Sermão para a Solenidade da Ascensão
12 de maio de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
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Se alguém ouviu falar em uma aparição de
Nossa Senhora Aparecida aqui no Distrito Federal, por favor não se deixe
enganar. O Padre responsável por isso abandonou a Igreja Católica,
depois abandonou uma Igreja Ortodoxa, portanto cismática, e fundou sua
própria religião, casando-se e divorciando-se várias vezes. O que
acontece ali é obviamente algo puramente natural, não há nada de
sobrenatural e não há nada de católico, apesar de Nossa Senhora
Aparecida ser invocada para atrair e enganar os católicos. Mais uma vez,
peço que não se deixem levar e enganar por essas supostas aparições
recentes, que prejudicam as almas. (Nota do Editor: ver o sermão “A Armadilha das falsas aparições”)
Peço as orações de todos pelo Apostolado para que possa avançar materialmente e, sobretudo, espiritualmente.
Celebramos hoje a Solenidade da Ascensão.
A Festa acontece sempre na quinta feira após o V Domingo depois da
Páscoa, 40 dias depois da Páscoa. A Ascensão é festa de Preceito, mas
como no Brasil não é feriado, não existe, para a Ascensão, a obrigação
de ir à Missa na quinta-feira. Mas para que os fiéis não fiquem sem a
graça própria do Mistério da Ascensão, a Igreja faz a solenidade no
Domingo seguinte. A graça própria do Mistério da Ascensão está expressa
na Coleta de hoje: que nós tenhamos nosso espírito já no céu, que nós
possamos desejar o céu. Fazer a solenidade de Festas no Domingo não é
algo tão recente quanto parece. Pelo menos desde o tempo de São Pio X há
essa prática, depois que esse Santo Papa fez algumas mudanças no
Calendário, tirando certas festas do Domingo. Foi permitido, então,
fazer a solenidade delas no Domingo. A necessidade de fazer essas
solenidades de festas de preceito surge com a prejudicial separação da
Igreja e do Estado, fazendo que os feriados civis já não correspondam
aos dias de preceito, prejudicando a prática da Religião.
***
E o Senhor Jesus, depois que assim lhes falou, elevou-se ao céu, e está sentado à direita de Deus.
Nessa solenidade da Ascensão, caros
católicos, devemos considerar a alegria que nos causa a Ascensão de
Cristo, devemos considerar a importância dos 40 dias que Nosso Senhor
passou na Terra depois da Ressurreição e devemos considerar a
importância das últimas palavras de Cristo.
Como dissemos no último Domingo, caros
católicos, a Ascensão do Senhor poderia parecer para nós motivo de
tristeza, pois nos tira a presença física de Nosso Senhor. Ao contrário,
porém, ela deve ser para nós motivo de grande alegria. Alegria pelo que
a Ascensão significa para Cristo e alegria pelo que ela significa para
nós.
Motivo de alegria pelo que a Ascensão significa para Cristo.
Aqui na Terra foi condenado pelo tribunal dos homens, humilhado,
tratado como um verme. Foi zombado pelos homens por ter atribuído a si a
divindade e os atributos divinos. A Ascensão é a resposta de Nosso
Senhor e da Santíssima Trindade. Aquele que é perseguido e humilhado por
causa da justiça – e justiça quer dizer aqui santidade – será exaltado.
Nosso Senhor ressuscitou e subiu aos céus por sua própria virtude,
demonstrando a sua divindade. Ele sobe aos céus para sentar-se à direita
do Pai. Como falamos, à direita, porque Nosso Senhor é também Deus como
o Pai é Deus e como o Espírito Santo é Deus, nem inferior, nem
superior, nem acima nem abaixo, mas à direita. As três pessoas são um só
Deus. E ele está sentado. O estar sentado é a posição do soberano.
Estar sentado à direita do Pai significa a realeza de Cristo, significa
que ele detém o poder de governo, de legislador, de juiz. Nosso Senhor é
rei imortal, rei das almas e das nações. Além disso, já não convinha ao
corpo glorioso de Cristo habitar aqui embaixo. O corpo glorioso demanda
uma habitação que corresponda à sua glória: o céu. Finalmente, com a
Ascensão nós temos a certeza de que o sacrifício de Cristo na Cruz foi
agradável a Deus. No Antigo Testamento, a aceitação do sacrifício era
simbolizada pela fumaça que subia aos céus, dirigindo-se para Deus. No
Novo Testamento, é a Ascensão de Nosso Senhor que manifesta a aceitação
plena do sacrifício oferecido no Calvário. Com a Ascensão, a justiça
está plenamente realizada. A obediência e a caridade infinita de Nosso
Senhor Jesus Cristo recebem a recompensa completa com a Ascensão. Só
podemos nos alegrar com tal fato.
A Ascensão de Cristo também é para nós motivo de alegria pelos benefícios que nos traz.
