[Sermão] São Paulo, modelo de fidelidade, caridade e humildade
Sermão para a Festa dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo
[Domingo,] 30 de junho de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
***
Caros católicos, falamos ontem de São
Pedro Apóstolo, da função que recebeu de NS: função de pedra fundamental
da Igreja, de chefe supremo da Igreja. Falamos do sucessor de São
Pedro, o Papa, e falamos da veneração que devemos ter por ele. A festa,
porém, é também de São Paulo Apóstolo. Na liturgia, São Pedro e São
Paulo estão sempre juntos. Quando se comemora a festa da conversão de
São Paulo (25 de janeiro), faz-se memória de São Pedro. Quando se
comemora a festa da Cátedra de São Pedro (22 de fevereiro), faz-se
memória de São Paulo. No dia 29 de junho, a festa é de ambos, mas como
em geral a ênfase é dada a São Pedro, foi instituída em 30 de junho a
comemoração de São Paulo, com memória de São Pedro. Ontem no dia da
festa de São Pedro e São Paulo, falamos de Pedro e do Papa. Hoje, na
solenidade dessa mesma festa, falaremos do Apóstolo Paulo. Os dois estão
assim tão unidos porque São Paulo cooperou, com São Pedro, de maneira
eminente para a edificação da Igreja de Roma. São eles as duas colunas
da Igreja Romana. Na frente da Basílica de São Pedro no Vaticano, vemos a
imagem dos dois apóstolos. São Pedro, pastor supremo com as chaves do
reino dos céus de um lado, e São Paulo, apóstolo com zelo extremado pela
glória de Deus e pela salvação das almas do outro lado, com a espada,
instrumento do seu martírio, mas também a espada da Palavra de Deus, que
ele tão bem manuseou para a conversão das pessoas. Os dois estão unidos
igualmente pelo martírio, pois foram para Deus no mesmo dia, 29 de
junho. São Pedro crucificado, mas de cabeça para baixo, pois não se
considerou digno de morrer como o Divino Mestre. São Paulo morreu
decapitado, pois era cidadão romano e ao cidadão romano era reservada
pena menos cruel e menos vergonhosa. Do Apóstolo São Paulo, podemos
destacar a fidelidade à Palavra de Deus, a caridade e a humildade.
Existem várias teorias que afirmam que é
São Paulo o mentor do cristianismo atual. A doutrina de Nosso Senhor
teria sido, então, mudada pelo Apóstolo Paulo, que teria feito várias
adaptações, que teria misturado a doutrina de Cristo com doutrinas de
religiões pagãs ou que teria misturado os ensinamentos de Cristo com
doutrinas esotéricas, ou que, de alguma forma teria corrompido as
palavras de NS. É claro que tais teorias são falsas e que, na verdade,
São Paulo é, para nós, um modelo de fé, de fidelidade aos ensinamentos
de Cristo. Primeiro, porque seria impossível que um homem mudasse
completamente a doutrina de NS logo após sua morte, ressurreição e
ascensão sem que os outros apóstolos e os outros discípulos fiéis
reagissem ensinando a verdadeira doutrina e condenando o erro. É o que
faz São João no Prólogo de seu Evangelho, proclamando a divindade de
Cristo contra as heresias gnósticas que começavam a surgir. Segundo, a
teoria de que São Paulo adultera a doutrina é falsa porque o próprio
Apóstolo São Paulo reitera à exaustão a sua fidelidade completa aos
ensinamentos de Cristo. São Paulo diz: há um só Deus e há um só mediador
entre Deus e os homens: Jesus Cristo, homem que se entregou como
resgate por todos. Tal é o fato, atestado em seu tempo; e deste fato (…)
fui constituído pregador, apóstolo e doutor dos gentios, na fé e na
verdade (I Tim. 2, 5-7). Ele diz também: “Julguei não dever saber coisa
alguma entre vós, senão Jesus Cristo, e Jesus Cristo crucificado.” Aos
coríntios, São Paulo diz que transmitiu aquilo que ele recebeu (I Cor
15, 3),e que recebeu do Senhor Jesus (I Cor, 11, 23). Aquilo que ele
recebeu, ele não recebeu nem aprendeu de homem algum, mas mediante uma
revelação de Jesus Cristo (Gálatas 1, 12). Ao seu caro discípulo
Timóteo, São Paulo ordena: “Guarda o precioso depósito, pela virtude do
Espírito Santo que habita em nós (II Timóteo 1, 14)”.
Ele pede a Timóteo que guarde o depósito que ele mesmo guardou durante
toda a sua vida, aquilo que ele recebeu de Cristo. Depóstio é justamente
aquilo que devemos guardar sem alterar, sem deteriorar. Foi o que fez
São Paulo com os ensinamentos de Cristo e foi o que ele ordenou aos
outros que fizessem. O apóstolo pode dizer com tranquilidade no fim de
sua vida: guardei a fé (II Tim 4, 7). O Evangelho de São Paulo é o
Evangelho de Cristo (Gálatas 1, 7), não há nenhuma diferença, e o labor
apostólico de São Paulo foi aprovado pelo Príncipe dos Apóstolos, São
Pedro (Gálatas 2). Portanto, caros católicos, a fidelidade de São Paulo
ao Evangelho é impressionante. Ele guardou aquilo que ele recebeu sem
mudar um só jota, pois era a Deus que ele servia e não aos homens. Ele
transmitiu intacto aquilo que ele recebeu.
