Meu jugo é suave.
1. O leão infernal não deixa de andar em redor de nós durante toda a nossa vida, para nos devorar, e por isso S. Pedro diz que devemos nos armar contra os seus assaltos com o pensamento da paixão de Cristo: “Havendo Cristo padecido na carne, armai-vos também do mesmo pensamento” (1Pd 4,1). S. Tomás afirma que só a lembrança da paixão é um forte anteparo contra as tentações do inferno. E S. Ambrósio, ou outro santo, escreve: Se o Senhor conhecesse uma outra via para a salvação, melhor que a do sofrimento, ele no-la teria feito conhecer: indo, porém, à frente com a cruz às costas, nos demonstrou que não há meio mais próprio para nos procurar a salvação que o sofrer com paciência e resignação e por isso quis ele mesmo dar-nos o exemplo na sua pessoa. Diz S. Bernardo que nós, contemplando as grandes aflições do Crucificado, acharemos mais suportáveis as nossas (Serm. 43 in Cant.).E em outro lugar: Que coisa te parecerá dura, se te recordares dos sofrimentos de teu Senhor? (Serm. de quadrupl. deb.). Tendo S. Delfina perguntado um dia ao seu marido S. Elzeário como podia suportar tantas injúrias com tão grande tranqüilidade, respondeu-lhe este: Quando me vejo injuriado, penso nas injúrias que meu Salvador crucificado e não ponho de lado tal pensamento enquanto não me sinto apaziguado. A ignomínia da cruz é agradável àquele que não é ingrato ao Crucificado, diz S. Bernardo (Serm. 25 in Cant.).Todas as almas que querem ser gratas a Jesus Cristo não detestam, mas se aprazem nos desprezos que recebem. Quem não receberá com prazer os opróbrios e os maus tratos, considerando somente os maus tratos que sofreu Jesus no começo de sua paixão, quando na casa de Caifás foi esbofeteado e pisado, e lhe escarraram no rosto, zombando dele como de um falso profeta, vendando-lhe os olhos com um pano, segundo o testemunho de S. Mateus? (Mt 26,27).
2. E como era possível os mártires sofrerem com tanta paciência os tormentos dos carnífices? Eram dilacerados com ferros, eram queima os nas grelhas: talvez não eram de carne ou perdiam os sentidos? não, mas eles não se punham a contemplar as suas feridas, mas as chagas do Redentor e assim pouco sentiam as próprias dores. Os tormentos não deixavam de os martirizar, mas eles os desprezavam por amor a Jesus Cristo. Não há dor tão atroz que não seja suportável à vista de Jesus morto na cruz. O Apóstolo escreve que nós pelos méritos de Jesus Cristo fomos enriquecidos com todos os bens (1Cor 1,5). Jesus, contudo, quer que, para obtermos as graças que desejamos, recorramos sempre a Deus por meio da oração e lhe supliquemos que nos ouça pelos méritos de seu Filho. E o próprio Jesus nos promete que, se assim procedermos, o Pai nos dará tudo o que pedirmos: “Em verdade, em verdade eu vos digo, se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, ele vo-la dará” (Jo 16,23). Dessa forma procediam os mártires, quando era excessiva a dor dos tormentos: recorriam a Deus e Deus subministrava-lhes a paciência para suportá-los. O mártir S. Teodato sentiu uma vez, no meio das crueldades a que o sujeitaram, uma dor tão acerba visto o tirano ter mandado intrometer-lhe nas chagas carvões ardentes, que ele suplicou a Jesus que lhe desse força para suportá-los e assim saiu vitorioso, terminando a vida no meio dos tormentos.
Nossa consolação na morte.
1. Não nos atemorizem, pois, todos os combates que temos de travar contra o mundo e contra o inferno; se formos prontos em recorrer a Jesus Cristo, ele nos concederá todos os bens, a paciência em todos os trabalhos, a perseverança e finalmente uma boa morte. Grandes são as amarguras que se sofrem na hora da morte e só Jesus Cristo pode dar-nos a constância e merecimento. Grandes são então especialmente as tentações do inferno, que se esforça de modo particular em arrastar-nos à perdição, vendo-nos próximos de nosso fim. Narra Rinaldo que S. Elzeário suportou as mais horríveis batalhas da parte dos demônios na hora da morte, apesar de ter levado uma vida tão santa. Ele afirma que grandes são as tentações do inferno nessa hora, mas que Jesus Cristo, com os merecimentos de sua paixão, abate as suas forças. Por isso quis S. Francisco que lhe recitassem a história da paixão na hora da morte. S. Carlos Borromeu, vendo-se próximo da morte, mandou colocar ao redor de si várias representações da paixão para entregar sua alma a Deus na contemplação dessas imagens. S. Paulo escreve que Jesus quis padecer a morte “a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e para livrar os que pelo temor da morte se achavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2,14-15). Assim quis Jesus morrer para destruir com sua morte as forças do demônio que tinha até então o império a morte e por esse meio livrar-nos da escravidão de Lúcifer e por conseguinte do temor a morte eterna. Quis submeter-se a todas as condições e paixões da natureza humana (exceto a ignorância, a concupiscência e o pecado) e para que fim? para se tornar misericordioso, isto é, tomando sobre si mesmo as nossas misérias, tivesse mais compaixão conosco, já que muito melhor se conheceu as misérias experimentando-as do que considerando-as, e dessa maneira se sentisse mais pronto a socorrer-nos, quando tentados na vida e especialmente na hora da morte. A isso se refere aquela palavra de S. Agostinho: “Se te perturbares pela iminência da morte, não te julgues um réprobo, nem te entregues ao desespero, pois foi para impedir isso que Cristo ficou perturbado em presença de sua morte” (Lib. Pronost.).
