17 de maio de 2020

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 6/7

e - A vida interior acrisola a pureza de intenção
O homem de fé aprecia as obras de um ponto de vista inteiramente diverso do daquele que vive exteriormente. Vê nelas não tanto o aspecto aparente como o papel que desempenham no plano divino e nos resultados sobrenaturais.
Desta sorte, considerando-se simples instrumento, vai alimentando na alma o horror por qualquer complacência nas próprias aptidões tanto mais quanto vai baseando a esperança dos bons êxitos sobre a própria impotência e sobre a confiança exclusiva em Deus.
Assim é que ele se fortifica no estado de abandono. No decurso das dificuldades, como é grande a diferença entre sua atitude e a atitude do homem apostólico que não conhece as intimidades com Jesus !
De mais a mais, este abandono não logra diminuir o ardor por qualquer empreendimento. Trabalha como se o bom êxito unicamente dependesse de sua atividade, mas de fato apenas o espera unicamente de Deus. Nada lhe custa subordinar todos os projetos e esperanças aos desígnios incompreensíveis desse Deus que para o bem das almas com mais frequência se serve dos reveses que dos triunfos.
Daí resulta para a alma um estado de santa indiferença pelos bons ou maus êxitos de suas empresas. "Vós ó meu Deus, esta ela sempre pronta a dizer, não quereis que se acabe a obra começada. Preferis que eu me limite a trabalhar com generosidade, e sempre em paz, a envidar esforços para atingir o resultado, deixando-vos o cuidado de decidir se o bom êxito vos granjeará mais glória que o ato de virtude que um revés me dará ocasião de praticar. Mil vezes bendita seja vossa santa e adorável vontade. Oxalá, com o auxílio da graça, logre recalcar os mínimos sintomas de vã complacência, se abençoardes meus projetos, tão bem como humilhar-me e adorar, se vossa providência julgar conveniente reduzir a nada o fruto de minhas fadigas."
Certo é que o coração do apóstolo sangra quando contempla as tribulações da Igreja; mas a maneira como ele sofre é completamente diversa da do homem não animado pelo espírito sobrenatural. A melhor prova disso esta na conduta e na atividade febril deste, quando sobrevêm as dificuldades, nas suas impaciências e abatimento, no seu desespero, e às vezes, até no seu aniquilamento perante ruínas irreparáveis. O verdadeiro apóstolo utiliza todos os triunfos e reveses, para aumentar a esperança e dilatar a alma num abandono cheio de confiança na providência. Qualquer particularidade, bem que mínima, de seu apostolado lhe serve de motivo para atos de fé. Qualquer momento do seu trabalho perseverante lhe fornece ensejo de praticar atos de caridade, porque, pelo exercício da guarda do coração, chega a ponto de proceder em tudo com pureza de intenção cada dia mais perfeita e, pelo abandono, a tornar o ministério cada vez mais impessoal.
Desta arte, todas e cada uma das ações se vão, impregnando, cada vez mais, dos caracteres de santidade, e como o amor pelas almas, ao princípio mesclado de muitas imperfeições, se vai aos poucos purificando, o verdadeiro apóstolo acaba por não mais ver essas almas senão em Jesus, por não mais amá-las senão em Jesus, e assim por Jesus as conquistas para Deus: Filioli mei quos íterum partúrio, donec formetur Christus in vobis.

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