[Sermão] A árvore boa e a árvore má
Sermão para o Sétimo Domingo depois de Pentecostes
07 de julho de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
“Assim, toda árvore boa dá bons frutos e toda árvore má dá maus frutos.”
Desde o começo do mundo havia duas
árvores, desde a criação de Adão e Eva havia duas árvores. No paraíso
terrestre, havia várias árvores, mas havia duas árvores principais. A
árvore da vida e a árvore da ciência do bem e do mal. A primeira, a
árvore da vida, dava bons frutos: ela conservava a vida do homem e
cooperava, por virtude divina, para a imortalidade de nossos primeiros
pais, imortalidade que era dom puramente gratuito de Deus. A segunda
árvore dava maus frutos, era a árvore da ciência do bem e do mal, e seu
fruto era a morte. Deus mandou nossos primeiros pais comerem da primeira
– da árvore da vida – e de todas as árvores do paraíso, mas os proibiu
de comerem da segunda – da árvore da ciência do bem e do mal – para que
assim reconhecessem o domínio soberano de Deus sobre todas as coisas e
sobre eles mesmos em particular.
Ora, o fruto da primeira árvore é a vida
da graça, a justiça, a santidade, a vida de união e amizade com Deus e,
finalmente, a vida eterna. É a árvore da vida. O fruto da segunda é o
pecado mortal, o orgulho, a desobediência a Deus e a seus preceitos, a
inimizade com Deus e, finalmente, a morte eterna no inferno. Essas duas
árvores existem, de certo modo, ao longo de toda a história.
A árvore boa é constituída por Cristo e
por seus membros: “Eu sou a videira; vós, os ramos. Quem permanecer em
mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”,
nos diz Nosso Senhor (Jo XV). A árvore boa é aquela que ilumina as
inteligências com o ensinamento de Cristo. A árvore boa é aquela que
transmite aos homens a graça por meio dos sacramentos para que esses
possam observar – e observar com a alegria – a vontade de Deus. A árvore
boa é aquela que santifica os homens com a fé, a esperança, a caridade.
Com a humildade, a paciência, a fortaleza, a justiça, a pureza. A
árvore boa é aquela que fomenta a verdadeira paz, verdadeira paz que só
existe na ordem, que por sua vez só existe quando todas as coisas estão
ordenadas, voltadas para o Deus Uno e Trino. A árvore boa é aquela que
defende a verdadeira dignidade do homem, dignidade que se mede por sua
união com Deus. A árvore boa é aquela que defende e favorece a
verdadeira liberdade, verdadeira liberdade que não consiste em poder
fazer o bem ou o mal indiferentemente, mas que consiste em escolher os
meios bons para se fazer unicamente o bem. A árvore boa é aquela que nos
dá a verdadeira alegria, pois ela nos dá a posse do verdadeiro bem, que
é Deus. A árvore boa é aquela que ama verdadeiramente os homens, pois
quer o bem deles, isto é, sua salvação. Para tanto, essa árvore, como
uma boa mãe, não poupa esforços, admoestações, conselhos, preceitos e às
vezes castigos, necessários para o bem dos filhos. É essa a árvore boa,
nascida da árvore plantada no Cálvário, quer dizer, nascida da Cruz de
Cristo. É essa a árvore boa, que dá bons frutos para a vida eterna: ela
gera a santidade individual, o bem da sociedade e a glória de Deus. Não
há dúvidas, a árvore boa é a Igreja Católica, o Corpo Místico de Cristo,
da qual devemos ser ramos e ramos vivos pela fé, esperança e caridade.