2. O inferno na hora de nossa morte empregará todos os esforços para nos fazer desesperar da misericórdia divina, pondo-nos diante dos olhos todos os pecados da nossa vida. A recordação, porém, da morte de Jesus Cristo nos dará coragem e confiança nos seus merecimentos, para que não temamos a morte. S. Tomás comenta o aludido texto de S. Paulo da seguinte forma: “Cristo por sua morte destruiu o temor da morte: quando o homem considera que o Filho de Deus quis morrer, perde o medo da morte”. Quando consideramos que o Filho de Deus quis sofrer a morte para nos obter o perdão dos pecados, desaparece o temor e vem o desejo de morrer. A morte para os pagãos é motivo de grande pavor, pois para eles, com a morte, acabam-se todos os bens. A morte de Jesus Cristo, porém, nos dá uma firme confiança de que, morrendo na graça de Deus, passaremos da morte à vida eterna. Desta esperança S. Paulo nos dá um argumento seguro, dizendo que o Padre eterno entregou à morte seu próprio Filho por nós todos, a fim de nos enriquecer com todos os bens, porque, dando-nos Jesus Cristo, nos deu o perdão, a perseverança final, o seu amor, a boa morte, a vida eterna e todos os bens.
Nosso advogado.
1. Quando o demônio nos turbar durante a vida ou na hora da morte, apresentando-nos os pecados de nossa mocidade, respondamos-lhes com S. Bernardo: : “O que me falta de minha parte eu me usurpo da misericórdia de meu Senhor” (Serm. 61 in Cant.). Os méritos que me faltam para entrar no paraíso, eu os adquiro dos merecimentos de Jesus Cristo, que quis padecer e morrer justamente para obter-me aquela glória eterna que eu não merecia. S. Paulo escreve: “Deus é que justifica. E quem é que condenará? Jesus Cristo, que morreu, e mesmo ressuscitou, que está à direita de Deus e que também intercede por nós (Rm 8,33-34). Estas palavras são sumamente consoladoras para nós pecadores. Deus é quem perdoa a nós pecadores e nos justifica com sua graça. Ora, se Deus nos faz justos, como poderá nos condenar como réus? Talvez nos condenará Jesus Cristo, “o qual para não nos condenar se entregou a si mesmo por nossos pecados para nos arrumar do presente século perverso?” (Gl 1,4).
2. Ele se sobrecarregou com nossos pecados e entregou-se à morte para nos livrar desse mundo perverso e conduzir-nos com segurança ao seu reino e chega até a fazer o papel de advogado e intercede por nós junto de seu Pai. “O qual também intercede por nós”. S. Tomás, explicando estas palavras, diz que no céu intercede por nós, apresentando a seu Pai as suas chagas suportadas por nosso amor. E S. Gregório não encontra dificuldade em afirmar (o que afinal alguns não concedem) que o Redentor como homem, mesmo depois de sua morte, continua a orar pela Igreja militante que somos nós (In Ps. poen. 5). A mesma coisa declarou já antes dele S. Gregório Nazianzeno: “Intercede, i. é, suplica por nós, interpondo a sua mediação” (Or. 4 de theol.). E S. Agostinho no salmo 29 diz que Jesus ora por nós no céu, para aí nos impetrar alguma nova graça, pois que na sua vida nos obteve o que podia nos impenetrar, mas ora para exigir de seu Pai, por seus merecimentos, a nossa salvação, já alcançada e prometida. E ainda que o Pai tenha conferido ao Filho todo o poder, contudo esse poder ele, como homem, não possui senão em dependência de Deus. A Igreja afinal não costuma pedir a Jesus que interceda por nós, considerando nele o que há de mais sublime, isto é, a sua divindade e por isso suplica-lhe que nos conceda, como Deus, o que nós lhe pedimos.
O consumidor da nossa fé.
