14 de fevereiro de 2009

Domingo da Sexagésima: Saiu o semeador a semear a sua semente...

O Evangelho do Domingo da Sexagésima é Lc VIII 4-15. A seguir, um texto extraído da Homilia XV de São Gregório Magno, explicando o assunto. Mais uma vez, essa é a única tradução disponível on line em português.

Homilia XV in Evangelia
, do Papa São Gregório Magno

A leitura do santo Evangelho, caríssimos irmãos, que acabais de ouvir, não necessita tanto que eu a explique, mas muito mais que a endosse. Porque, aquilo que a Verdade, Ela mesma, explicou, que a humana fragilidade não presuma discutir. Mas há, na própria explicação do Senhor, matéria sobre que pensar diligentemente. (visto que talvez as vossas mentes duvidassem crer-nos se fôssemos nós a dizer-vos significar a semente, a palavra; o campo, o mundo; os pássaros, os demônios; os espinhos, as riquezas. Por isso o Senhor, Ele próprio, dignou-Se explicar o que dissera, de modo que saibais [segundo esse exemplo] procurar compreender as outras [parábolas], que Ele próprio não tenha explicado.

Explicando, pois, o que dissera, esclaresceu que falava por meio de figuras: assim nos acredita [a nós, pregadores,] quando a nossa fraqueza é encarregada de revelar-vos os sentidos figurados das Suas palavras. Ora, quem me daria crédito, se eu quisesse interpretar os espinhos como sendo as riquezas? Notavelmente aqueles magoam, enquanto essas deleitam! Entretanto as riquezas são de fato espinhos, pois os pensamentos que provocam dilaceram a alma, e, se até ao pecado conduzem, como que sangram as feridas por eles infligidas. Mas, bem o diz outro Evangelista*, o Senhor não estava falando das riquezas simplesmente, e sim das riquezas falazes.

Falazes são, pois, aquelas riquezas incapazes de permanecer conosco por mais do que um instante; falazes são aquelas que não aliviam a pobreza da nossa alma. São riquezas verdadeiras somente aquelas que nos fazem ricos em virtudes. Ó irmãos caríssimos! Se procurais ser ricos, as verdadeiras riquezas amai! Se buscais o alto da verdadeira honra, esforçai-vos pelo reino celeste! Se amais a glória das dignidades, apressai-vos por serdes inscritos naquela celestial corte dos Anjos! As palavras do Senhor, que ouvis com os ouvidos, conservai-a na alma. Porque a palavra de Deus é alimento para a alma, e está como um estômago doente, que regurgita a comida que recebe, a alma que, tendo ouvido a palavra, não a digere no ventre da memória. Aquele que não consegue reter o alimento, sua vida está em estado desesperador!

Temei, então, o perigo da morte, se recebeis o alimento da santa pregação sem reter na memória as palavras da vida, os alimentos da justiça. Eis que passa tudo aquilo com que vos preocupais, e, querendo ou não, todo dia, sem qualquer pausa, vos aproximais do extremo juízo. Por que, então, amar aquilo que virá a ser abandonado? Porque negligenciar aquilo que há de vir? Lembrai-vos do que foi dito: Quem tem ouvidos, ouça. Todos os que os têm aderidas têm os ouvidos do corpo. Mas se diz que quem tem ouvidos, que ouça, falando de ouvidos íntegros: precisa-se de ouvidos que não tenham um coração dúbio. Cuidai, portanto, que a palavra recebida permaneça nos ouvidos do coração. Cuidai que a semente não caia à beira do caminho, e que o espírito maligno não roube a palavra à memória. Cuidai que a semente não caia em terra pedregosa, e não dê os frutos de boas obras sem as raízes da perseverança.


* São Mateus.

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