23 de fevereiro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora Virgem-Mãe


Parte 3/6

Maria perdeu seu filho, sem que houvesse da sua parte falta ou descuido.
A multidão que aqueles dias enchia Jerusalém era imensa.
Conta Josefo, famoso historiador judeu, que um ano sacrificaram-se no templo 256.500 cordeiros, e como o número de pessoas que se juntavam para comer cada cordeiro assado era mais de dez e menos de vinte, calcula que naquele ano se reuniram em Jerusalém uns três milhões de judeus para celebrarem a Páscoa.Os peregrinos da mesma povoação faziam a viagem juntos.
Para empreenderem o caminho da volta combinavam encontrar-se num sítio determinado. Marcavam um lugar onde deviam juntar-se todos para passarem a noite e dividiam-se em grupos com certa liberdade para fazerem a viagem.
Isto fizeram os nazarenos, e entre eles a Sagrada Família. Jesus juntou-se a um dos grupos. Seus pais viram-no sair e confiaram.
Tinham razões para isso; Jesus era senhor dos seus atos. Tinha sido educado num plano de responsabilidade e seus pais sabiam que tinha sempre correspondido à confiança que tinham feito nele. Não cometeram nenhuma imprudência deixando-o sair num dos grupos, embora eles não fossem nele. 
Ao sair da cidade, aproveitando a confusão do povo, Jesus afastou-se do grupo em que ia, sem que seus pais se apercebessem, e entrou de novo em Jerusalém. Ao escurecer, os grupos de nazarenos iam chegando ao sítio fixado para pernoitar. Maria e José esperam que Jesus venha em algum deles. Chega o último e Jesus não vem. Perderam seu filho.
Que sente Maria? A sua consciência está tranquila. Não houve descuido algum da sua parte. Porém a angústia oprime-lhe o coração. O que será feito de seu filho? Veio ao mundo para morrer pelos homens. Simeão profetizou-lhe coisas muito dolorosas. Herodes procura-o para lhe dar a morte poucos dias depois de ter nascido. Teria caído nas mãos dos seus inimigos? Tê-lo-iam matado?
Mães, vós compreendereis alguma coisa da dor da Santíssima Virgem.
Durante a noite não pode descansar. De manhã os santos esposos voltam para trás. Que horas tão compridas e tão amargas! - Procurávamos-te com o coração dorido!
E procurando-o dirigiram-se ao templo. Durante as festas pascais, os doutores da Lei, espalhados pelos átrios do templo explicavam ao público as Sagradas Escrituras. Cada doutor levantava a sua cátedra sobre um estrado e sentado fazia a explicação. A volta dele formando semicírculo colocavam-se os ouvintes. À frente, os meninos sentados no chão, atrás, os adultos, de pé. Terminada a explicação, os ouvintes propunham dificuldades.
Sentado Jesus entre os meninos num dos grupos, chegada a hora, começou a fazer perguntas ao doutor. Sobre que versavam aquelas perguntas? O Evangelho nada diz. A Sagrada Escritura toda ela gira em volta do Messias.
O tema que apaixonava os hebreus era a sua aparição, que esperavam de um momento para o outro, para que os livrasse do poder romano. É provável que as perguntas versassem sobre o Messias: sobre a data da sua aparição, sobre a natureza do reino messiânico, cuja natureza política e materialista, como a concebiam os doutores, não se conciliava com o que dizia a Escritura.
Aquele menino de doze anos demonstrava ter um conhecimento tão amplo e tão profundo dos Livros sagrados, que o doutor chamou aos outros doutores para que conhecessem aquele menino extraordinário. Vieram os doutores e com eles as pessoas que os escutavam. Mandaram sentar Jesus e começou uma discussão animada, na qual um menino de doze anos obscurecia a ciência daqueles sábios, que tinham envelhecido no estudo dos Livros Sagrados.
E os doutores sentiam satisfação, pensando que aquele menino, dedicado aos estudos sagrados seria um dos sábios que honraria a sua nação.
Assim encontraram a Jesus os seus pais. Quem compreendesse a sua dor de antes, compreenderia a sua alegria agora. Não os surpreendeu a sua ciência. Sabem que é a sabedoria de Deus.
alegram-se porque encontraram o seu filho que tinham perdido, e porque os raios daquele sol oculto começavam a iluminar a noite das almas. Terminada a discussão, Maria aproximou-se do Filho e desabafou com Ele o coração: "Meu filho, porque procedeste assim conosco? Teu pai e eu procuramos-te cheios de dor".
Jesus responde a sua Mãe com respeito e com firmeza. - "E porque me procuráveis? Não sabíeis que eu devo ocupar-me das coisas de meu Pai?"
É esta uma lição admirável para os pais, que pensam que os filhos são deles mais que de Deus.
Como já disse, não vou comentar essa lição. Vou antes fixar-me no exemplo que dá a Virgem Santíssima procurando com dor o seu Filho que perdeu sem culpa alguma da sua parte.
A perda moral de um filho ou de uma filha é muito frequente nas famílias; e a Virgem Santíssima ensina aos pais como devem proceder neste caso.

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