1. Mas voltemos à confiança que devemos pôr em Cristo, quando se trata de nossa salvação. S. Agostinho nos anima, dizendo que o Senhor, que nos livrou da morte com derramamento de todo o seu sangue, não quer a nossa perdição e que, se as nossas culpas nos separam de Deus e nos merecem desprezo, nosso Salvador, por seu lado, não pode desprezar o preço de seu sangue, derramado por nós (Serm. 30 de temp.). Sigamos, pois, com confiança o conselho de S. Paulo: “Corramos pela paciência para o combate que nos é proposto, olhando para o autor e consumador da fé, Jesus, que, tendo diante de si o gozo, sustentou a cruz, desprezando a ignomínia” (Hb 12,1-2). Ele diz: Corramos pela paciência para o combate que nos é proposto: pouco nos adiantará o começar se não continuarmos a combater até ao fim. Por isso diz: corramos pela paciência: a paciência no sofrer o trabalho do combate nos obterá vitória e a coroa prometida ao que vencer. Esta paciência será igualmente a couraça que nos defenderá dos golpes do inimigo. Como, porém, obtermos essa paciência? “Olhando para o autor e consumador da fé, Jesus”. S. Agostinho diz que Jesus desprezou todos os bens da terra, para nos ensinar a desprezá-los e não buscar neles a nossa felicidade, e doutro lado quis suportar todos os males terrenos para nos ensinar a não temer as calamidades deste mundo, sujeitando-se ele mesmo às nossas misérias, à pobreza, à fome, à sede, às fraquezas, às ignomínias, às dores e à morte da cruz.(De catec. rud.). Mesmo com sua ressurreição gloriosa quis nos animar a não temermos a morte, pois, se lhe permanecermos fiéis até à morte, depois desta obteremos a vida eterna, que é isenta de todo o mal e cheia de todo o bem. É o que significam as palavras do apóstolo: “O autor e consumador da fé, Jesus”, pois assim como Jesus é para nós o autor da fé, ensinando-nos o que devemos crer e dando-nos ao mesmo tempo a graça de crê-lo,é também o consumador da fé, prometendo-nos que haveremos um dia de gozar daquela vida na qual nos ensina a crer. E a fim de nos certificar do amor que vos dedica esse nosso Salvador e da vontade que tem de nos salvar, S. Paulo acrescenta: “Que tendo diante de si o gozo, sofreu a cruz”. Explicando S. João Crisóstomo esta palavra, diz que Jesus podia salvar-nos levando uma vida de regalo neste mundo, mas ele, para nos certificar melhor do afeto que nos consagra, escolheu uma vida de sofrimentos e uma morte ignominiosa , morrendo pregado a uma cruz como um malfeitor.
2. Apliquemo-nos, pois, ó almas amantes do Crucifixo, no restante de nossa vida, a amar quanto possível esse nosso amável Redentor e a sofrer por ele, já que tanto quis sofrer por nosso amor. E não cessemos de suplicar-lhe que nos conceda o dom de seu santo amor. Bem-aventurados seremos se chegarmos a ter um grande amor por Jesus Cristo. O Ven. Pe. Vicente Caraffa, grande servo de Deus, diz o seguinte em uma carta que mandou a alguns jovens estudiosos e devotos: “Para reformarmos nossa vida inteira, é preciso pôr todo o empenho no exercício do amor de Deus. É só a caridade divina, quando entra em um coração e dele se apodera, que o purifica de todo o amor desordenado e o torna logo obediente e santo. S. Agostinho diz: “Coração puro é o que está vazio de todo o afeto”, e S. Bernardo escreve: “Quem ama, só ama e não deseja mais nada”, querendo dizer que quem ama a Deus, não deseja senão amá-lo e expulsa do coração tudo o que não é Deus. E é assim que o coração vazio se torna cheio, i. é, cheio com Deus, que consigo traz todos os bens e então os bens terrenos não encontram lugar nesse coração e nem o seduzem. Que atrativo poderão ter para nós os prazeres da terra, quando experimentamos as consolações divinas? Qual a força da ambição das honras vãs, o desejo das riquezas terrenas, quando temos a honra de ser amados por Deus e começamos a possuir em parte as riquezas do paraíso? Para conhecer o adiantamento que fizemos no caminho de Deus, basta observarmos o progresso que fizemos no seu amor, se fazemos a miúdo durante o dia atos de amor de Deus, se falamos freqüentemente de seu amor, se procuramos insinuá-lo aos outros, se fazemos nossas devoções só para agradar a Deus, se sofremos com perfeita resignação, por amor de Deus, todas as adversidades, as enfermidades, as dores, a pobreza, os desprezos e as perseguições. Dizem os santos que uma alma que ama verdadeiramente a Deus, deverá amar tanto quanto respira, pois a vida da alma tanto no tempo como na eternidade deve consistir em amar o nosso sumo bem, que é Deus”.
Acesso ao Pai.
