27 de julho de 2013

Maria Santíssima é o refúgio dos pecadores.

Convenite et ingrediamur civitatem munitam; et sileamus ibi — “Ajuntai-vos, e entremos na cidade fortificada, e guardemos aí silêncio” (Ier. 8, 14).

Sumário. Nas cidades antigas de refúgio, não achavam abrigo todos os delinqüentes, nem para toda a espécie de delitos. Mas debaixo do manto da proteção de Maria, todo o pecador acha refúgio, seja qual for o crime cometido; porquanto foi esta a vontade de Deus constituindo-a Refúgio dos pecadores. Não desanimemos, pois, meu irmão; mas, seja qual for o nosso estado, chamemos a divina Mãe em nosso auxílio e acha-la-emos sempre pronta a ajudar-nos em todas as necessidades. Invoquemo-la especialmente sob o título que ela preza tanto, de Mãe do Perpétuo Socorro.

I. Um dos títulos com que a santa Igreja nos manda recorrer a Maria, e que mais anima os pobres pecadores, é o titulo de Refúgio dos pecadores. Antigamente havia na Judéia umas cidades de refúgio, aonde iam parar os delinqüentes para ficarem livres do castigo que mereciam. Agora não há tantas cidades de refúgio como então, mas há uma só, que é Maria, da qual está escrito: Gloriosa dicta sunt de te, civitas Dei (1) — “Coisas gloriosas se têm dito de ti, ó cidade de Deus”. Há, porém, uma diferença. Nas cidades antigas não havia refúgio para todos os delinqüentes, nem para toda a espécie de delitos; mas, debaixo do manto de Maria todos os pecadores acham refúgio; seja qual for o delito que hajam cometido: basta que a ela recorram para se refugiarem. Pelo que São João Damasceno a faz dizer: “Eu sou a cidade de refúgio para todos aqueles que vêm a mim.” O Bem-aventurado Alberto Magno aplica à Virgem Maria estas palavras de Jeremias: Ajuntai-vos, e entremos na cidade fortificada.

Logo que alguém entrar nesta cidade mística, recuperará a graça divina. Nem sequer lhe é preciso falar para ser salvo. Et sileamus ibi — “Guardemos aí silêncio”. Sim, porque a Virgem piedosa, vendo-nos sem ânimo de pedir ao Senhor, falará por nós, e tão eficazmente, que, conforme a revelação de Jesus Cristo à Santa Brígida, ela obteria o perdão mesmo para Lúcifer, se (coisa aliás impossível) o espírito orgulhoso se humilhasse a pedir-lhe proteção.

Numa palavra, conclui São Bernardo, que Maria não tem horror de qualquer pecador, por imundo e abominável que seja. Contanto que recorra a Maria e lhe implore misericórdia, ela, o Refúgio dos pecadores, não hesitará em lhe dar a mão piedosa, afim de o arrancar do fundo da desesperação. Oh! seja sempre bendito e louvado nosso Deus, que nos deu uma Mãe tão doce e tão benigna. — ó Maria, infeliz de quem não vos ama! Infeliz de quem não recorre a vós, não confia em vós.

II. Meu irmão, seja qual for o estado da tua alma, ouve como São Basílio te anima: “Não desanimes”, diz o Santo, “mas em todas as tuas necessidades recorre a Maria; chama-a em teu auxílio, sempre a acharás pronta a te socorrer; pois que é esta a vontade de Deus, que ela socorra a todos e em todas as necessidades.

Invoca-a especialmente sob o título que lhe é tão caro, o de Mãe do Perpétuo Socorro. — Esta Mãe de misericórdia tem tão grande desejo de salvar os pecadores mais perdidos, que ela mesma os vai procurando para os auxiliar. Quanto mais, portanto, não auxiliará aos que a ela recorrem! Só se perde quem não recorre a Maria; mas quem jamais se perdeu depois de ter recorrido a ela e posto nela a sua confiança?

Ó Mãe do Perpétuo Socorro, eis aqui a vossos pés um pobre pecador, que recorre a vós e em vós confia, ó Mãe de misericórdia, compadecei-vos de mim. Eu ouço como todos vos chamam refúgio e esperança dos pecadores; sede, pois, meu refúgio e esperança minha. Socorrei-me pelo amor de Jesus Cristo; estendei a mão a um pobre pecador que se vos recomenda e para sempre se consagra ao vosso serviço. Eu dou graças e louvores a Deus, que na sua misericórdia me inspirou esta confiança em vós, a qual eu considero como penhor da minha eterna salvação. Se até agora tantas vezes tenho caído, foi por não ter recorrido a vós. Sei que por meio do vosso auxílio vencerei, e também que vós me acudireis, sempre que vos invocar; mas o que temo é esquecer-me de vós nas ocasiões do pecado, e assim me perder. Eis, pois, a graça que vos peço e encarecidamente vos suplico, de recorrer sempre a vós em todos os assaltos do inferno, dizendo: Ó Maria, valei-me; ó Mãe do perpétuo socorro, não permitais que eu perca a meu Deus (2). (*I 57.)

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1. Ps. 86, 3.
2. Indulgência de 100 dias.

(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo Segundo: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 301-303.)

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