10 de fevereiro de 2018

Sermão para o Domingo da Septuagésima – Padre Daniel Pinheiro, IBP

Cânon Romano VII – Supplices te rogamus e Memento dos mortos


Em nome do Pai…
Ave Maria…
Caros católicos, continuamos a tratar das cerimônias e orações da Missa. No último domingo, falamos das duas primeiras orações após a consagração: o Unde et Memores e o Supra quae propitio. Elas são concluídas pela terceira oração após a consagração: o Supplices te rogamus.
O sacerdote profundamente inclinado, começa a oração: súplices, vos rogamos, Deus onipotente, façais que esses dons (o Corpo e o Sangue de Cristo) sejam levados pelas mãos de vosso santo anjo para o vosso sublime altar, diante de vossa divina majestade. Devemos notar, em primeiro lugar, que a posição do corpo do padre, profundamente inclinado, corresponde exatamente às palavras da oração. Aquele que suplica a Deus deve estar em posição de humildade diante de dEle.
O sacerdote pede, então, que o Santo Anjo leve o sacrifício ao sublime altar celeste, diante de Deus. Alguns dizem que o Anjo aqui é o anjo do grande conselho, o próprio Cristo. Outros dizem que, de fato, se trata de um anjo propriamente dito. Entre as funções angélicas encontra-se a função de levar até Deus nossas preces (Tobias 12, 12; Apocalipse 8, 3-4). Alguns dizem que é São Miguel Arcanjo, o anjo protetor da Igreja Católica, única esposa de Cristo. As três interpretações são possíveis, embora a mais apropriada talvez seja considerar que o anjo é Cristo, que efetivamente apresenta o seu próprio sacrifício diante da Santíssima Trindade.
Pedimos que o sacrifício da Igreja militante seja levado ao sublime altar de Deus, diante da majestade divina. Esse trecho significa a união entre o sacrifício da Igreja Militante e o sacrifício da Igreja Triunfante. No céu, propriamente, já não há mais sacrifício como o nosso, nem altar como nosso. O que há no céu é Nosso Senhor Jesus Cristo, sumo sacerdote e mediador, diante de Deus apresentando suas chagas para interceder por nós e nos aplicar os frutos da redenção. Cristo é o próprio altar e falamos de sacrifício no céu na medida em que está diante de Deus com as marcas de Seu sacrifício redentor aqui na terra. E a esse sacrifício celeste, se unem todos os bem-aventurados no céu. Ao pedir que os dons sejam levados ao céu, ao altar sublime e ao olhar da divina majestade, pedimos que nosso sacrifício aqui na terra seja unido a esse sacrifício celeste e pedimos que o nosso sacrifício aqui na terra seja aceito como o sacrifício celeste. Não se trata, portanto, de transportar fisicamente aos céus o Corpo e o Sangue de Cristo que estão sobre o nosso altar, mas dessa união entre a liturgia terrestre e a liturgia celeste. Devemos também lembrar que as orações da Missa nos explicam, muitas vezes, o que ocorre no instante da consagração. É o que ocorre aqui na oração do Supplices te rogamus. É no momento da consagração que Nosso Senhor une o sacrifício da Missa ao Sacrifício celeste.
Unimos o sacrifício da Missa com o sacrifício celeste, apresentamos a Ele o sacrifício de Cristo para que possamos receber os frutos abundantes que lhe são próprios. Pedimos que todo aquele que, participando deste altar, receber o Corpo e o Sangue de Cristo, seja repleto da bênção celeste e de graça. Ao mencionar a participação no altar, o padre oscula o altar, mostrando todo o seu amor por Cristo e por seu sacrifício e mostrando que é do altar que nos vêm as graças. Trata-se de um movimento ascendente – é o sacrifício que sobe até Deus –  e de um movimento descendente – as graças de Deus que descem até nós. A oração do Supplices te rogamus apresenta a realidade da escada de Jacó: ela mostra a escada misteriosa do sacrifício que toca o altar celeste com uma extremidade e que toca o altar terrestre com a outra extremidade.
