26 de maio de 2013

DOMINGO DA SANTÍSIMA TRINDADE

A unidade da Igreja

Jesus Cristo manda os seus Apóstolos pregarem o Evangelho a todas as criaturas, prometendo estar com eles até à consumação dos séculos, para que, na multiplicidade de pessoas, de lugares e de séculos, conservem sempre a unidade da fé verdadeira, na unidade da Igreja Verdadeira.

Para conservar esta unidade, é preciso, antes de tudo, poder reconhecer a Igreja única fundada por Jesus Cristo.

Várias igrejas, antigas e novas, intitulam-se Igreja de Cristo; qual delas é a verdadeira?

Jesus Cristo, que conhecia as dúvidas e os erros do futuro como os do presente, deve ter resolvido tais dúvidas, dando à sua Igreja uns característicos tão claros que possam ser conhecidos por todos; tão certos que excluam a possibilidade do erro; e tão decisivos que permita num relance reconhecer a única Igreja por Ele fundada.

Sim, tais caracteres existem; são quatro, os quais vamos analisar sucessivamente nas instruções destes Domingos, a saber: a unidade, a santidade, a catolicidade e a apostolicidade.

A unidade é a forma da Igreja.
A santidade é a sua vida.
A catolicidade é o seu domínio.
A apostolicidade é a sua origem.

Limitemo-nos hoje ao estudo da unidade da Igreja:

1. Em sua fé e em seus sacramentos.
2. Em seu governo e em seu ensino.

Este primeiro caráter é universal, pois a verdade é necessariamente una e imutável. Tudo o que muda perde a unidade, e o que é uno não pode mudar.

I. Unidade da fé e dos sacramentos.

A unidade é a marca especial da verdade, que é una, porque a verdade por excelência é Deus, que é um.

Fomos batizados, diz São Paulo, para formar um só corpo e ter um mesmo espírito. Não deve haver divisões neste corpo... Recebestes todos um mesmo espírito, como fostes chamados a uma mesma esperança. Um só Senhor, uma só fé, um só batismo. (l Cor. XII).

A Igreja é Jesus Cristo continuado. Ora, Jesus Cristo é sempre o mesmo: não muda, nem em sua pessoa, nem em sua doutrina.

A Igreja verdadeira deve, pois, ser una em sua fé, impondo aos seus membros uma única crença, porque duas coisas contraditórias não podem ser ambas verdadeiras. Deus não pode ratificar ao mesmo tempo os mandamentos do Papa, e os de certas autoridades terrenas, impondo uma crença radicalmente oposta.

Do mesmo modo que se reconhecem pela língua que falam, aqueles que pertencem a uma nação, assim se reconhecem pela fé que professam, os que pertencem à religião verdadeira.

Só a Igreja Católica conservou em sua integridade, sem nada suprimir, sem nada ajuntar, a doutrina que recebeu de Jesus Cristo.

Esta fidelidade absoluta em sua crença tem sido violentamente exprobrada, porque todos os hereges, capazes de refletir, devem reconhecer que este fato é decisivo para a conservação da sua autoridade absoluta e exclusiva sobre todas as seitas religiosas.

O Pe. Lacordaire, numa das suas conferências, representa o mundo sob a forma de um viandante que vai bater à porta do Vaticano.

A , sob a forma do Papa, mostra-se na soleira e lhe pergunta:

- Que queres de mim?
- Mudança, responde o mundo.
- Eu não mudo!
- Ora, tudo mudou e continua a mudar na terra. Porque ficas tu sempre o mesmo?
- Porque venho de Deus, e Deus é imutável.

Esta palavra há de ser sempre a última da Igreja: Eu não mudo.

A Igreja deve também ser una em seus sacramentos, porque os sacramentos são meios ordinários, estabelecidos por Jesus Cristo, para obter a graça, sem a qual a salvação é impossível.

O número dos sacramentos, tendo sido fixado por Jesus Cristo, ninguém o pode mudar.

