11 de novembro de 2017

As Mais Belas Histórias do Cristianismo - Parte 17

17. PERPÉTUA E FELICIDADE, JOVENS MÃES MÁRTIRES.

A Igreja que vinha sofrendo as mais tirânicas perseguições, oficialmente decretadas pelos imperadores romanos, e que escreveu em sua história as mais belas páginas do heroísmo e fidelidade de seus membros, pôde experimentar algum tempo de tranquilidade no governo de Cômodo.
Embora realizasse êle um reinado de orgias, fosse ávido de sensações violentas, como as que ofereciam as lutas na arena, das quais participava sempre, Cômodo, o Hércules, título que lhe dera o senado, não perseguiu os cristãos. Ao contrário, concedeu anistia àqueles que se encontravam encerrados nas masmorras dos palácios.
Foi na época da Anarquia militar, em que o poder supremo esteve à mercê dos caprichos dos soldados, que surgiu a figura do africano Séptimo Severo, que a princípio, mostrando-se calmo e clemente, subitamente se transformou em grande perseguidor dos cristãos, estendendo sua tirania a todo o império, às províncias das Gálias, da Ásia e África, onde sangrentas páginas se ajuntaram ao doloroso capítulo da história cristã.
Modelos exemplares de fé e heroísmo se inscreveram na galeria já gloriosa de nobres figuras do cristianismo primitivo, e dentre eles os nomes de Perpétua e Felicidade, duas jovens mães, dignas de louvor e admiração pela constância e firmeza imperturbável na fé.
Deus quis unir no mesmo sacrifício duas mães, ambas muito jovens, descendendo uma de família nobre, e outra uma pobre escrava.
Diante dele todos são iguais, capazes de heroísmo, o nobre e o escravo, e as maiores riquezas se encontram na alma e são os tesouros espirituais.
O ambiente na África, de modo especial após a ordem de Séptimo Severo, era muito hostil aos cristãos. Hilariano, que exercia o cargo interino de Governador da Província, por morte do procônsul, queria a sua promoção e para agradar ao Imperador cumpriu à risca a sua ordem, sem nenhum sentimento de humanidade ou clemência.
Dias terríveis viveram os cristãos nas prisões de Cartago, amontoados em redutos escuros, onde tudo era insuportável aos sentidos. Habituada à nobreza, Perpétua, que se fizera batizar no cárcere, pois era catecúmena, valorizava o seu sofrimento, até que à custa de dinheiro, dois diáconos, Tertius e Pomponius, obtiveram mais humanidade dos guardas para com aquelas pobres criaturas, e os cristãos foram colocados em melhores lugares, onde mais fresco era o ar.
Ao lado dos sofrimentos materiais, a tortura da dor de seus pais e parentes. O velho pai que conseguiu penetrar na prisão tudo fêz para demovê-la da fé e desejo do martírio. Suplica-lhe que se compadeça dele e não envergonhe a sua velhice perante a sociedade; lembra-lhe o amor e desvelo com que sempre a distinguiu.
Momentos terríveis para o coração de Perpétua, ao ver seu pai prostrado aos seus pés, beijando-lhe as mãos, e suplicando-lhe que abandone a sua fé por ele, pela sua querida mãe e pelo seu filhinho.
No entanto, a força da graça de Deus, grande na alma de Perpétua, fez com que ela afastasse o pai, renunciasse às suas súplicas, para consagrar sua vida a Deus pelo martírio.
Nada foi capaz de quebrar a resistência da jovem mãe: nem as súplicas do pai, nem as ameaças de suplícios terríveis.
E as duas jovens, Perpétua e Felicidade, baldados os esforços em demovê-las de suas ideias, foram condenadas às feras.
Felicidade chegara ao oitavo mês de gravidez. As leis romanas proibiam a execução de mulheres em semelhantes circunstâncias, e ela temia que fosse adiado o seu suplício.
Entregaram-se ela e todos os cristãos prisioneiros à oração e Deus ouviu as suas preces. Felicidade prematuramente deu à luz uma criança.
No dia marcado, apresentam-se com semblantes alegres, dispostas a tudo por amor a Cristo, de quem jamais se afastariam. Recusaram as túnicas das cerimônias pagãs com que tentaram vesti-las.
Passando diante de Hilariano, disseram-lhe: "Tu nos condenaste, pois saibas que Deus te julgará".
Na arena de Cartago, as feras se lançam contra os cristãos. Perpétua e Felicidade, cobertas com pequeno agasalho, foram atiradas a uma vaca brava; esta as derrubou, mas não as matou. Vendo Perpétua que o pequeno pano que lhe deram para se resguardar da nudez se havia rasgado, apertou-o como pôde, ajeitou os cabelos, para que não parecesse estar triste e abatida. Os algozes não se atreveram a atirá-las mais às feras. Deveriam ser transpassadas pela espada. Por fim, caíram as duas jovens sob os golpes dos verdugos.
Perpétua, ferida no flanco, com uma horrível chaga, toma a mão do assassino inexperiente e coloca a ponta da espada sobre a própria garganta.
Assim, morreram as duas jovens mães, engrandecendo o valor da mulher no cristianismo primitivo.
A narrativa desta bela história a encontramos nas atas autênticas do martírio destas santas, redigidas em parte por Perpétua, em linguagem simples, sincera e elegante, e em parte, as páginas da narrativa do suplício, por testemunhas de vista, talvez Tertuliano, pela semelhança de estilo. Estão estas atas entre os trechos mais belos da literatura cristã antiga.
Os nomes das mártires figuram no Cânon da Missa, prova de quanto a Igreja primitiva as considerava.
E permanece para sempre a lembrança da fé e heroísmo destas duas jovens criaturas, uma nobre, outra escrava.
Em ambas a grandeza da maternidade a humana e a espiritual, gerando seus filhos para a vida e fazendo com que suas vidas se frutifiquem no heroísmo de sua imolação na arena sagrada pelo sangue dos mártires.
Filhos de mães heroicas, mães dignas de sua missão e da grandeza e mistério do próprio nome de Mãe!
A lembrança destas jovens mães despertem nos corações maternos a coragem e heroísmo para os deveres e encargos do lar. Cada mãe seja uma Mártir que cada dia se imole um pouco na arena do trabalho e do sacrifício. Somente assim se considerem dignas de sua alta e misteriosa missão na sociedade.
"As testemunhas dos fatos do martírio das Santas Perpétua e Felicidade, escreve o redator dos Atos dos Mártires, lembrar-se-ão da glória do Senhor, e aqueles que deles tiverem conhecimento, por esta narrativa estarão em comunhão com os santos mártires e, por intermédio deles, com Jesus Cristo Nosso Senhor, para quem são a honra e glória".

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