1. Persuadamo-nos, porém, de que nunca chegaremos a adquirir um grande amor para com Deus, a não ser por meio de Jesus Cristo, e se não tivermos uma devoção particular para com sua paixão, por meio da qual ele nos alcançou a graça divina. Escreve o Apóstolo: “Porque por meio dele temos acesso junto ao Pai” (Ez 2,18). Se não fosse Jesus Cristo, o caminho das graças estaria fechado para nós pecadores: ele nos abriu a porta, nos introduziu perante o Pai e pelos merecimentos de sua paixão nos obtém dele o perdão de nossos pecados e todas as graças que precisamos. Infelizes de nós, se não tivéssemos Jesus Cristo! E quem poderá louvar e agradecer suficientemente o amor e a bondade que este bom Redentor nos demonstrou, querendo morrer por nós, pobres pecadores, para nos livrar da morte eterna? “É difícil haver quem morra por um justo, ainda que talvez alguém se anime a morrer por um bom” (Rm 5,7). Apenas se encontra quem queira morrer por um homem justo; mas Jesus Cristo quis dar a vida por nós, quando éramos pecadores: “Porque ainda quando éramos pecadores, em seu tempo, Cristo morreu por nós” (Rm 5,8-9). Por isso nos assegura o Apóstolo que, se estivermos resolvidos a amar Jesus Cristo a todo o custo, podemos esperar todo o auxílio e apoio do céu: “Se, quando éramos inimigos de Deus, fomos com ele reconciliados pela morte de seu Filho, muito mais agora, já reconciliados, seremos salvos pela vida deste” (Rm 5,10). Notem os que amam a Jesus que fazem injúria ao amor que nos consagra esse bom Salvador, quando temem que ele lhes negue as graças necessárias para se salvarem e fazerem-se santos. E para que nossos pecados não nos façam perder a confiança, continua S. Paulo: “Não acontece, porém, com o dom o mesmo que com o pecado, porque se pelo pecado de um morreram muitos, ainda mais abundantemente a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, se derramou sobre muitos” (Rm 5,15). Com isso quer significar que o dom da graça, alcançado pelo Redentor por sua paixão nos trouxe maiores bens do que foram os males ocasionados pelo pecado de Adão, já que têm maior valor os merecimentos de Jesus Cristo para obrigar a Deus a nos amar que o pecado de Adão para nos atrair o ódio do mesmo. “Pela graça de Jesus Cristo adquirimos maiores bens do que os que havíamos perdido pela inveja do demônio” (S. Leão Serm. 1 de ascens.).
2. Terminemos. Almas devotas, amemos Jesus Cristo, amemos esse Redentor que muito merece ser amado e muito nos amou, não deixando de fazer coisa alguma para ganhar o nosso amor. Basta saber que, por nosso amor, quis morrer consumido de dores numa cruz e, não contente com isso, deixou-se ficar no Sacramento da Eucaristia, onde em alimento nos dá o mesmo corpo que sacrificou por nós e em bebida o mesmo sangue que por nós derramou em sua paixão. Seríamos muito ingratos, não só ofendendo-o, mas também amando-o pouco e não lhe dedicando todo o nosso amor. Ó meu Jesus, pudesse eu me consumir inteiramente por vós, como o fizestes por mim. Mas, visto tanto me haverdes amado e me obrigado a amar-vos, ajudai-me então a não vos ser ingrato e muito ingrato eu seria se amasse alguma coisa fora de Vós. Vós me amastes sem reserva, também eu quero amar-vos sem reserva. Tudo abandono, renuncio a tudo para dar-me todo a vós e para não ter em meu coração outro amor senão o vosso. Aceitai-me, meu amor, por piedade, sem considerar os desgostos que vos causei no passado. Vede que eu sou uma daquelas ovelhas pelas quais derramastes vosso sangue: “Nós, pois, vos suplicamos que socorrais a vossos servos que remistes com vosso sangue precioso”. Esquecei-vos, meu caro Salvador, das ofensas que vos fiz. Castigai-me como quiserdes, livrai-me unicamente do castigo de não poder vos amar e depois fazei de mim o que vos aprouver. Tirai-me tudo, meu Jesus, mas não me priveis de vós, meu único bem. Fazei-me conhecer o que quereis de mim, que eu com vossa graça quero executar tudo. Fazei que eu me esqueça de tudo, para me recordar só de vós e das penas que sofrestes por mim. Fazei que eu em nada mais pense senão em dar-vos gosto e amar-vos. Por favor, olhai-me com aquele afeto com que me contemplastes no Calvário, ao morrer por mim na cruz, e ouvi-me. Em vós eu ponho todas as minhas esperanças. Meu Jesus, meu Deus, meu tudo. Ó Virgem santa, minha mãe e minha esperança, Maria, recordai-me ao vosso Filho e obtende-me a fidelidade no seu amor até à morte.