A conclusão da oração do Supplices te rogamus é, na verdade, a conclusão do Unde et memores e do Supra quae propitio, deixando clara a unidade dessas três orações que pedem que o sacrifício da Missa seja agradável a Deus, tornando-O propício. Pedimos que seja agradável a Deus não tanto como sacrifício de Cristo, pois o sacrifício de Cristo é necessariamente agradável a Deus, mas pedimos que seja agradável a Deus a nossa disposição de alma com que oferecemos o sacrifício da Missa.
Após o Supplices te rogamus, vem o memento dos defuntos. O sacrifício da Missa é útil não só para os vivos, mas também para os mortos. Pela Missa, os vivos podem adorar a Deus perfeitamente, agradecer por todos os seus benefícios, pedir as graças de que precisam e expiar pelos seus pecados. Para os defuntos, aproveita apenas o aspecto de expiação dos pecados. Aqueles que estão no purgatório podem simplesmente padecer e expiar pelos pecados veniais e pelas penas temporais dos pecados com que morreram. E é nesse sentido que a Missa pode ajudá-los, expiando os seus pecados.
Lembrai-vos também, Senhor, dos vossos servos e servas que nos precederam com o sinal da fé e dormem o sono da paz. Apenas podem ser ajudados aqueles que morreram marcados com o sinal da fé e que dormem o sono da paz, quer dizer, que morreram em paz com Deus, em estado de graça, sem pecado mortal. A Igreja fala naqueles que dormem, pois a morte, aguardando a ressurreição, é uma espécie de sono. O Padre pode, então, nomear alguns defuntos por quem reza de modo especial na Missa. Ao relembrar os defuntos por quem quer rezar, o padre guarda os olhos voltados para a hóstia consagrada sobre o altar. O padre começa a oração estendendo e juntando as mãos, em gesto de súplica pelos defuntos. Ditos os nomes, o padre pede para eles e para todas as almas do purgatório, isto é, para todos aqueles que repousam em Cristo, o lugar do refrigério, da luz e da paz. Pedimos, para os fiéis defuntos, o céu. O céu é o lugar de refrigério, pois não haverá mais o calor do fogo do purgatório nem a dor de qualquer outra pena sensível. O céu é o lugar da luz. A luz significa o conhecimento. No purgatório, a alma está privada do conhecimento perfeito de Cristo. O céu é o lugar da luz, então, porque no céu ver-se-á Deus face-a-face, conhecer-se-á a Verdade, com V maiúsculo, conhecer-se-á perfeitamente Cristo, a Luz do mundo. No céu, teremos a visão beatífica.  O céu é o lugar da paz, o lugar da tranquilidade na ordem. No purgatório, ainda não há paz, pois a alma ainda não está definitivamente unida a Deus, ainda há algum resto de pecado. No céu, tudo está tranquilo, já não há o mal, já não há a possibilidade de perder o bem. No céu tudo está ordenado a Deus. Todas as nossas faculdades estarão plenamente ordenadas a Deus. Que belas expressões para designar o céu são usadas no Memento dos mortos. É preciso, porém, compreendê-las bem, como acabamos de explicar.
Ao concluir o Memento dizendo Pelo mesmo Cristo, Senhor Nosso, o padre faz uma inclinação de cabeça. Em nenhum outro lugar da Missa o padre faz inclinação ao nome Cristo separado de Jesus. A única vez em que se inclina diante da palavra Cristo, sem Jesus, é no Memento dos mortos. Por qual motivo? Para lembrar a descida de Cristo ao limbo dos justos do Antigo Testamento após a Sua morte na cruz. Já não existe mais o limbo dos justos, mas existe ainda o purgatório. Pela Missa, é como se Nosso Senhor descesse ao purgatório para aliviar as penas das almas que nele se encontram. O Padre inclina a cabeça para indicar que realmente reza em benefício das almas do purgatório.
Caros católicos, o tesouro da Missa é imenso. Agrada a Deus, nos alcança todas as graças para a nossa salvação e ajuda as almas do purgatório. O que poderíamos mais desejar? Apenas podemos agradecer a Nosso Senhor Jesus Cristo por ter instituído a Santa Missa, de modo tão sábio e tão misericordioso. E agradecer tendo grande devoção pela Santa Missa e aproveitando seus infinitos benefícios.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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