14 de maio de 2020

A ALMA DE TODO APOSTOLADO.


J. B. Chautard

Parte 5/7

d - A vida interior dá-lhe alegria e consolação
Só o amor ardente e inabalável logra alegrar a existência, porque o amor possui o segredo de dilatar o coração, ainda no meio das dores ingentes e das fadigas acabrunhadoras.
Cadeia de sofrimentos e de trabalhos é a vida do homem apostólico. Se o apóstolo não esta convencido de que Jesus o ama, muitíssimas serão para ele as horas tristes, inquietas e sombrias, por jovial que seja o seu caráter; a não ser, é claro, que o caçador infernal deslumbre a ingênua avezinha com o espelho das consolações humanas e com êxitos aparentes a fim de melhor a atrair para os seus laços intrincados. Só o Homem Deus pode fazer soltar este grito sobre humano da alma: Superabundo gáudio in omni tribulatione nostra. Em meio das minhas intimas provações, diz o apóstolo, a parte superior do meu ser, como a de Jesus em Getsêmani, desfruta uma felicidade que nada tem, por certo, de sensível, mas cuja realidade é tal que, a despeito da agonia da parte inferior, não a trocaria eu por todas as alegrias humanas.
Venham embora as provações, as contradições, as humilhações, o sofrimento, a perda de bens, a perda dos seres amados, a alma aceitará estas cruzes com sentimentos inteiramente diversos dos que tinha nos alvores da sua conversão.
Dia a dia vai ela crescendo em caridade. Pouco importa que sem brilho se manifeste seu amor; que o Mestre a trate como alma forte, levando-a pelas vias de um aniquilamento cada vez mais profundo, ou pela senda austera da expiação ou pelo mundo. Favorecido pelo recolhimento, alimentado pela Eucaristia, o amor não cessa de aumentar, disso é prova essa generosidade com que a alma se sacrifica e se abandona; essa dedicação que a faz correr, sem pensar nos trabalhos, à procura de almas junto das quais o seu apostolado se exerce com paciência, com prudência, tato, compaixão, ardor, somente explicáveis pela penetração da vida de Jesus nela: Vivit vero in me Christus.
O sacramento do amor deve ser o da alegria. Não pode ser interior a alma que não é eucarística, e, portanto, a alma que não se deleita intimamente com o dom de Deus, que não goza de sua presença, que não experimenta a doçura do ser amado que possui e que adora.
A vida do homem apostólico é vida de oração. " Vida de oração, diz o Santo Cura D'Ars, eis a grande felicidade deste mundo.Ó vida admirável! ó admirável união da alma com Nosso Senhor! A eternidade não é demasiadamente longa para se compreender essa felicidade . . . A vida interior é banho de amor em que a alma se mergulha . . . Fica como afogada no amor . . . Deus ampara a alma interior como a mãe sustenta em suas mãos a cabeça do filho para a cobrir de beijos e de carícias".
Contribuir para tornar servindo e honrado o objeto do seu amor é outrossim alimento de alegria. O homem apostólico conhece todas essas felicidades.
Servindo-se das obras para aumentar o amor , sente ao mesmo tempo crescer a alegria e a consolação. "Venator animarum", tem a dita de contribuir para a salvação de almas que talvez se condenariam; portanto, tem o prazer de consolar a Deus, dando-lhe corações dos quais talvez tivesse de se separar eternamente, o prazer enfim de saber que dessa sorte granjeia para si mesmo uma das mais sólidas garantias de progresso no bem e de glória eterna.


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