1. O leão infernal não deixa de andar em redor de nós durante toda a nossa vida, para nos devorar, e por isso S. Pedro diz que devemos nos armar contra os seus assaltos com o pensamento da paixão de Cristo: “Havendo Cristo padecido na carne, armai-vos também do mesmo pensamento” (1Pd 4,1). S. Tomás afirma que só a lembrança da paixão é um forte anteparo contra as tentações do inferno. E S. Ambrósio, ou outro santo, escreve: Se o Senhor conhecesse uma outra via para a salvação, melhor que a do sofrimento, ele no-la teria feito conhecer: indo, porém, à frente com a cruz às costas, nos demonstrou que não há meio mais próprio para nos procurar a salvação que o sofrer com paciência e resignação e por isso quis ele mesmo dar-nos o exemplo na sua pessoa. Diz S. Bernardo que nós, contemplando as grandes aflições do Crucificado, acharemos mais suportáveis as nossas (Serm. 43 in Cant.).E em outro lugar: Que coisa te parecerá dura, se te recordares dos sofrimentos de teu Senhor? (Serm. de quadrupl. deb.). Tendo S. Delfina perguntado um dia ao seu marido S. Elzeário como podia suportar tantas injúrias com tão grande tranqüilidade, respondeu-lhe este: Quando me vejo injuriado, penso nas injúrias que meu Salvador crucificado e não ponho de lado tal pensamento enquanto não me sinto apaziguado. A ignomínia da cruz é agradável àquele que não é ingrato ao Crucificado, diz S. Bernardo (Serm. 25 in Cant.).Todas as almas que querem ser gratas a Jesus Cristo não detestam, mas se aprazem nos desprezos que recebem. Quem não receberá com prazer os opróbrios e os maus tratos, considerando somente os maus tratos que sofreu Jesus no começo de sua paixão, quando na casa de Caifás foi esbofeteado e pisado, e lhe escarraram no rosto, zombando dele como de um falso profeta, vendando-lhe os olhos com um pano, segundo o testemunho de S. Mateus? (Mt 26,27).
2. E como era possível os mártires sofrerem com tanta paciência os tormentos dos carnífices? Eram dilacerados com ferros, eram queima os nas grelhas: talvez não eram de carne ou perdiam os sentidos? não, mas eles não se punham a contemplar as suas feridas, mas as chagas do Redentor e assim pouco sentiam as próprias dores. Os tormentos não deixavam de os martirizar, mas eles os desprezavam por amor a Jesus Cristo. Não há dor tão atroz que não seja suportável à vista de Jesus morto na cruz. O Apóstolo escreve que nós pelos méritos de Jesus Cristo fomos enriquecidos com todos os bens (1Cor 1,5). Jesus, contudo, quer que, para obtermos as graças que desejamos, recorramos sempre a Deus por meio da oração e lhe supliquemos que nos ouça pelos méritos de seu Filho. E o próprio Jesus nos promete que, se assim procedermos, o Pai nos dará tudo o que pedirmos: “Em verdade, em verdade eu vos digo, se pedirdes alguma coisa ao Pai em meu nome, ele vo-la dará” (Jo 16,23). Dessa forma procediam os mártires, quando era excessiva a dor dos tormentos: recorriam a Deus e Deus subministrava-lhes a paciência para suportá-los. O mártir S. Teodato sentiu uma vez, no meio das crueldades a que o sujeitaram, uma dor tão acerba visto o tirano ter mandado intrometer-lhe nas chagas carvões ardentes, que ele suplicou a Jesus que lhe desse força para suportá-los e assim saiu vitorioso, terminando a vida no meio dos tormentos.
Nossa consolação na morte.
1. Não nos atemorizem, pois, todos os combates que temos de travar contra o mundo e contra o inferno; se formos prontos em recorrer a Jesus Cristo, ele nos concederá todos os bens, a paciência em todos os trabalhos, a perseverança e finalmente uma boa morte. Grandes são as amarguras que se sofrem na hora da morte e só Jesus Cristo pode dar-nos a constância e merecimento. Grandes são então especialmente as tentações do inferno, que se esforça de modo particular em arrastar-nos à perdição, vendo-nos próximos de nosso fim. Narra Rinaldo que S. Elzeário suportou as mais horríveis batalhas da parte dos demônios na hora da morte, apesar de ter levado uma vida tão santa. Ele afirma que grandes são as tentações do inferno nessa hora, mas que Jesus Cristo, com os merecimentos de sua paixão, abate as suas forças. Por isso quis S. Francisco que lhe recitassem a história da paixão na hora da morte. S. Carlos Borromeu, vendo-se próximo da morte, mandou colocar ao redor de si várias representações da paixão para entregar sua alma a Deus na contemplação dessas imagens. S. Paulo escreve que Jesus quis padecer a morte “a fim de destruir pela morte aquele que tinha o império da morte, isto é, o diabo, e para livrar os que pelo temor da morte se achavam por toda a vida sujeitos à servidão” (Hb 2,14-15). Assim quis Jesus morrer para destruir com sua morte as forças do demônio que tinha até então o império a morte e por esse meio livrar-nos da escravidão de Lúcifer e por conseguinte do temor a morte eterna. Quis submeter-se a todas as condições e paixões da natureza humana (exceto a ignorância, a concupiscência e o pecado) e para que fim? para se tornar misericordioso, isto é, tomando sobre si mesmo as nossas misérias, tivesse mais compaixão conosco, já que muito melhor se conheceu as misérias experimentando-as do que considerando-as, e dessa maneira se sentisse mais pronto a socorrer-nos, quando tentados na vida e especialmente na hora da morte. A isso se refere aquela palavra de S. Agostinho: “Se te perturbares pela iminência da morte, não te julgues um réprobo, nem te entregues ao desespero, pois foi para impedir isso que Cristo ficou perturbado em presença de sua morte” (Lib. Pronost.).