Motivo de alegria porque Nosso Senhor age, no céu, para aplicar os
méritos infinitos adquiridos durante sua vida aqui na Terra, adquiridos
sobretudo durante sua paixão e morte. Alegria porque Cristo, tendo
subido aos céus, nos enviou o Espírito Santo, para ensinar toda a
verdade aos Apóstolos e à Igreja, e para dar a força necessária para
transmitir e viver essa verdade. A Ascensão do Senhor é motivo de
alegria porque favorece as três virtudes teologais: fé, esperança e
caridade. A Ascensão aumenta o mérito da nossa fé. Nossa fé tem muito
mais valor com Cristo no céu do que se Ele estivesse entre nós
fisicamente, pois a fé é daquilo que não se vê. A Ascensão aumenta nossa
esperança, pois aumenta o nosso desejo do céu e nos dá a certeza de
que, auxiliados com a graça divina, podemos chegar até o céu. Se a
cabeça subiu ao céu, também os membros devem subir. Assim, se vivermos
como bons católicos, seremos membros de Cristo e subiremos ao céu junto
com Ele. E Nosso Senhor diz que vai preparar o nosso lugar na casa do
Pai, o que é motivo de grande esperança. A Ascensão de Cristo aumenta
também a caridade. Nosso coração, nosso amor se encontra onde está o
nosso tesouro. Ora, nosso tesouro é Cristo, no qual se encontra a nossa
salvação. Assim, a Ascensão nos faz amar as coisas do alto e os meios
para alcançar as coisas do alto, que são os mandamentos e a fé católica e
impede um amor muito terreno a nosso salvador. Grande deve ser, então,
nossa alegria nesse dia da Ascensão do Senhor.
Consideremos, agora, brevemente a
importância dos 40 dias entre a Ressurreição e a Ascensão do Senhor.
Depois de sua Ressurreição, Nosso Senhor Jesus Cristo passou quarenta
dias na terra, para provar por muitos meios sua Ressurreição e para
falar aos apóstolos e discípulos sobre o reino de Deus, como nos diz São
Lucas nos Atos dos apóstolos hoje (Atos I). Portanto, Nosso Senhor
passou esses quarenta dias instruindo os apóstolos sobre as verdades de
fé, sobre a Igreja e sua constituição hierárquica, sobre as Sagradas
Escrituras. Foi nesse período que, muito provavelmente, Nosso Senhor
instituiu quatro dos sete sacramentos: os sacramentos da confissão, da
crisma, da extrema-unção, do matrimônio. Muito pouco do que Cristo
ensinou nesses quarenta dias nos foi transmitido pela Sagrada Escritura.
Como é óbvio, caros católicos, nem tudo o que Nosso Senhor ensinou está
contido na Sagrada Escritura, ao contrário do que pretendem os
protestantes. São João Evangelista diz que Jesus fez ainda muitas coisas
que não foram escritas (São João XXI, 25). É a própria Sagrada
Escritura que afirma que Cristo fez coisas que não estão contidas na
Bíblia, mas que se transmitem pela Tradição. Quem lê a Sagrada Escritura
com honestidade e reta intenção se dá conta dessa evidência. Esses
quarenta dias que antecederam a Ascensão de Cristo e os ensinamentos do
Divino Mestre nesse período com a instituição de quatro dos sete
sacramentos são, então, importantíssimos para a nossa salvação.
Finalmente, podemos considerar brevemente
as últimas palavras de Cristo antes de sua Ascensão. As últimas
palavras de uma pessoa são o seu testamento espiritual, refletem o que
tem de mais importante para essa pessoa. Nosso Senhor diz aos apóstolos
“Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a criatura. O que crer e
for batizado, será salvo. O que, porém, não crer, será condenado.”
Essas últimas palavras expressam aquilo que moveu Nosso Senhor durante
toda a sua vida aqui na terra: o desejo de que as pessoas se salvem.
Mas, para tanto, é preciso que o Evangelho seja pregado, que as pessoas
tenham a fé, e uma fé viva, acompanhada das obras, da prática dos
mandamentos. É preciso que elas sejam batizadas. É essa a finalidade da
Igreja: pregar o Evangelho, transmitir a fé, administrar os sacramentos
para levar as almas para o Céu. Diante disso, vale lembrar que começa
hoje, no Brasil, a semana de oração para a unidade dos Cristãos. É
preciso lembrar que como cantamos no Credo, a Igreja de Cristo, que é a
Igreja Católica já é una: ela é una pela unidade da fé, pela unidade dos
sacramentos e pela unidade de governo, sob o Santo Padre. A Igreja de
Cristo, a Igreja Católica não perdeu nem pode perder a sua unidade.
Aqueles que perdem a fé, que rejeitam a autoridade eclesiástica ou os
meios de santificação dados por Cristo se afastam da Igreja de Cristo e
de sua unidade. A unidade não consiste em estar juntos. A verdadeira
unida se faz com a mesma fé, a mesma autoridade, os mesmos sacramentos. A
unidade entre Cristãos que deve ser buscada é, na verdade, a volta de
hereges e cismáticos à unidade da Igreja Católica. Rezemos, durante essa
semana para que aqueles que estão afastados da Igreja Católica, que é a
Igreja de Cristo, possam voltar ao único rebanho de Cristo, fora do
qual não há salvação. Rezemos para que isso aconteça, nessa semana em
que, infelizmente, alguns erros contra a fé serão cometidos em nome de
uma unidade mal compreendida. Lembremo-nos das palavras de Nosso
Senhor: “Ide por todo o mundo, pregai o Evangelho a toda a
criatura. O que crer e for batizado, será salvo. O que, porém, não crer,
será condenado.”
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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