5 de maio de 2013

QUINTO DOMINGO DEPOIS DA PÁSCOA

O milagre dos séculos

No Evangelho deste Domingo destaca-se o grande desejo de Nosso Senhor de ser amado pelos homens: O meu Pai vos ama, diz Ele, porque vós me amastes.

O amor é um dom de Deus, e como todo dom, para ser recebido deve ser pedido, Jesus repreende os apóstolos de não terem bastante pedido este amor a Deus, em seu nome.

Continuando o nosso estudo apologético da Pessoa de Jesus Cristo, apliquemos-Lhe esta frase do Evangelho: “Ele quer ser amado pelos homens, e profetizou que seria amado”; completando-a por uma outra, em que Ele prediz que seria odiado pelo mundo.

São duas profecias de Jesus Cristo: Tais profecias realizaram-se plenamente. Logo Jesus Cristo é Deus.

1. Jesus pede e obtém o amor.
2. Jesus profetiza e obtém o ódio.

Contemplando o mundo, notamos este estranho fenômeno: ninguém fica indiferente: os homens amam a Jesus Cristo, ou o odeiam.

I. Jesus pede e obtém o amor

Cada página do Evangelho nos exprime esta grande aspiração de Jesus Cristo: ser amado pelos homens.

É o grande, o primeiro mandamento da lei: Amarás o teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todas as tuas forças.

Notemos que, não somente Ele quer ser amado, mas quer ser amado por todos, acima de tudo, e diz abertamente que há de sê-lo.

São estranhas estas afirmações.

Ser amado de umas pessoas: é a grande aspiração do homem; mas, quem já se lembrou em querer ser amado por todos? Ninguém: o homem quer honras, glórias, riquezas, felicidade sem medida, mas ele se contenta facilmente com o amor de um coração ou de poucos corações.

Jesus Cristo sai deste limite estreito; Ele aspira pelo amor de todos.

E não se contenta, ainda, com este amor universal; exige um amor acima de tudo, isto é: um amor que faça empalidecer todos os demais amores.

Os pais amam a seus filhos, como sendo um pedaço de seu coração; os filhos amam a seus pais, como sendo um prolongamento da existência destes; este amor sagrado é um verdadeiro culto, pois bem, Jesus Cristo quer ser amado acima deste amor e não hesita em declarar que Quem ama a seu pai e a sua mãe, mais do que a Ele não é digno dele.

O amor da mãe para o seu filhinho e a expressão do que há de mais forte e terno no amor humano; pois bem, Jesus Cristo quer ser mais amado do que este recém-nascido e declara não ser digno dele quem amar o filho ou a filha mais do que a Ele!

Parece uma loucura; e em condições semelhantes com tamanhas exigências, parece que Jesus Cristo se expõe ao ridículo.

Mas aí não se limita a exigência do Salvador. Este amor tão absoluto, Ele nos anuncia que há de obtê-lo depois da sua morte.

Não foi Ele amado durante a sua vida, mas anuncia que o será após a sua morte.

Ele tão amável, tão bom, tão carinhoso, trazendo sobre o seu semblante, a beleza divina da santidade, foi traído durante a sua vida, cuspido, maltratado, pregado numa cruz, e no meio deste desprezo, Ele profetiza que depois de morto, seria amado por todos, acima de tudo, com um amor de paixão e de êxtase.

Oh! Verdadeiramente, ou Jesus Cristo não conhece o coração humano, ou é louco, a menos que seja Deus.

Ora, Jesus Cristo alcançou o que pediu. A humanidade ama ao Cristo, serve ao Cristo, se imola pelo Cristo, e proclama este amor pelas suas virtudes, e as suas obras. Logo Ele é Deus.

II. Jesus profetiza e obtém o ódio

A esta prova de divindade de Jesus Cristo é preciso juntar-se a contra-prova, isto é, uma outra profecia não menos estranha que a primeira e não menos admiravelmente realizada.

Jesus Cristo profetizou que seria odiado: e Ele recebeu e recebe diariamente este ódio.

