26 de novembro de 2017

Sermão para o 24° Domingo depois de Pentecostes – Padre Daniel Pinheiro, IBP


[Sermão] A Meditação Católica




Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Ave Maria…
“Meditando as coisas racionais, possamos executar, pelas palavras e atos, o que Vos agrada.”
São as palavras da oração da coleta deste Domingo de hoje. A meditação é, de fato, necessária para que possamos executar bem aquilo que é a vontade de Deus, executar bem e com verdadeira constância. A oração da coleta nos fala das coisas racionais. O que são essas coisas racionais? São a verdade e, ainda mais propriamente, as verdades eternas, as virtudes, os fatos da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora, dos Santos.
É preciso meditar, caros católicos, porque as coisas espirituais não se vêem com os olhos do corpo, mas somente com os olhos da alma. Quem não medita, não vê, portanto, as coisas espirituais. Caminha sem enxergar, sem ter luz. Caminha tateando. E quem caminha tateando no escuro tem risco de errar o caminho e de cair e não levantar-se. Aquele que não tem em vista – com os olhos da alma e pela Meditação  – as coisas espirituais, vai deixar-se levar facilmente pelas coisas sensíveis, pelas paixões, pelas coisas sensuais, pelas coisas do mundo.
Falamos aqui, é evidente, da meditação católica, que não se confunde nem de longe com essa meditação  oriental, às vezes chamada de meditação  transcendental, ou de qualquer outro nome  que queiramos dar. Essa meditação errônea que visa não querer nada, não desejar absolutamente nada. A meditação católica é precisamente o contrário. A meditação católica nos leva ao conhecimento da verdade, ao amor pela verdade e pelo bem. E nos leva a desejar a verdade ardentemente e nos dispõe a sofrer bem por ela. A meditação é a aplicação da nossa razão, movida ou iluminada pela fé, a uma verdade, a uma virtude, a um fato da vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, de Nossa Senhora, dos Santos. Ela é a aplicação da nossa razão iluminada pela fé para considerar o bem dessa virtude ou a profundidade dessa verdade; aplicação da razão para mover nossa vontade, pela caridade, a amar esse bem, essa virtude; aplicação da razão para que eu considere como está a minha vida com relação a essa verdade, com relação a essa virtude, com relação a esse exemplo dado por Nosso Senhor, Nossa Senhora, ou os Santos; aplicação da razão para que eu possa fazer uma resolução, corrigindo, então, a minha vida nesse ponto considerado na meditação. Finalmente, ela se conclui com uma ação de graças a Deus pela meditação bem feita.
Quem não medita, caros católicos, não conhece verdadeiramente seus erros e não os abomina, como nos diz São Bernardo. Quem medita, ao contrário, vê – com o tempo de meditação constante – claramente seus erros e procura remédio para os seus defeitos, os seus pecados. Ao mesmo tempo, aquele que medita, considera também as perfeições divinas e é levado assim ao amor de Deus.
Portanto, a meditação considera duas coisas. Primeiro, o conhecimento de si mesmo diante de Deus, com nossas misérias, com os nossos pecados, com os nossos defeitos. Mas ao mesmo tempo, a meditação nos faz considerar as perfeições divinas, nos leva ao conhecimento de Deus. Se a meditação fosse somente para o conhecimento de nós mesmos, seríamos levados ao desespero. Se fosse somente para o conhecimento de Deus, poderíamos ser levados à presunção, a pensar que poderíamos nos salvar sem nos converter verdadeiramente. A meditação considerando as duas coisas, minhas misérias e as perfeições de Deus, me leva, então, à boa vida espiritual, a corrigir os meus defeitos, apoiando-me com confiança na graça divina.