Além da fidelidade perfeita aos
ensinamentos de Cristo, devemos notar e imitar a caridade de São paulo.
São Paulo não se assemlha a nós que nos entregamos somente em parte a
Deus. Não, São Paulo entregou-se inteiramente a Deus, desde o momento de
sua conversão. A amor de São Paulo por Cristo é tanto que ele pode
dizer sem medo que para ele “o viver é Cristo” (Fil 1, 21). Ele era
constrangido por amor a Cristo (II, Cor V, 14): considerando tudo o que o
Salvador fez para nos salvar, São Paulo não tinha como não amá-lo e
amá-lo por completo. Essa caridade intensa faz a alma de São Paulo pegar
fogo, ao ponto de querer fazer tudo para a maior glória de Deus. Como
ele nos ensina, é preciso fazer tudo, caros católicos, tendo em vista a
glória de Deus, para que o Senhor seja mais conhecido e amado. “Quer
comais quer bebais ou façais qualquer outra coisa, fazei tudo pela
glória de Deus” nos diz São Paulo (I Cor 10, 31). Devemos oferecer a
Deus mesmo as ações mais simples e mais rotineiras. Vale mais uma obra
simples feita por amor a Deus do que uma grande obra em que esse amor é
secundário ou está ausente. Para São Paulo, viver é Cristo e ele quer
que todos os homens vivam também para Cristo, para que possam se salvar.
Sua alma está incendiada pela caridade. Ele quer incendiar também as
outras. “Ai de mim, se eu não anunciar o evangelho” (I Cor 9, 16). Sâo
Paulo não poupou esforços e sofrimentos para fazer seu apostolado, para
levar as almas para NSJC. Ele próprio relata seus sofrimentos, para
mostrar o quanto deseja a salvação das almas: “Muitas vezes vi a morte
de perto. Cinco vezes recebi dos judeus os quarenta açoites menos um.
Três vezes fui flagelado com varas. Uma vez apedrejado. Três vezes
naufraguei, uma noite e um dia passei no abismo.Viagens sem conta,
exposto a perigos nos rios, perigos de salteadores, perigos da parte de
meus concidadãos, perigos da parte dos pagãos, perigos na cidade,
perigos no deserto, perigos no mar, perigos entre falsos irmãos!
Trabalhos e fadigas, repetidas vigílias, com fome e sede, freqüentes
jejuns, frio e nudez!” (II Cor 11, 22-28). Quantos sofrimentos
suportados por amor a deus e ao próximo. Quanta conformidade com a cruz
de Cristo. Quantas vezes nós, pobres pecadores, reclamamos, murmuramos,
nos impacientamos diante das tribulações, muitas vezes advindas de
nossas próprias faltas.
Finalmente, a humildade de São Paulo. Com
frequência, São Paulo é obrigado a falar dos benefícios concedidos a
ele por Deus, para mostrar as suas credenciais e para ter credibilidade
diante dos judaizantes, dos fariseus e outros que opunham ao Evangelho.
Todavia, mesmo mostrando todas as suas qualidades, São Paulo permanece
sempre com uma humildade profunda. Pois a humildade não é se tornar cego
às nossas qualidades, mas é reconhecer que não temos nada de bom que
não tenhamos recebido, em última instância, de Deus. É exatamente o que
diz São Paulo: “Que é que possuis que não tenhas recebido? E, se o
recebeste, por que te glorias, como se o não tivesses recebido?” (I Cor
4, 7). Com essa simples frase, São Paulo nos ensina o essencial da
humildade: o que temos de bom recebemos, em última instância de Deus, e
não devemos nos glorificar, mas glorificar a Deus. O que temos de bom
recebemos de Deus. O que temos ou fazemos de ruim tem em nós a sua
causa. Portanto, diante da tentação do orgulho, procuremos sempre
lembrar e aplicar essa frase do Apóstolo: o que temos de bom que não
tenhamos recebido de Deus? Nada. A humildade é a virtude da verdade e da
justiça. Reconhecemos nossos defeitos e qualidades: eis a verdade. Mas
atribuimos a deus as qualidade e a nós os defeitos: eis a justiça,
atribuindo a cada um o que lhe é devido. Agradecemos a Deus por nossas
qualidades, pois elas vêm dEle como fonte principal, e buscamos corrigir
nossos defeitos, que vêm de nós.
Aqui estão, caros católicos, algumas das
principais virtudes que fizeram de São Paulo esse grande apóstolo: a
fidelidade perfeita à revelação, sem respeito humano; a caridade intensa
para com Deus e para com os homens; uma grande humildade, reconhecendo
que Deus é a causa de todo o bem com a qual cooperamos. Procuremos
imitar São Paulo nessas três virtudes indispensáveis para a nossa vida
espiritual. Não cedamos à tentação de querer adaptar aquilo que Deus nos
ensinou às doutrinas e ideologias da moda. Busquemos fazer em tudo a
vontade de NSJC, ptaricando a caridade, e busquemos ajudar nosso próximo
a trilhar o caminho da virtude. Reconheçamos que todo o bem que
possuímos e temos vem de Deus.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
Esse post foi publicado em Festas Litúrgicas, Formativos, Sermões e marcado Homilias, Missa, Papa, Pe. Daniel Pinheiro, São Paulo, São Pedro, sermão por bonusmiles. Guardar link permanente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário