27 de abril de 2020

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

Parte 8/8

Um ímpio, ilustre ousou dizer que de forma alguma acreditava na fidelidade aos votos e obrigações por parte de certas almas, imiscuídas pelas suas obras na vida do século. "Elas caminham, acrescentava ele, por uma corda bamba. Hão de forçosamente cair". A esta injúria a Deus e a Igreja, é mister responder sem hesitação que essas quedas com certeza se evitam quando nos sabemos servir da preciosa maromba da vida interior e que, ao abandono deste meio infalível, se devem atribuir a vertigem e os passos em falso, os passos escandalosos para o precipício.
O admirável Jesuíta, Pe. Lallemant, remonta à causa inicial dessas catástrofes, quando diz: Muitos homens apostólicos nada fazem puramente por Deus. Procuram-se em tudo e sempre misturam interesse próprio com a glória de Deus em seus melhores empreendimentos. Passam destarte, a vida inteira, nessa mistura de natureza e de graça. Chega por fim a morte e só então é que abrem os olhos, só então vêem a sua ilusão, e tremem ao avizinhar-se do terrível tribunal de Deus.
Longe de nossa intenção está, por sem dúvida, o incluir no número dos apóstolos que se pregam a si mesmos, esse zeloso e esforçado missionário que se chamou o célebre Pe. Combalot. Mas será porventura inoportuna a citação das suas palavras, poucos momentos antes de morrer? " Tenha confiança, meu caro amigo, dizia-lhe o sacerdote depois de lhe ter administrado os últimos sacramentos. Tenha confiança, porque conservou sempre íntegra sua vida sacerdotal, e seus milhares de sermões hão de, por certo, diante de Deus, servir de atenuante à insuficiência de vida interior de que fala. - Os meus sermões! Oh! como eu agora os vejo por um prisma diferente! Os meus sermões! Se Nosso Senhor não for o primeiro a falar-me deles, não serei eu que começarei." Ao clarão da eternidade, esse venerável sacerdote, nas suas melhores obras de zelo, via imperfeições que inquietavam sua consciência e que atribuía à falta de vida interior.
O Cardeal Du Perron, à hora da morte, mostrava-se arrependido porque, durante a vida, mais se dedicara ao aperfeiçoamento de sua inteligência pelas ciências que ao da vontade pelos exercícios da vida interior. Ó Jesus, apóstolo por excelência, houve porventura alguém que jamais se prodigaliza-se tanto como vós, enquanto entre nós habitáveis? Hoje, ainda com maior abundância vos dais aos homens por meio da vossa vida eucarística, sem que para isso jamais deixeis o seio de vosso Pai! Oxalá nunca esqueçamos que vós quereis tomar conhecimento apenas daqueles nossos trabalhos que forem animados por um princípio verdadeiramente sobrenatural e que mergulharem suas raízes no vosso Coração adorável.

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