“A meditação regra nossas paixões, dirige nossas ações, corrige os nossos defeitos”, como diz São Bernardo. E Santa Teresa D’Ávila dizia que quem negligencia a meditação não precisa de demônio para levá-lo ao inferno. Quem negligencia a meditação não precisa de um demônio que o tente. Quem negligencia a meditação caminha sozinho, com seus próprios passos para o inferno, assim diz a Santa. E Santo Afonso de Ligório nos diz claramente, com toda razão, é evidente, que a meditação católica não pode coexistir com o pecado mortal. Se a pessoa se entrega à meditação cotidiana, no tempo que lhe é possível – que sejam quinze minutos por dia para começar – ou vai deixar o pecado mortal, ou deixará a meditação. É impossível que as duas coisas convivam. Isso porque, pela meditação, vamos considerar e conhecer toda a malícia do pecado e toda a bondade de Deus, nos levando assim a evitar o pecado, em primeiro lugar, para não ofender a Deus. Muitos ficam num estado de pecado mortal ou não conseguem sair dele com estabilidade, simplesmente porque não pensam, porque não meditam. Não pensam, não meditam, como dissemos mais acima, nas verdades eternas, nas virtudes, nos próprios defeitos, nas ocasiões de pecado a serem evitadas. Não meditam nas causas que o conduzem ao pecado e não meditam nas perfeições divinas, na Sua bondade, na Sua justiça, na Sua misericórdia, por exemplo. E assim dizia já o profeta Jeremias: “A terra está em desolação porque ninguém se recolhe em seu coração para meditar.” (Jer 12, 11) Ninguém pára para pensar nas verdades eternas.
É preciso então, caros católicos, se ainda não o fazemos, começar a Meditação hoje. Aplicar a nossa razão durante alguns minutos, a uma verdade eterna, a uma virtude. Considerar o bem disso, mover a nossa vontade a amar isso, ver como está a minha vida com relação a esse ponto e tomar uma resolução firme, bem concreta, bem prática, para ser praticada no dia, e, claro, para influenciar toda a vida. Começar e perseverar. Não desistir nas primeiras distrações que virão certamente quando não temos o hábito da meditação. Perseverar apesar das eventuais omissões que faremos nas meditações em algum dia. Perseverar para alcançarmos essa estabilidade. Perseverar apesar das mais variadas dificuldades, das interrupções que teremos que fazer, eventualmente, em virtude dos nossos deveres de estado. Assim, se diz, na vida de Santa Francisca Romana, que ela começou a meditar um salmo, quando seu marido a chamou para fazer algo. Ela deixou, então, a meditação. Feito aquilo que lhe tinha sido pedido, voltou à meditação. Uma segunda vez seu marido a chamou, e novamente interrompeu a Meditação, depois voltando à oração. E assim quatro, cinco vezes, porque o dever de estado é preciso ser cumprido, mas ao mesmo tempo a Santa voltava à meditação, pois isso lhe era possível. Quando voltou na quinta vez, viu, então, os anjos em festa pela sua devoção, pela sua grande dedicação.
Perseverar apesar das dificuldades, que não serão poucas. O demônio sabe o valor da meditação e o quanto ela contribui para a nossa santificação. São Luís Maria Grignion de Montfort diz que o demônio fará de tudo para que não rezemos nosso Terço cotidiano por causa do seu valor imenso. Fará ainda mais contra a meditação, que é muito mais eficaz ainda do que o Terço para a nossa santificação. Sem a meditação não é possível desejar seriamente, buscar seriamente a vida de santidade. Devemos, então, buscar as coisas profundamente pela meditação. “Duc in altum”, nos diz Nosso Senhor Jesus Cristo, “lançai as redes no mar profundo”. (Luc 5, 4)
Devemos, então, nos entregarmos à meditação para nos mantermos unidos a Deus de maneira estável, inamovível, se assim podemos dizer. Estando assim unidos a Deus, encontraremos a alegria em todas as situações, mesmo nas cruzes, essa alegria profunda da alma. Se começarmos e perseverarmos na meditação bem feita, na qual vamos melhorando pouco a pouco, a nossa vida espiritual crescerá como o grão de mostarda, do qual nos fala Nosso Senhor Jesus Cristo no Evangelho. Começará pequeno, mas se tornará uma árvore frondosa, na qual vêm habitar os pássaros, isto é, todas as virtudes. Comecemos e perseveremos na meditação, caros católicos. Meditando as coisas racionais, possamos executar, pelas palavras e atos, o que Vos agrada.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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