[Sermão] O Instituto Bom Pastor e seu papel na Igreja: doutrina, liturgia e união com Roma
Sermão para o Domingo do Bom Pastor, 2º Domingo depois da Páscoa
15.04.2018 – Padre Daniel Pinheiro, IBP
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
Caros fiéis, gostaria de aproveitar a ocasião desta Festa do Bom Pastor, para tratarmos um pouco do Instituto Bom Pastor e do seu papel dentro da Igreja. Os membros do Instituto querem, claro, seguir o modelo de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Bom Pastor, indo adiante dos fiéis, conduzindo-os aos pastos da verdade e dos sacramentos, conhecendo as ovelhas pelo nome e dando a vida por elas.
De modo particular, os membros do Instituto querem dar a vida pelas ovelhas celebrando a liturgia romana tradicional. E isso de modo exclusivo. Somente a liturgia romana no rito tradicional. O rito romano tradicional, isto é, o rito anterior às reformas litúrgicas oriundas do Concílio Vaticano II é o rito próprio e exclusivo do Instituto Bom Pastor e de seus membros. Assim ele foi fundado e assim ele continua em seus estatutos. Cada membro do Instituto Bom Pastor, se age de modo coerente como se espera, adere a isso, voluntariamente, livremente e firmemente, por questões de princípio relacionadas à fé e à vida espiritual.
Os membros do Instituto Bom Pastor querem também cuidar das ovelhas pela doutrina católica de sempre. A doutrina ensinada por Cristo e pela sua Igreja ao longo dos séculos. Porque essa é a verdade. Consequentemente, há uma crítica construtiva a atos controversos do magistério recente, a atos em desacordo com aquilo que a Igreja sempre ensinou. E isso segundo os princípios teológicos que regem os diversos graus de magistério eclesiástico e que regem os diversos graus de assentimento a esse mesmo magistério. Essa crítica não é para causar vã polêmica ou simplesmente repetir o que já foi dito, mas para colocar à disposição da autoridade eclesiástica sólidos argumentos teológicos para a correta interpretação desses textos ou mesmo para a necessária correção desses textos, quando for o caso. Pela sua própria natureza, essa crítica exige tempo, reflexão e estudos aprofundados, e não a publicação precipitada de textos em quaisquer meios que sejam.
No ministério sacerdotal, caros católicos, importa, antes de tudo, pregar a verdade e condenar os erros, sem precisar entrar necessariamente em questões polêmicas e complexas que muitas vezes mais confundem do que atrapalham. Assim, de modo geral,, por exemplo, vale mais ensinar a necessária união da Igreja e do Estado com todas as suas provas e razões do que entrar em todas as sutilezas do erro da liberdade religiosa para condená-la. Ao conhecer a verdade, o fiel saberá identificar o erro, que ele venha de não católicos ou que ele venha mesmo de um ato do magistério não-infalível. Dom Lefebvre, que muitos hoje citam sem conhecer, fazendo o livre-exame de Dom Lefebvre, dizia aos padres em retiro sacerdotal em 1980: “Penso que é preciso permanecer diante da realidade tal como ela é e, sobretudo, não somos obrigados a fazer comentários sobre o Papa todos os dias. As pessoas não esperam isso dos padres. As pessoas não esperam que nos seus sermões haja sempre algo sobre o papa. Há vários outros assuntos. Deixem esse problema que é justamente muito delicado, difícil, doloroso, que faz sofrer os fiéis. Agora, se alguém vem procurar-vos em particular, dê a ele a solução do problema. Mas não façam disso sempre o assunto do sermão, o que faz que as pessoas saiam angustiadas… Isso perturba as pessoas, não serve para nada.” E continua Dom Lefebvre : “O que as pessoas pedem é a santificação, é serem santificadas pelos sacramentos, pelo Santo Sacrifício da Missa. Falem para eles dos problemas que eles têm (em sua vida espiritual), da santificação pessoal deles. Não falta assunto sobre isso. Um vez ou outra, evidentemente, por ocasião de uma conferência ou se alguém o pede, deve-se explicar de forma mais precisa a situação.” Assim se posicionava o Arcebispo Dom Lefebvre. E assim, de fato, vamos agindo no Instituto Bom Pastor, com uma nuance ou outra em cada situação concreta.