É a coisa mais incompreensível na vida de Jesus.

Ele veio a este mundo, pobre, humilde, cresceu no trabalho e na pobreza, aureolado de pureza e de bondade; depois passou a sua vida fazendo o bem a todos, amando a todos, ensinando a todos, uma doutrina de amor e de perdão, e ei-Lo a profetizar que será perseguido, odiado durante a sua vida e após a sua morte; não somente Ele, mas seus discípulos... e que por ódio a Ele estes seriam lançados nos cárceres, citados perante os tribunais, sacrificados, mortos como criminosos e isto não somente numa época, num país, mas pelos séculos e as nações afora... Isto é incompreensível!

E o que é mais incompreensível ainda é que tal profecia haja sido levada a efeito e se leva com um rigor matemático e com uma barbaridade sem medida.

É difícil fazer-se amar... mas é mais difícil ainda fazer-se odiar.

Tem havido homens monstruosos neste mundo, dignos do ódio da humanidade em peso... mas quem os odeia hoje?

Quem odeia Juliano, o apóstata? Nero, Marco Aurélio, Domiciano, estes matadores de cristãos?

Quem odeia a Lutero e a nauseabunda caterva de apóstatas que o seguiram na libertinagem e na heresia, como Calvino, Zwinglio, Henrique VIII, Leyde, Knox, Fox, Wesley?

O nome desta série de assassinos ou libertinos excita um movimento de compaixão, mas não de ódio, de desprezo, e de raiva.

São nomes que mancharam, pelos seus crimes, as páginas da história, mas cuja lembrança deixa os homens indiferentes... Nem merecem o ódio: basta dar-lhes o desprezo.

Quando se trata de Jesus Cristo, o caso é todo diferente: Ele é um benfeitor, um ser puro, santo, sem mácula, e houve e sempre há homens que nem sequer podem ouvir o seu nome sem trepidar de ódio.

Para os seres perversos merecedores de ódio o esquecimento se estendeu sobre a sua vida; e ninguém mais se incomoda com o seu nome e a sua vida; somente Jesus Cristo tem a honra e a glória de ter suscitado um ódio inextinguível.

Porque este ódio?

A razão é que nós odiamos o que nos incomoda, o que faz obstáculo, o que nos esmaga.

No dia porém, que tal obstáculo desaparece, que este peso esmagador é reduzido em pó... O ódio desaparece, sendo substituído pelo desprezo.

Só para com Jesus Cristo o ódio nunca se apagou... e o desprezo nunca se estendeu sobre a sua cabeça. Que quer dizer isso?

Quer dizer que Jesus Cristo nunca enfraquece... nunca diminui... mas que sempre incomoda as paixões, como sempre esmaga a vileza e o crime: Ele é sempre Rei e sempre vencedor. Logo Ele é Deus.

III. Conclusão

A conclusão dos dois fatos assinalados, inegáveis, é a mesma que temos tirado da contemplação da fisionomia, da personalidade e dos milagres de Jesus Cristo.

Temos aqui dois fatos únicos na história humana, que nos fazem, como que apalpar o dedo de Deus, ou melhor a própria divindade.

Jesus Cristo fez esta dupla profecia: que após a sua morte seria amado até ao êxtase e odiado até à frenesi.

E estes dois fenômenos, que nunca encontraram a sua realização em ninguém, são plenamente cumpridos n’Ele.

Ganhar o amor dos homens durante a vida é possível; ganhá-lo depois da morte é impossível.

Tem havido criaturas belas, bondosas, bem fazejas, que souberam atrair a simpatia durante a vida: depois da morte foram esquecidas como as demais.

A história registra homens que foram odiados durante a sua vida; nenhum deles nem sequer Judas, Barrabás, Herodes, depois de mortos, receberam o ódio da humanidade; apenas o desprezo segue a sua memória.

Jesus Cristo é amado com um amor apaixonado neste mundo; sofre-se para Ele a perseguição e o martírio.

É coisa única: Ele é odiado até o tresvario pelos viciados, como vemos nos comunistas hodiernos e muitos outros inimigos da religião.

