8 de fevereiro de 2009

CATECISMO ROMANO - A EUCARISTIA (PARTE 1)


DO SACRAMENTO DA EUCARISTIA
Catecismo Romano

Se entre todos os Sagrados Mistérios que Nosso Senhor e Salvador nos confiou, como meios infalíveis para conferir a divina graça, não há nenhum que possa comparar-se com o Santíssimo Sacramento da Eucaristia: assim também não há crime que faça temer pior castigo da parte de Deus, do que não terem os fiéis devoção e respeito na prática de um Mistério, que é todo santidade, ou antes, que contém em si o próprio autor e fonte da santidade.

Com muita perspicácia, alcançou o Apóstolo esta verdade e sobre ela nos advertiu em termos peremptórios. Tendo, pois, mostrado como era enorme o crime daqueles que não distinguem o Corpo do Senhor, acrescentou logo em seguida: "Por isso é que entre vós há tantos doentes e fracos, e muitos chegam a morrer" (I Cor XI, 30).

Os pastores devem, portanto, esmerar-se na exposição de todos os pontos doutrinários, que mais realcem a majestade da Eucaristia, para que o povo cristão, compreendendo que deve tributar honras divinas a este celestial Sacramento, consiga os mais abundantes frutos da graça, e aparte de si a justíssima cólera de Deus.

Para este fim, é necessário que os pastores comecem por explicar aos fiéis a instituição deste Sacramento. Sigam o exemplo de São Paulo Apóstolo, que afirmava só ter transmitido aos Coríntios o que recebera do Senhor (I Cor XI, 23ss).

Ora, o Evangelho indica-nos, claramente, como se operou essa instituição.

"Como, pois, o Senhor amava os Seus, amou-os até o extremo" (Jo XIII, 1). E, para lhes dar desse amor, uma admirável caução divina, sabendo que chegara a hora de partir deste mundo para o Pai, consumou o Mistério, a fim de que jamais Se apartasse dos Seus; [e fê-lo] por um recurso inexplicável, que transcende todas as leis da natureza.

Com efeito, depois de celebrar com os Discípulos a Ceia do Cordeiro Pascal, para que a figura cedesse lugar à verdade, e a sombra ao fato concreto, "tomou Ele o pão, deu graças a Deus, benzeu-o e partiu-o, distribuiu-o aos Seus Discípulos, pronunciando as palavras: Tomais e comei. Isto é o Meu Corpo, que vai ser entregue por amor de vós. Fazei isto em memória de Mim. Do mesmo modo, tomou também o cálice, depois da ceia, e disse: este Cálice é a nova Aliança no Meu Sangue. Fazei isto em Minha memória, todas as vezes que o beberdes" (Mt XXVI, 26; Lc XXII, 19ss; Mc XIV, 22; I Cor XI, 24ss).

Reconhecendo que uma só palavra não podia, de modo algum, exprimir a sublime dignidade deste admirável Sacramento, procuraram os sagrados autores interpretá-la por meio de várias designações.

Chama-lhe, às vezes, EUCARISTIA. É um termo que se traduz em vernáculo por "boa graça", ou também, "ação de graças". Como propriedade se diz que este Sacramento é "boa graça", não só por prefigurar a vida eterna, da qual está escrito: "A graça de Deus é a vida eterna" (Rm VI, 23): mas também por conter em si a Cristo Nosso Senhor, que é a graça por excelência e a fonte de todas as graças.

Não menos acertado é o sentido que se dá como "ação de graças", pois pela imolação desta Vítima puríssima rendemos, todos os dias, infinitas graças a Deus por todos os benefícios recebidos, sobretudo pelo inefável dom de Sua graça, que nos é outorgada neste Sacramento.

Esse nome condiz, perfeitamente, com tudo o que Cristo Nosso Senhor fez na instituição deste Mistério. É o que lemos na Sagrada Escritura, porquanto Davi, "Ele tomou o pão, partiu-o e rendeu graças" (Lc XXII, 19; I Cor XI, 23ss). O próprio abismado na contemplação [profética] deste grandioso Mistério, cantou o hino: "Misericordioso e compassivo, fez o Senhor um memorial de Suas maravilhas, e deu alimento aos que O temem" (Sl CX, 4); mas julgou necessário antepor-lhe uma ação de graças, e por isso exclamou: "Digna de louvor e grandiosa é a Sua obra" (Sl CX, 3).

É freqüente dar-se-lhe também o nome de SACRIFÍCIO. Só mais tarde é que falaremos deste Mistério com mais vagar.

Chama-se igualmente COMUNHÃO, termo que deriva positivamente da passagem do Apóstolo: "O cálice da bênção, que benzemos, não é porventura a comunhão do Sangue de Cristo? E o pão, que partimos, não é por certo a participação do Corpo de Cristo?" (I Cor X, 16).

Com efeito, no sentir de São João Damasceno, este Sacramento nos liga com Cristo, faz-nos participar de Sua Carne e Divindade, une-nos e congrega-nos uns aos outros, articula-nos, por assim dizer, num só corpo no mesmo Cristo.

Tal é também a razão de chamar-se SACRAMENTO DA PAZ E CARIDADE, para nos dar a entender quanto são indignos do nome cristão os que cultivam inimizades, e quanto se faz mister exterminar radicalmente os ódios, rixas e discórdias, como sendo a mais negra peste entre os cristãos; isto tanto mais, porque no Sacrifício cotidiano de nossa Religião prometemos fazer o maior esforço possível por conservar a paz e a caridade.

Muitas vezes, os autores sagrados dão-lhe também o nome de VIÁTICO, por ser o alimento espiritual que não só nos sustenta na peregrinação desta vida, como também nos prepara o caminho para a eterna glória e felicidade.

Por esta razão, vemos a Igreja Católica observar o antigo preceito, que nenhum dos fiéis deve morrer, sem a recepção deste Sacramento.

Os mais antigos Padres da Igreja estribavam-se na autoridade do Apóstolo, quando deram algumas vezes o nome de CEIA à Sagrada Eucaristia, pelo fato de que Cristo Nosso Senhor a instituiu durante os salutares mistérios da Última Ceia.

Com isso, porém, não se quer dizer que seja lícito consagrar ou receber a Eucaristia, depois que se tenha comido ou bebido alguma coisa. Conforme diziam os antigos escritores, foram os Apóstolos que introduziram o salutar costume, desde então sempre mantido e observado, que as pessoas só recebam a Comunhão em jejum natural.

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