A ALMA DE TODO APOSTOLADO
J. B. Chautard
Parte 4/7
c - A vida interior multiplica as suas energias e os seus méritos
Tu ergo, filli mi, confortare in grátia. A graça é uma participação da vida do Homem Deus. A criatura possui certa medida de força e pode até, de alguma sorte, considerar-se, definir-se como força. Jesus é a força por essência. Nele reside em toda a sua plenitude a força do Pai, a onipotência da ação divina, e Espirito de força se chama o seu Espírito.
Ó Jesus, exclama São Gregório de Nazianzo, somente em vós reside toda a minha força. Fora de Cristo, diz por sua vez São Jerônimo, eu sou de todo impotente.
O Doutor seráfico no 4º livro do seu Compéndium Theologiae enumera os cinco caracteres princípais que em nós reveste a força de Jesus: o primeiro é empreender coisas difíceis e enfrentar resolutamente os obstáculos: Viriliter ágite et contortetur cor vestrum.
O segundo é o desprezo das coisas da terra: Ómnia detrimentum feci et árbitror ut stércora.
O terceiro, a paciência nas tribulaçoes: Fortis ut mora dilectio.
O quarto, a resistência às tentações: Tanquam leo úgiens circuit...cui resistite fortes, in fide.
O quinto é o martírio interior, o testemunho não do sangue senão da própria vida que clama a Jesus: Quero ser todo vosso. Consiste em combater as concupiscências, em domar os vícios e em trabalhar com energia na aquisição das virtudes: Bonum certamen certavi.
Ao passo que o homem exterior conta com as suas forças naturais, o homem inferior, esse, apenas vê nelas auxiliares úteis, por sem dúvida, mas insuficientes. O sentimento da sua própria fraqueza e a sua fé na onipotência de Deus dão-lhe como a São Paulo, a medida exata das suas forças. À vista dos obstáculos que sucessivamente se vão erguendo perante ele, exclama com humilde altivez: Cum enim infirmor, tunc potens sum.
Sem vida interior, diz São Pio X, hão de faltar as forças para aguentar com perseverança os aborrecimentos que qualquer apostolado acarreta, a frieza e o escasso concurso dos próprios homens de bem, as calúnias dos adversários e, às vezes, até os ciúmes dos amigos, dos companheiros de armas. . . Só uma virtude paciente, fortalecida no bem e ao mesmo tempo suave e delicada, é capaz de remover ou diminuir essas dificuldades.
Mediante a vida de oração, como selva que escorre da cepa para os sarmentos, a força divina desce à alma do apóstolo para lhe fortalecer a inteligência, dando-lhe fé mais viva. Então progride, porque essa virtude alumia seu caminho com luzes mais esplendentes. Então avança resoluto, porque sabe aonde quer ir e como deve atingir o seu fim.
Esta iluminação é acompanhada de tal energia sobrenatural de vontade que até os próprios caracteres fracos e versáteis se tornam capazes de atos heroicos.
Assim é que o Manete in Me, a união com o Imutável, com aquele que é o leão de Judá e o pão dos fortes, explica a maravilha da constância invencível e de firmeza tão perfeita que, nesse admirável apóstolo chamado São Francisco de Sales, se aliavam à doçura e humildade incomparáveis. O espírito e a vontade fortificam-se com a vida interior porque o amor se fortifica. Jesus vai progressivamente purificando, dirigindo e aumentando esse amor. Torna-o participante dos sentimentos de compaixão, de dedicação, de abnegação e de desinteresse do seu Coração adorável. Se esse amor se torna paixão, eleva então ao seu máximo grau e utiliza todas as forças naturais e sobrenaturais do homem para seu próprio proveito.
Fácil é desta sorte julgar do aumento de méritos resultantes da multiplicação das energias que dá a vida de oração; basta recordar-nos de que o mérito consiste menos na dificuldade que possa a ver na prática de um ato, do que na intensidade de caridade com que ele se pratica.
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