-se cada um dos alimentos. Os manjares que se servem na casinha de Nazaré são muito bem preparados pela Virgem Santíssima, porém não são acepipes; apenas os que abundam na região: há peixe em abundância naqueles lagos; galinhas e ovos, ovelhas, frutas que se põem em conserva, mel dos campos. que conversas tão elevadas sustentam durante a refeição e a sobremesa.
 Os pais cristãos convertem a mesa em cátedra para instruírem os filhos. ali estão todos reunidos. Os sucessos do dia, as notícias dos jornais e da rádio dão matéria para formar o critério cristão dos filhos.
Terminada a refeição, a Virgem Santíssima limpa a louça.
Acostumados a vermos as imagens da Virgem Santíssima entre nuvens e anjos, não a imaginamos limpando os pratos e varrendo a casa. Mas foi isso o que fez quando vivia na terra, e foi a mais santa das mulheres e remiu o mundo juntamente com Jesus Cristo. As horas da tarde decorrem da mesma maneira que as da manhã: oração, trabalho; trabalho convertido em oração. Talvez cultivem uma hortazinha.
Não têm diversões? A diversão é o descanso do corpo e do espírito para recomeçar o trabalho; por isso é necessária a diversão. A Sagrada Família sai para o campo. Percorrem o vale onde vivem; vão pelo desfiladeiro a contemplar a vasta planície de Esdrelon. O Menino Jesus gosta muito do campo, é obra sua. A cidade é obra dos homens, o campo é obra de Deus. A imaginação de Jesus Cristo esta cheia de imagens campestres: os montes, os campos de trigo, as avezinhas e os lírios, o pastor que conduz as ovelhas, o lavrador que semeia o trigo. Na sua pregação, serão as comparações que empregará. Caminham pelo campo e falam do céu, de Deus, das belezas da criação. O campo é higiênico para o corpo e para a alma. Mais que os salões de ar abafado e viciado. Que o teu lugar de diversão seja o campo.
Ao anoitecer voltam para casa. São as horas mais felizes na casinha de Nazaré. Horas de intimidade no lar. Jesus, que aos discípulos rudes descobriu mistérios tão altos, o que diria aquelas duas almas tão santas, tão bem dispostas! Revelava-lhes os mistérios da divindade. Pegava no rolo das Escrituras, lia as profecias e explicava como se cumpririam nele.
 As horas correm velozes e nunca deveriam terminar. Estes gozos familiares desconhecem-nos a maioria das famílias modernas. Nestas horas propícias para a vida do lar, o espetáculo é desolador: casas vazias, famílias dispersas. Todos pelos salões de diversão. Não há vida de família; por isso as famílias desmoronam-se e com elas a sociedade. O terço em família, a leitura do Ano Cristão, as distrações simples entre parentes e amigos, são coisas que desaparecem com o tempo.
A Sagrada Família ceia, e começa a conversar depois da sobremesa. Termina o dia com as últimas orações, entre as quais esta a profissão de fé, de novo semi-entoada pelos varões; e pegando cada qual no seu colchão, tomam o merecido descanso.
Mãe, não deixes de rezar as orações da noite com os teus filhos. Que a tua figura rezando de joelhos ante o crucifixo ou a imagem da Virgem Santíssima, se grave bem na imaginação de teu filho. Correrão os anos. Esse menino inocente penetrará pelos caminhos da perdição. Voltará a casa depois de uma noite de pecado e reviverá na sua mente a tua imagem rezando com ele, e talvez, talvez curve a cabeça envergonhado da sua conduta, e caia de joelhos e reze o ato de contrição.
A vida de Maria em Nazaré é vida oculta, de trabalhos humildes, de desoladora monotonia; e não houve mulher mais santa nem mais feliz.
Se descobrisses a felicidade que se esconde na vida familiar! Se encontrasses em tua casa o segredo da santidade!

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