1 de fevereiro de 2009

Quarto Domingo depois da Epifania: Senhor! Salvai-nos, que perecemos!

Algumas explicações do Evangelho deste domingo (Mt VIII 23-27).

Homilia sancti Hieronymi Presbyteri
Homilia de São Jerônimo Presbítero

Liber 1 Comment. in cap. 8 Matth.

[O Senhor] realizou o [Seu] quinto sinal, quando, subindo numa barca em Cafarnaum, ordenou aos ventos e ao mar. O sexto, na região dos gerasenos, quando deu a uns demônios poder sobre uns porcos. O sétimo, quando, entrando em sua cidade, curou o segundo paralítico no seu leito (porque o primeiro paralítico foi o filho do centurião).

Eis que ele dormia, e vieram-Lhe e O acordaram dizendo: "Senhor, salvai-nos!". Um sinal desta sorte lê-se em Jonas: enquanto os outros estavam em perigo, esse estava seguro, e dormia - e foi
acordado. E, ordenando [que os outros lhe lançassem ao mar], pelo mistério do seu sofrimento,
livrou aqueles que o haviam acordado. Mas então [Nosso Senhor], despertando-se, ordenou aos ventos e ao mar. Daí entendemos que todas as criaturas reconhecem o Criador, porque aquilo a que repreendeu e ordenou sente Aquele que ordena - não segundo o erro herético que diz que todas as coisas têm uma alma racional, mas sim segundo a majestade o Feitor, o que é insensível para conosco, é sensível a Ele.

Os homens se maravilharam, dizendo: "De que sorte de homem é Esse, pois os vendos e o mar Lhe obedecem?". Não foram os discípulos, mas os marinheiros e os outros que estavam sobre a barca foram que se maravilharam. Mas, se alguém quiser dizer que o foram os discípulos, respondemos: então são justamente chamados "homens", [e não "discípulos"] os que ainda não conheciam o poder do Salvador.

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Homilia Origenis
Homilia de Orígenes


6 in diversis

Tendo o Senhor subido numa barca, seguiram-Lhe Seus discípulos: não imbecis, mas firmes e estáveis na fé, mansos e pios, desprezando o mundo, não de coração dúplice, mas simples. Esses, pois, seguiram-n'O, não tanto por seguir seus caminhos, mas mais por imitar a Sua santidade, e seguir a Sua justiça. E eis que se fez no mar uma grande tempestade, de sorte que as ondas entravam na barca. Fez-se uma tempestade grande, não pequena, para que uma grande obra não se exibisse em uma coisa pequena. Quanto mais entravam as ondas na barca, tanto mais o temor conturbava os discípulos, de modo que cava vez mais desejavam ser livres pela maravilha do Salvador.

Eis que o Senhor dormia. Dormia o Seu corpo, mas vigiava a Divindade. Dormia o corpo, para provocar que os apóstolos acordassem e vigiassem, mas principalmente todos nós, não seja que durmamos na alma, isto é, a inteligência e a prudência, mas vigiemos o tempo todo e jubilemos ao Senhor, e nos esforcemos para conseguir d'Ele a salvação. A Ele, pois, vieram os discípulos, e despertaram-n'O dizendo: "Senhor, salvai-nos, que perecemos!". E então lhes disse Jesus: "Porque estais conturbados, vós de pouca fé?". E, levantando-Se, ordenou aos ventos e ao mar, e se fez uma grande bonança. Manda ao mar, e esse não se rebela. Fala aos ventos e tempestades, e se acalmam. Manda a toda criatura, e o Seu mandato não se perde. Mas há uma raça humana que foi honrada com a semelhança de Deus, à qual foi dado o Verbo de Deus e a prudência: só esses homens é que ousam resistir! Somente esses são desobedientes, somente esses se rebelam! Por isso, somente esses serão castigados em juízo e punidos pela justiça. Fazem-se piores do que os animais mudos, ou do que aqueles que não tem espírito nem alma neste mundo.

Por meio disso tudo, o Senhor nos deu uma figura e uma imagem de doutrina: que nós, em toda conturbação e adversidade, pacientemente nos resignemos, estáveis sejamos, não abandonemos a fé. E, se este mundo, se agita tal qual o mar, e se consurge em furor, e se há muitos ventos e vertigens por toda parte em direção ao demônio; e se todas as ditas tempestades do mar, isto é, todos os principados e potestades do mundo, se concertam e inchados de ódio espumam enfurecendo-se contra os santos; e, se, desde agora até o céu, as tempestades dos mares, se acertam entre si para preparar malvadezas, prejuízos e muito barulho contra algum de vós: não temais, não vos conturbeis, não estremeçais, não vacileis. Todos vós, pois, que na barca da fé navegais com o Senhor; todos os que estão com o Senhor na barca da Santa Igreja. E, se Esse Senhor dormir o piedoso sono que espera a vossa paciência e tolerância, ou que se presta à penitência e conversão dos ímpois, então mais ativamente recorrei a Ele com instantes orações, dizendo, junto com o Profeta: "Acordai, Senhor! Por que dormis? Despertai! Não nos rejeiteis continuamente!" (Sl 43,24). E ainda: "Levanta-Vos, Senhor, ajudai-nos! E redimi-nos por causa do Vosso nome." (Sl 34, 23).

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Pensamento de Santo Agostinho:

Cristo dormiu, e por causa do perigo, os discípulos quedaram-se confusos. Por quê? Pois Cristo dormiu. Da mesma forma o teu coração cai em confusão, a tua barca, em inquietação, quando as ondas da tentação lhe acometem. Por quê? Pois tua fé dorme. Então, devem acordar Cristo no teu coração; então a tua fé deve ser acordada, tua consciência aquietada, tua nave acalmada.

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Explicação do Rev. Fr. Leonard Goffine
(adaptado d'"O Ano da Igreja", disponível virtualmente em inglês no sítio http://www.sanctamissa.org)

Este Evangelho nos ensina que devemos confiar sempre na Divina Providência. Cristo dormiu na barca para provar a confiança dos seus discípulos e para exercitá-los em suportar as perseguições, e não vacilar nas tentações. Cristo os repreendeu por causa de sua pouca fé, porque, se firmemente acreditassem que Ele era verdadeiro Deus, necessariamente acreditariam que Ele poderia socorrê-los tanto dormindo quanto acordado. Nada agrava tanto Deus quanto duvidar de sua poderosa assistência. O homem que confia nos outros homens, e não no Senhor, é amaldiçoado. Deus permite que certas "tempestades" (desgraças) físicas e morais nos aconteçam para exercitar a nossa confiança n'Ele somente. Da manifesta submissão das criaturas ao seu Criador, que vemos nesse Evangelho quando o Cristo Senhor ordenou o mar e os ventos, deveríamos aprender a fazer da contemplação das coisas criadas uma escada para subir, como São Francisco de Sales e São Francisco de Assis, até a contemplação de Deus, que dá a vida, o movimento e a existência a tudo o que existe, e assim nos inflamar-mos mais em amá-lo e desejá-lo.

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Observações: Os textos acima são traduções livres. Uma busca na internet não encontrou outras traduções para o português desses textos.

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