6 de setembro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA

O Coração da Santíssima Virgem


Parte 2/9

O coração do homem com ser tão estimável, é um mistério.
"O coração do homem é impenetrável; quem conseguirá conhecê-lo" - disse o profeta Jeremias.
É indecifrável para os estranhos. Apresenta-se disfarçado no rosto que aparenta muitas vezes o contrário do que sente o coração.
Apresenta-se desfigurado por defeitos que são superficiais e que não tem raízes no coração.
Como é difícil conhecer o coração de uma pessoa!
Nem os filhos, nem o marido chegam a suspeitar muitas vezes a ternura e o sacrifício que sofre o coração de uma mãe.
Uma mãe não conhece o íntimo do seu próprio coração.
E hoje vamos abeirar-nos do coração de Maria, o coração mais profundo, o maior e mais formoso que existiu depois do coração de Jesus.
Só o abeirar-nos desse abismo causa vertigem à pobre inteligência humana; mas ainda que seja audácia, tentemos aproximar-nos dele.
Começamos a falar do coração e não concretizamos o que entendemos por coração.
Na vida física o coração é um órgão importantíssimo; é o centro vital.
Quando o coração palpita com força, a vida esta assegurada; quando começa a enfraquecer, a vida esta em perigo; quando cessa de bater, a vida acabou.
Porém ao falar do coração, não o consideramos como centro da vida física do homem, consideramo-lo como centro da vida afetiva.
Na natureza humana existe uma grande variedade de afetos que os filósofos reduziram a onze: o amor e o ódio, o desejo e a renúncia, a alegria e a tristeza, a esperança e a desesperação, a audácia, o temor e a ira.
Porém, bem analisados estes afetos, podem reduzir-se a dois, visto que todos eles são a inclinação para um bem ou a fuga de um mal que pode ser presente ou futuro.
Mais ainda, o ódio pode também reduzir-se a amor; porque, ao mesmo tempo que fugimos do mal, amamos o bem oposto.
Todos os afetos humanos na sua variedade imensa podem reduzir-se portanto ao amor, a essa tendência que existe na natureza humana para o bem, ou porque o é na realidade, ou porque parece ao homem que o é.
Ora bem, esse amor, ou todos esses afetos que a ele se reduzem, têm que ter uma fonte donde provenham; tem que existir no homem uma faculdade, um órgão que os produza.
Esse órgão, essa faculdade, essa fonte de todos os afetos humanos, segundo alguns psicólogos, é o coração, a víscera designada com esse nome, o órgão dos afetos.
Segundo outros, não é o coração.
Porém seja ou não o coração que os produza, o fato é, que todos os afetos humanos se repercutem no coração; que o alteram, que o impressionam, que o apertam ou o dilatam.
Por isso chamamos coração ao conjunto de todos esses afetos humanos ou, dizendo melhor, ao órgão que os produz; numa palavra, à fonte donde brota o amor.

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