2. O inferno na hora de nossa morte empregará todos os esforços para nos fazer desesperar da misericórdia divina, pondo-nos diante dos olhos todos os pecados da nossa vida. A recordação, porém, da morte de Jesus Cristo nos dará coragem e confiança nos seus merecimentos, para que não temamos a morte. S. Tomás comenta o aludido texto de S. Paulo da seguinte forma: “Cristo por sua morte destruiu o temor da morte: quando o homem considera que o Filho de Deus quis morrer, perde o medo da morte”. Quando consideramos que o Filho de Deus quis sofrer a morte para nos obter o perdão dos pecados, desaparece o temor e vem o desejo de morrer. A morte para os pagãos é motivo de grande pavor, pois para eles, com a morte, acabam-se todos os bens. A morte de Jesus Cristo, porém, nos dá uma firme confiança de que, morrendo na graça de Deus, passaremos da morte à vida eterna. Desta esperança S. Paulo nos dá um argumento seguro, dizendo que o Padre eterno entregou à morte seu próprio Filho por nós todos, a fim de nos enriquecer com todos os bens, porque, dando-nos Jesus Cristo, nos deu o perdão, a perseverança final, o seu amor, a boa morte, a vida eterna e todos os bens.
Nosso advogado.
1. Quando o demônio nos turbar durante a vida ou na hora da morte, apresentando-nos os pecados de nossa mocidade, respondamos-lhes com S. Bernardo: : “O que me falta de minha parte eu me usurpo da misericórdia de meu Senhor” (Serm. 61 in Cant.). Os méritos que me faltam para entrar no paraíso, eu os adquiro dos merecimentos de Jesus Cristo, que quis padecer e morrer justamente para obter-me aquela glória eterna que eu não merecia. S. Paulo escreve: “Deus é que justifica. E quem é que condenará? Jesus Cristo, que morreu, e mesmo ressuscitou, que está à direita de Deus e que também intercede por nós (Rm 8,33-34). Estas palavras são sumamente consoladoras para nós pecadores. Deus é quem perdoa a nós pecadores e nos justifica com sua graça. Ora, se Deus nos faz justos, como poderá nos condenar como réus? Talvez nos condenará Jesus Cristo, “o qual para não nos condenar se entregou a si mesmo por nossos pecados para nos arrumar do presente século perverso?” (Gl 1,4).
2. Ele se sobrecarregou com nossos pecados e entregou-se à morte para nos livrar desse mundo perverso e conduzir-nos com segurança ao seu reino e chega até a fazer o papel de advogado e intercede por nós junto de seu Pai. “O qual também intercede por nós”. S. Tomás, explicando estas palavras, diz que no céu intercede por nós, apresentando a seu Pai as suas chagas suportadas por nosso amor. E S. Gregório não encontra dificuldade em afirmar (o que afinal alguns não concedem) que o Redentor como homem, mesmo depois de sua morte, continua a orar pela Igreja militante que somos nós (In Ps. poen. 5). A mesma coisa declarou já antes dele S. Gregório Nazianzeno: “Intercede, i. é, suplica por nós, interpondo a sua mediação” (Or. 4 de theol.). E S. Agostinho no salmo 29 diz que Jesus ora por nós no céu, para aí nos impetrar alguma nova graça, pois que na sua vida nos obteve o que podia nos impenetrar, mas ora para exigir de seu Pai, por seus merecimentos, a nossa salvação, já alcançada e prometida. E ainda que o Pai tenha conferido ao Filho todo o poder, contudo esse poder ele, como homem, não possui senão em dependência de Deus. A Igreja afinal não costuma pedir a Jesus que interceda por nós, considerando nele o que há de mais sublime, isto é, a sua divindade e por isso suplica-lhe que nos conceda, como Deus, o que nós lhe pedimos.
O consumidor da nossa fé.