A árvore má, por outro lado, é aquela que
o inimigo do genêro humano – o demônio – utiliza como seu instrumento
para perder as almas. Ele mente e é o o pai da mentira, desde o
princípio. Para Eva, ele prometeu sorrateiramente: se comeres da árvore
que está no meio do paraíso, sereis como Deuses. Ainda hoje, esse
inimigo nos promete, fraudulentamente, a felicidade pela desobediência
aos mandamentos de Deus. Ele faz de nós os ramos de sua árvore pelo
pecado mortal, esse pecado que nos separa de Deus e é a antecâmara do
suplício eterno. Os frutos dessa árvore são, como nos diz São Paulo, a
fornicação, a impureza, a luxúria, idolatria, feitiçaria, ódio,
discórdia, ciúme, ira, rivalidade, divisão, seitas, inveja, bebedeira,
orgias e outras coisas semelhantes (Gal V, 19-21). E o santo Apóstolo
completa: “Dessas coisas vos previno, como já vos preveni: os que as
praticarem não herdarão o Reino de Deus!” (Gal V, 21) E depois continua:
Não vos enganeis: nem os adúlteros, nem os efeminados, nem os
sodomitas, nem os ladrões, nem os avarentos, nem os difamadores, nem os
assaltantes hão de possuir o Reino de Deus” (I Cor VI, 10). Eis os
frutos dessa árvore má. São também frutos dessa árvore má as falsas
religiões, as seitas, a maçonaria, a teosofia, e outras sociedades do
mesmo tipo, bem como o esoterismo, tão em voga em nossos tempos.
Existem duas árvores, como existem duas
filiações. Existem os filhos da mulher, Nossa Senhora, e os filhos da
serpente, como está dito no Livro do Gênesis. Existem duas bandeiras,
como nos diz Santo Inácio: a do demônio e a de Cristo. O demônio quer
que nos coloquemos sob a sua bandeira pelo desejo das riquezas, pelo
amor da glória desse mundo, pelo orgulho desenfreado, pelo pecado. Nosso
Senhor, animado por caridade infinita para com o Deus e para conosco,
quer que o sigamos com a pobreza de espírito, quer dizer, pelo desapego
dos bens desse mundo, que são meros instrumentos. Ele quer que o sigamos
pelo desejo dos opróbios e menosprezos, contra a vanglória desse mundo.
Ele quer que o sigamos pela humildade, oposta ao orgulho. Ele quer que o
sigamos pela virtude. Coloquemo-nos sob a bandeira de Cristo, sob o
estandarte da Cruz. Escolhamos a Cristo por chefe e senhor, fazendo o
que ele nos ensinou, praticando a virtude. Escolhamos servir o exército
da Igreja de Cristo. Quando pelo pecado começarmos a nos afastar da
bandeira de Cristo para servir ao demônio, busquemos confiadamente a
confissão, o perdão de nossos pecados e busquemos servir ainda mais e
melhor a Nosso Salvador e à sua Igreja.
Mas tenhamos sempre em mente que essa
árvore má produz maus frutos unicamente na medida em que Deus o permite,
para tirar deles um bem maior. E Deus mostra sua onipotência e
sabedoria justamente tirando do mal um bem infinitamente superior. Do
pecado original de Adão e Eva, enganados pelo demônio, Deus tirou a
Encarnação de seu Filho Único. Seu Filho que vence o demônio na árvore
da Cruz, Cruz que, por sua vez, gerou a árvore da Igreja. Não se trata,
portanto, de equiparar as duas árvores, as duas filiações, os dois
exércitos. Um vem de Deus que é infinitamente poderoso e infinitamente
bom. O outro vem do demônio, uma criatura muito capaz, mas uma pobre
criatura que renegou o criador e que tenta imitá-lo, mas para o mal. Uma
pobre criatura que só age na medida em que Deus permite, e isso para
tirar dos males um bem maior.
Se pertencemos outrora aos ramos da
árvore má, e servimos à iniquidade como escravos do pecado, devemos
agora ser ramos de Cristo, filhos da Igreja Católica, e devemos servir à
justiça para chegarmos à santificação e à verdadeira liberdade,
liberdade de filhos de Deus, uma liberdade que exclui o mal. Sejamos
ramos de Cristo, do seu Corpo Místico que é a Igreja, e sejamos ramos
vivos. Nosso Salvador nos disse (Jo XV): “Eu sou a videira verdadeira, e
meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o
cortará; permanecei em mim e eu permanecerei em vós. O ramo não pode dar
fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Assim também vós: não
podeis tampouco dar fruto, se não permanecerdes em mim. Eu sou a
videira; vós, os ramos. Quem permanecer em mim e eu nele, esse dá muito
fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Se alguém não permanecer em mim
será lançado fora, como o ramo. Ele secará e hão de ajuntá-lo e
lançá-lo ao fogo, e queimar-se-á.”
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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