22 de setembro de 2018

Retratos de Nossa Senhora, Juan Rey, S. J.,

RETRATOS DE NOSSA SENHORA.

O Coração da Santíssima Virgem.

Parte 8/9


Este coração de qualidades tão excelentes está exposto a graves perigos pela sua própria natureza. 
Está-o o de todas as mulheres. Um coração extremamente sensível apaixona-se facilmente; pode apaixonar-se pelo dever ou pelo prazer. Por um ideal sublime, ou por um ideal baixo. Daí os seus extremos para o bem ou para o mal.
Esse coração, receptor delicado de todas as impressões, passa facilmente da tristeza à alegria. Exalta-se pelo mais leve motivo. A menor contradição o abate. Enquanto dura a alegria, é afável e carinhoso. Quando o invade a tristeza, é insuportável. É exaltado nas manifestações dos seus afetos. Esse coração impressionável é também muito susceptível. Uma insignificância o fere.
Facilmente se desfazem fundas amizades entre as jovens. Uma falta de delicadeza inadvertida, um esquecimento involuntário basta para separar dois corações.
Éreis amigas e agora não o sois? Não - E porquê? - Porque um dia não me foi buscar para sair de casa. É ciumento. O coração como dá muito, pede também muito; como dá tudo, pede também tudo. Por isso é muito ciumento.
Quando crê que tem direitos sobre outro coração, não permite que ninguém lho dispute. Esta condição é a origem de invejas e de vinganças cruéis. Essa condição faz com que uma esposa seja ciumenta do amor que seu marido tem a sua mãe e até aos próprios filhos.
Esse coração que sente um vácuo muito grande, é muito exigente, quer tudo. Não goza com o que tem, se julga faltar-lhe alguma coisa.
No jardim da felicidade quer cortar todas as flores. Se lhe falta uma no ramo, chora.
Carinho, êxito, amizade, que nada lhe falte; de contrário, sofre e o que tem não o satisfaz. O alimento do coração é a imaginação.
Como Deus quis que o coração da mulher fosse muito sensível, deu-lhe uma imaginação muito viva e nisto também existe um perigo. Sofre por causas insignificantes, porque a imaginação viva e exaltada aumenta-lhas. Os montinhos de areia apresentam-se-lhes como montanhas. E o que é pior, às vezes passa tristezas amargas sem que exista nenhum fundamento na realidade. A imaginação constrói mundos de ilusão, e quando o coração vai em busca deles, não os encontra e desespera-se.
E se a essa imaginação viva lhe fornecem mais elementos fantásticos os romances e o cinema, pobre coração o da mulher! que desengano e que desespero padece!
 Estes perigos são comuns ao coração da mulher; o coração de uma mãe corre também perigos na educação dos filhos. O coração da mãe é o melhor instrumento de educação. Tem uma eloquência mais persuasiva que todos os sermões. Consegue o que quer de seu marido e seus filhos.
Porém o carinho do coração mal administrado pode acarretar resultados fatais.
Um coração excessivamente terno tende a prodigalizar todos os mimos, a condescender com todos os caprichos, a fechar os olhos para não ver os defeitos daqueles a quem ama; a desculpar e encobrir as suas faltas; a não desgostar o filho para que não diminua o carinho que lhe tem; a compadecer-se excessivamente das suas lágrimas; a não olhar senão para o seu bem estar presente sem o preparar para o futuro. Numa palavra, tem o perigo de não dar aos seus filhos uma educação viril que lhes sirva para as lutas da vida.
E quando chega o tempo da separação, esse coração tem o perigo de não olhar mais que ao desejo de carinho que sente, e não ter em conta o futuro e a felicidade dos filhos.

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