1. Mas voltemos à confiança que devemos pôr em Cristo, quando se trata de nossa salvação. S. Agostinho nos anima, dizendo que o Senhor, que nos livrou da morte com derramamento de todo o seu sangue, não quer a nossa perdição e que, se as nossas culpas nos separam de Deus e nos merecem desprezo, nosso Salvador, por seu lado, não pode desprezar o preço de seu sangue, derramado por nós (Serm. 30 de temp.). Sigamos, pois, com confiança o conselho de S. Paulo: “Corramos pela paciência para o combate que nos é proposto, olhando para o autor e consumador da fé, Jesus, que, tendo diante de si o gozo, sustentou a cruz, desprezando a ignomínia” (Hb 12,1-2). Ele diz: Corramos pela paciência para o combate que nos é proposto: pouco nos adiantará o começar se não continuarmos a combater até ao fim. Por isso diz: corramos pela paciência: a paciência no sofrer o trabalho do combate nos obterá vitória e a coroa prometida ao que vencer. Esta paciência será igualmente a couraça que nos defenderá dos golpes do inimigo. Como, porém, obtermos essa paciência? “Olhando para o autor e consumador da fé, Jesus”. S. Agostinho diz que Jesus desprezou todos os bens da terra, para nos ensinar a desprezá-los e não buscar neles a nossa felicidade, e doutro lado quis suportar todos os males terrenos para nos ensinar a não temer as calamidades deste mundo, sujeitando-se ele mesmo às nossas misérias, à pobreza, à fome, à sede, às fraquezas, às ignomínias, às dores e à morte da cruz.(De catec. rud.). Mesmo com sua ressurreição gloriosa quis nos animar a não temermos a morte, pois, se lhe permanecermos fiéis até à morte, depois desta obteremos a vida eterna, que é isenta de todo o mal e cheia de todo o bem. É o que significam as palavras do apóstolo: “O autor e consumador da fé, Jesus”, pois assim como Jesus é para nós o autor da fé, ensinando-nos o que devemos crer e dando-nos ao mesmo tempo a graça de crê-lo,é também o consumador da fé, prometendo-nos que haveremos um dia de gozar daquela vida na qual nos ensina a crer. E a fim de nos certificar do amor que vos dedica esse nosso Salvador e da vontade que tem de nos salvar, S. Paulo acrescenta: “Que tendo diante de si o gozo, sofreu a cruz”. Explicando S. João Crisóstomo esta palavra, diz que Jesus podia salvar-nos levando uma vida de regalo neste mundo, mas ele, para nos certificar melhor do afeto que nos consagra, escolheu uma vida de sofrimentos e uma morte ignominiosa , morrendo pregado a uma cruz como um malfeitor.
2. Apliquemo-nos, pois, ó almas amantes do Crucifixo, no restante de nossa vida, a amar quanto possível esse nosso amável Redentor e a sofrer por ele, já que tanto quis sofrer por nosso amor. E não cessemos de suplicar-lhe que nos conceda o dom de seu santo amor. Bem-aventurados seremos se chegarmos a ter um grande amor por Jesus Cristo. O Ven. Pe. Vicente Caraffa, grande servo de Deus, diz o seguinte em uma carta que mandou a alguns jovens estudiosos e devotos: “Para reformarmos nossa vida inteira, é preciso pôr todo o empenho no exercício do amor de Deus. É só a caridade divina, quando entra em um coração e dele se apodera, que o purifica de todo o amor desordenado e o torna logo obediente e santo. S. Agostinho diz: “Coração puro é o que está vazio de todo o afeto”, e S. Bernardo escreve: “Quem ama, só ama e não deseja mais nada”, querendo dizer que quem ama a Deus, não deseja senão amá-lo e expulsa do coração tudo o que não é Deus. E é assim que o coração vazio se torna cheio, i. é, cheio com Deus, que consigo traz todos os bens e então os bens terrenos não encontram lugar nesse coração e nem o seduzem. Que atrativo poderão ter para nós os prazeres da terra, quando experimentamos as consolações divinas? Qual a força da ambição das honras vãs, o desejo das riquezas terrenas, quando temos a honra de ser amados por Deus e começamos a possuir em parte as riquezas do paraíso? Para conhecer o adiantamento que fizemos no caminho de Deus, basta observarmos o progresso que fizemos no seu amor, se fazemos a miúdo durante o dia atos de amor de Deus, se falamos freqüentemente de seu amor, se procuramos insinuá-lo aos outros, se fazemos nossas devoções só para agradar a Deus, se sofremos com perfeita resignação, por amor de Deus, todas as adversidades, as enfermidades, as dores, a pobreza, os desprezos e as perseguições. Dizem os santos que uma alma que ama verdadeiramente a Deus, deverá amar tanto quanto respira, pois a vida da alma tanto no tempo como na eternidade deve consistir em amar o nosso sumo bem, que é Deus”.
Acesso ao Pai.
