24 de fevereiro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

Nossa Senhora Virgem-Mãe


Parte 4/6



Há pais que perdem os filhos sem culpa alguma da sua parte. 
É certo que a educação exerce uma influência enorme na formação do homem, tanto que Helvetius lançou esta afirmação: "A educação é omnipotente".
Locke estabelece uma proporção bastante acertada: "De cada dez homens, nove são o que são, bons ou maus, pela educação".
Podemos afirmar que noventa por cento dos homens são conforme os educaram; porém uns dez por cento extraviam-se, apesar da boa educação que receberam no lar. Esta possibilidade, parece querer indicá-la Jesus Cristo na parábola do filho pródigo.
Excelente era aquele pai. Boa a educação que deu a seus dois filhos; e no entanto, um deles tornou-se trabalhador, honrado, obediente, e o outro extraviou-se. É que algumas vezes a educação familiar vê-se contrariada por causas internas provenientes de um organismo tarado, que se recebe em herança, ou por influências exteriores de amigos e mestres. Por esta razão, há pais que perdem seus filhos sem culpa nenhuma da sua parte.
Uma destas mães foi Santa Mônica. Excelente foi a educação que deu a seu filho Agostinho.
Tão fortemente gravou na sua alma o nome e a imagem de Jesus, que todos os erros e todos os vícios pagãos, que o jovem acumulou no seu espírito, não conseguiram apagá-la; por isso, no meio dos seus extravios, quando lia com gosto os autores clássicos do paganismo, só de uma coisa achava falta neles: ali não encontrava o nome de Jesus com que sua mãe o tinha alimentado. Mas a boa educação que lhe deu sua mãe, foi contrariada e vencida pelo temperamento fogoso, apaixonado que lhe transmitiu seu pai pagão e vicioso, e por influência de companheiros e professores ímpios e corrompidos.
E Mônica, sem culpa alguma, perdeu o seu filho. E que fez então aquela mãe exemplar? Deixou que seu filho perecesse arrastado pela corrente?
Não; imitou a Virgem Santíssima. Como ela chorou, e como ela procurou-o sem descanso. Não se contentou com esperar em sua casa a volta de seu filho, saiu a procura dele, como o bom pastor vai em busca da ovelha perdida; e seguiu-lhe os passos e atrás dele foi a Cartago e juntamente com ele atravessou o Mediterrâneo e acompanhou-o a Milão e ali conseguiu rendê-lo e conquistá-lo de novo para Jesus Cristo.
Quando a mãe voltava já para a sua pátria radiante de júbilo, a morte cortou-lhe os passos no porto de Óstia. Que cenas tão sublimes as daqueles dias, como as deixou escritas o próprio Agostinho no livro incomparável das suas Confissões!
Santa Mônica morre longe do seu lar; porém morre satisfeita e tranquila, porque tem ao seu lado aquele filho que é duplamente seu: porque lhe tinha dado a vida do corpo e o tinha regenerado para a vida da graça.
Assim procede uma mãe cristã, que apesar da educação esmerada que deu a um filho ou filha, constata que ao chegarem à idade crítica da juventude, começam e extraviar-se.
Uma mãe exemplar, imitando Santa Mônica, imitando a Santíssima Virgem, não os perde de vista, segue os seus passos extraviados, admoesta-os com bons conselhos; e quando não pode mais, reza e chora por eles.
Esse filho, essa filha, voltarão ao bom caminho? Quem sabe! Motivos há para confiar. A oração, as lágrimas e os conselhos de uma mãe querida, são muito poderosos; porém se esse filho transviado não voltar ao bom caminho, a mãe, o pai, poderão apresentar-se diante de Deus com a consciência tranquila.
Jesus Cristo ia deixar o mundo. Celebrava com os seus discípulos a última ceia; nela dirigiu a seu Eterno Pai uma oração sacerdotal e entre outras coisas dizia-lhe: "Os discípulos que me deste guardei-os, nenhum deles se perdeu, a não ser o filho da perdição". De todos os seus discípulos cuidou Jesus Cristo; e, apesar dos seus cuidados, Judas condenou-se.
Que na hora da morte possas elevar a Deus uma oração semelhante. De todos os filhos que me destes cuidei bem. Todos os que Deus te deu, porque não fechaste as portas do mundo a nenhum dos que quis enviar-te. De todos cuidaste. A todos defendeste. A todos educaste bem.
Se apesar dos teus cuidados, algum, abusando da sua liberdade se extraviou, aconselhaste-o, repreendeste-o, choraste e rezaste por ele. Tudo foi inútil. As paixões e o mundo puderam mais do que tu. É o filho da perdição. Deus não te pedirá contas dele.

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