Porque isso?

Não ha outra razão a não ser a sua grandeza sobre-humana, a sua santidade sem sombra a sua divindade radiante, que deslumbra os sequazes das trevas.

Ele é Deus! É esta divindade que lhe merece o amor de uns e o ódio dos outros; o amor apaixonado das almas puras, o ódio até a insânia das almas perversas.

É o grande e perpétuo milagre dos séculos.

EXEMPLO

O heroísmo do amor

Citemos aqui uma bela página de Monsenhor Bougaud, falando de Jesus Cristo e provando o que acabamos de expor:

“Jesus Cristo, é Ele amado como o desejava? É Ele amado com este amor soberano que eleva as almas, até aos maiores sacrifícios?

É Ele amado com este mor que faz empalidecer todos os outros amores?

Oh, sim, perfeitamente! Se alguém duvidasse bastaria ir bater às portas de um convento de religiosas.

Ali, pergunte a esta jovem, talvez rica, bela, instruída, que podia pretender às honras e ao amores do mundo, porque na idade da beleza e das ilusões, ela deixou tudo para ir esconder-se atrás dos muros deste convento e sob um véu preto que a esconde para sempre aos olhos dos mundanos, ela responderá: Amo Christum.

Eis o amor de Jesus Cristo: ele é tão forte que faz a virgem cristã... faz a Irmã de Caridade... faz a irmãzinha dos pobres, dos leproso, dos pestíferos!

Ele faz o apóstolo, faz o mártir. Este amor de Cristo toma o homem em sua fraqueza e seu egoísmo, e coroando-o com o tríplice diadema da virgindade, do martírio e do apostolado eleva-o até aos cumes mais divinos do amor.

Ele faz mais do que isso. Sofrer, morrer, não constitui o cume do amor, porque não é cúmulo do sacrifício.

O cumulo do sacrifício é ver morrer aqueles que amamos!

O cume mais alto do amor, para uma mãe, por exemplo, não é dar a sua vida a Jesus Cristo mas dar-lhe a vida de seu filho. E isto tem aparecido. Sem falar do exemplo de Abrahão, têm-se visto mães que amaram a Jesus Cristo com este amor, até sacrificar-lhe o seu próprio filho.

Jesus Cristo teve a ousadia de pedir isto e Ele o obteve.

Sim, apenas havia Ele morrido crucificado e logo mães Cristãs tomaram o seu filho, puseram-no sobre os joelhos e exclamaram: Meu filho, prefiro ver-te morto do que ver-te trair a Jesus Cristo.

E o que diziam, elas o faziam.

Elas acompanharam seus filhos perante os tribunais... desciam com eles ao Coliseu... subiam com eles ao patíbulo... exaltavam-nos com seu entusiasmo... e se receavam que enfraquecessem na luta, elas se prostravam de joelhos diante deles e diziam: - Meu filho, lembra-te que te carreguei em minhas entranhas... que te amamentei com meu leite: por compaixão para tua mãe, não renegues a Jesus Cristo!

O que deve sofrer uma mulher, uma mãe em tais circunstâncias, o que sofreram uma Santa Felicidade, uma Symphorosa e tantas outras que as imitaram, nunca palavra humana será capaz de exprimi-lo.

Sentimos que, para recompensar tamanhos sacrifícios, não será demais dar-lhes uma eternidade de gozo, com os seus filhos nos braços.

Ah! A comoção me invade! Quem é aquele que tem alcançado tal amor?

Quem é aquele que, numa pequena cidade da Palestina, pôde dizer um dia: Eu quero ser amado por todos, quero ser amado acima de tudo, que o disse e alcançou um amor que apaga todos os outros amores?

Ah, digam-me, quem é Ele?

Quem terá a ousadia de dizer que Ele é apenas um homem?

Napoleão respondeu um dia a esta pergunta, dizendo: O Cristo exigiu o amor dos homens. Ele o obteve plenamente. Basta para mim e concluo: Ele é Deus!

(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 202 - 209)

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