Portanto, caros católicos, a crítica construtiva não se trata de falar disso o tempo todo. Além do quê, essa crítica se faz também pela prática pastoral. Ela se faz pela pastoral em que se estabelece a hierarquia da Igreja contra a colegialidade dentro da Igreja. Ela se faz pela pastoral em que se estabelece que a Igreja de Cristo é somente a Igreja Católica, fora da qual não há salvação, contra o ecumenismo. Ela se faz pela pastoral em que se estabelece a união da Igreja e do Estado contra a liberdade religiosa. Ela se faz pela pastoral em que se estabelece o domínio da razão sobre os sentimentos. Ela se faz ela pastoral em que se estabelece o princípio da religião na adesão de nossa inteligência às verdades reveladas por Deus e não no sentimentalismo, contra o modernismo. Ela se faz pela pastoral em que se estabelece, ainda, por exemplo, a hierarquia das finalidades do matrimônio, sendo a finalidade primária a geração dos filhos. Enfim, o modo tradicional católico de organizar o apostolado já é uma crítica à nova teologia. O modo tradicional católico das devoções e do apostolado forma uma mentalidade profundamente católica, capaz de reconhecer o erro e os seus falsos princípios. Como nos disse um padre uma vez: ensinar a verdadeira doutrina católica, seja em que tema for, já é, muitas vezes, uma polêmica hoje em dia. O primeiro dever do sacerdote para com os fiéis é ensinar a doutrina de Cristo, começando pelo catecismo. Infelizmente, quantas vezes vemos a situação absurda de alguns que pretendem saber muito sobre problemas teológicos de liturgia e do magistério recente, mas sequer conhecem as verdades fundamentais do catecismo católico. Antes de conhecerem o catecismo, conheceram as polêmicas e as controvérsias e fazem girar toda a religião em torno dessas questões.
O Instituto Bom Pastor é um Instituto de direito pontifício, tendo a situação canônica regular diante da Santa Sé. Reconhecemos que é preciso estar manifestamente unidos à Santa Sé quando se tem as garantias suficientes para guardar a doutrina católica tradicional e a liturgia romana tradicional. Aqueles que negam, por princípio, um acordo com a Santa Sé até que todas as questões doutrinárias se resolvam, encontram-se no erro. Desconsideram que essa necessária união manifesta, quando se tem garantias suficientes para a fé, para a moral e para a liturgia, também entra no campo da fé. Portanto, recusar essa união manifesta com a Santa Sé quando se tem essas condições suficientes, é colocar em perigo a fé. E, de fato, vemos como, nesses grupos que pretendem resistir, começam a surgir erros doutrinários. Erros doutrinários quanto à constituição da Igreja e sua organização, afirmando, por exemplo, que os católicos devem, agora, viver em células independentes ou deixando entender que o tempo das estruturas acabou, o que se opõe – é evidente – à organização hierárquica da Igreja, que é de instituição divina, e que necessariamente possui as suas estruturas. Além disso, forma-se um espírito de independência e de autonomia que vai gerando cada vez mais divisões e subdivisões, cada um pensando ter visto e entendido toda a verdade, levando muitos a pensar que quanto mais dura a posição, mais católica ela é. Isso, na verdade, é um erro. A posição católica não se identifica com a dureza nem com a moleza, mas simplesmente com aquilo que Nosso Senhor Jesus Cristo nos ensinou e a Igreja nos transmite pelo seu magistério infalível.
A posição católica se baseia simplesmente no ensinamento de Cristo e o magistério constante da Igreja, e não em ser mais dura ou menos dura. Há também, constantemente, a tendência de simplificar muito as coisas, tanto de um lado quanto de outro, e não levar em consideração as distinções teológicas e morais que devem ser feitas para que se tenha um raciocínio correto e uma ação prática justa. Assim, alguns simplificam dizendo que não crise alguma na Igreja e outros simplificam dizendo que é preciso esperar a solução de todos os problemas para poder se unir a Roma. Se aparece alguém fazendo as distinções teológicas e morais necessárias, é logo tratado de radical pelos que dizem que não há crise na Igreja e é tratado de liberal pelos que querem simplesmente a dureza. Portanto, a união manifesta com a Santa Sé deve existir, se há garantias suficientes para a fé, sob pena de cair também em erros doutrinários. A doutrina católica exige isso, a natureza da Igreja exige isso.
Assim, os fundadores do Instituto Bom Pastor, tendo alcançado a exclusividade da liturgia romana no rito tradicional e o direito à crítica construtiva a atos controversos do magistério recente, fundaram o Instituto, que foi reconhecido como de direito pontifício em 2006, sob o pontificado de Bento XVI. Todo católico deve reconhecer a autoridade legítima do Papa. Se, por acaso, em um ponto o Papa comete erros, o que é possível, segundo as condições estritas da infalibilidade do Papa, nesse ponto em que o Papa se equivoca, não está o fiel católico obrigado a obedecer. Mas o Papa continua sendo o Papa, nosso Pastor e Pai, a quem devemos ter filial estima e obediência em suas ordens legítimas.
Portanto, caros católicos, o nosso carisma é o uso exclusivo da liturgia romana tradicional, é a transmissão da doutrina católica de sempre com a consequente crítica construtiva a ensinamentos recentes controversos e tudo isso na união manifesta com a Santa Sé. Todavia, em vez de carisma, palavra um pouco na moda e que nos faz um pouco sorrir, podemos falar simplesmente de fidelidade à Igreja. E é nessa fidelidade que queremos viver e morrer. É nessa fidelidade que queremos conduzir aos céus os fiéis que nos foram confiados pela providência divina.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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