1. Persuadamo-nos, porém, de que nunca chegaremos a adquirir um grande amor para com Deus, a não ser por meio de Jesus Cristo, e se não tivermos uma devoção particular para com sua paixão, por meio da qual ele nos alcançou a graça divina. Escreve o Apóstolo: “Porque por meio dele temos acesso junto ao Pai” (Ez 2,18). Se não fosse Jesus Cristo, o caminho das graças estaria fechado para nós pecadores: ele nos abriu a porta, nos introduziu perante o Pai e pelos merecimentos de sua paixão nos obtém dele o perdão de nossos pecados e todas as graças que precisamos. Infelizes de nós, se não tivéssemos Jesus Cristo! E quem poderá louvar e agradecer suficientemente o amor e a bondade que este bom Redentor nos demonstrou, querendo morrer por nós, pobres pecadores, para nos livrar da morte eterna? “É difícil haver quem morra por um justo, ainda que talvez alguém se anime a morrer por um bom” (Rm 5,7). Apenas se encontra quem queira morrer por um homem justo; mas Jesus Cristo quis dar a vida por nós, quando éramos pecadores: “Porque ainda quando éramos pecadores, em seu tempo, Cristo morreu por nós” (Rm 5,8-9). Por isso nos assegura o Apóstolo que, se estivermos resolvidos a amar Jesus Cristo a todo o custo, podemos esperar todo o auxílio e apoio do céu: “Se, quando éramos inimigos de Deus, fomos com ele reconciliados pela morte de seu Filho, muito mais agora, já reconciliados, seremos salvos pela vida deste” (Rm 5,10). Notem os que amam a Jesus que fazem injúria ao amor que nos consagra esse bom Salvador, quando temem que ele lhes negue as graças necessárias para se salvarem e fazerem-se santos. E para que nossos pecados não nos façam perder a confiança, continua S. Paulo: “Não acontece, porém, com o dom o mesmo que com o pecado, porque se pelo pecado de um morreram muitos, ainda mais abundantemente a graça de Deus e o dom pela graça de um só homem, Jesus Cristo, se derramou sobre muitos” (Rm 5,15). Com isso quer significar que o dom da graça, alcançado pelo Redentor por sua paixão nos trouxe maiores bens do que foram os males ocasionados pelo pecado de Adão, já que têm maior valor os merecimentos de Jesus Cristo para obrigar a Deus a nos amar que o pecado de Adão para nos atrair o ódio do mesmo. “Pela graça de Jesus Cristo adquirimos maiores bens do que os que havíamos perdido pela inveja do demônio” (S. Leão Serm. 1 de ascens.).
2. Terminemos. Almas devotas, amemos Jesus Cristo, amemos esse Redentor que muito merece ser amado e muito nos amou, não deixando de fazer coisa alguma para ganhar o nosso amor. Basta saber que, por nosso amor, quis morrer consumido de dores numa cruz e, não contente com isso, deixou-se ficar no Sacramento da Eucaristia, onde em alimento nos dá o mesmo corpo que sacrificou por nós e em bebida o mesmo sangue que por nós derramou em sua paixão. Seríamos muito ingratos, não só ofendendo-o, mas também amando-o pouco e não lhe dedicando todo o nosso amor. Ó meu Jesus, pudesse eu me consumir inteiramente por vós, como o fizestes por mim. Mas, visto tanto me haverdes amado e me obrigado a amar-vos, ajudai-me então a não vos ser ingrato e muito ingrato eu seria se amasse alguma coisa fora de Vós. Vós me amastes sem reserva, também eu quero amar-vos sem reserva. Tudo abandono, renuncio a tudo para dar-me todo a vós e para não ter em meu coração outro amor senão o vosso. Aceitai-me, meu amor, por piedade, sem considerar os desgostos que vos causei no passado. Vede que eu sou uma daquelas ovelhas pelas quais derramastes vosso sangue: “Nós, pois, vos suplicamos que socorrais a vossos servos que remistes com vosso sangue precioso”. Esquecei-vos, meu caro Salvador, das ofensas que vos fiz. Castigai-me como quiserdes, livrai-me unicamente do castigo de não poder vos amar e depois fazei de mim o que vos aprouver. Tirai-me tudo, meu Jesus, mas não me priveis de vós, meu único bem. Fazei-me conhecer o que quereis de mim, que eu com vossa graça quero executar tudo. Fazei que eu me esqueça de tudo, para me recordar só de vós e das penas que sofrestes por mim. Fazei que eu em nada mais pense senão em dar-vos gosto e amar-vos. Por favor, olhai-me com aquele afeto com que me contemplastes no Calvário, ao morrer por mim na cruz, e ouvi-me. Em vós eu ponho todas as minhas esperanças. Meu Jesus, meu Deus, meu tudo. Ó Virgem santa, minha mãe e minha esperança, Maria, recordai-me ao vosso Filho e obtende-me a fidelidade no seu amor até à morte.
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