Todos os sacramentos não são absolutamente necessários a todos do mesmo modo, é certo; porém todos eles concorrem a estabelecer e manter a união com Jesus Cristo e dos fiéis entre si de tal modo que cada sacramento estabelece um laço particular, necessário para a santificação do indivíduo e da sociedade.

Suprimir um deles seria ferir gravemente uma das artérias do corpo místico de Jesus Cristo, seria mutilar os meios de santificação

II. Unidade do governo ensino

A esta unidade perfeita de fé e de sacramentos, junta-se necessariamente a unidade do governo e do ensino.

A razão é clara. A Igreja é uma sociedade. Ora, toda sociedade supõe um chefe que a governa.

A diversidade de costumes, de linguagem, de caracteres e mil outras coisas gerais ou particulares trariam fatalmente à uma sociedade sem governo, à divisão e à morte.

Todo reino dividido entre si será destruído, diz o Divino Mestre.

Tal lei não sofre exceção. É por isso que o próprio Jesus Cristo estabeleceu um chefe supremo em sua Igreja, grupando em redor deste outros chefes inferiores para ajudá-lo no governo dos fiéis.

É inútil acrescentar que tal chefe deve ser um só, pois a multiplicidade de autoridades geraria necessariamente a desunião

Tal autoridade una e suprema, só existe na Igreja Católica.

Ali há uma sede suprema, única, que todas as demais sedes escutam: é a sede de Roma, a sede de Pedro, a quem Jesus Cristo confiou o cuidado das ovelhas e dos cordeiros, isto é: dos fiéis e dos seus chefes imediatos.

Pelo Episcopado, a Igreja Romana grupa em redor de si todo o sacerdócio; pelo sacerdócio todos os fiéis; pelos fiéis, o mundo inteiro.

Nada há mais admirável, mais sábio que tal organização.

Nós católicos, recebemos o ensino dos sacerdotes e dos Bispos, eles porém recebem-no do Soberano Pontífice, que o recebe diretamente de Jesus Cristo. O Papa é Jesus Cristo continuado.

Os ramos de uma árvore não têm seiva senão quando estão unidos ao tronco; e a sua diversidade não impede a unidade da sua origem.

E se nesta árvore imensa, à qual Jesus Cristo comparou a sua Igreja, e que deve espalhar-se no mundo inteiro, os fiéis são as folhas e os frutos, eles não podem ter vida senão enquanto estão unidos aos ramos, que são os sacerdotes e os Bispos, unidos ao Soberano Pontífice, que é o tronco tendo as suas raízes fixas no Coração de Jesus Cristo.

Os ensinamentos que a Igreja vai manifestando nas diversas épocas, em nada prejudicam a sua unidade, ao contrário, manifestam-na com mais fulgor.

A Igreja é um corpo vivo, perfeito em sua origem; mas desenvolvendo-se através dos anos, tal uma criança, que não adquire nada de essencial pelo crescimento, mas desenvolve apenas aos olhares, a sua beleza e as suas faculdades.

A Igreja esclarece os dogmas, mas não os cria. A fé propõe verdades, a ciência as explica.

III. Conclusão

Notemos bem este primeiro caráter da Igreja verdadeira de Jesus Cristo: a unidade. E tal unidade deve manifestar-se: na fé, nos sacramentos, no governo e no ensino.

Desde que não há unidade não há mais coordenação do conjunto, e toda agregação se dissolve.

Pode haver igrejas, não há mais uma Igreja; pode haver bispos; não há mais Episcopado; pode haver padres, não há mais Sacerdócio.

Deste modo, não havendo mais Papa, não há unidade; não havendo unidade, não há autoridade, não há mais fé. É o efeito definitivo do cisma e da heresia, a vida está na unidade: fora da unidade é a morte.

A fé permanece a mesma, embora se desenvolva, em seus motivos, suas relações e suas conseqüências; fica a mesma, embora neste desenvolvimento se introduzam certas opiniões ou sistemas, mais ou menos plausíveis. Santo Agostinho diz muito bem:

Nas coisas da Fé: unidade; nas coisas duvidosas, liberdade; em todas caridade.

A mudança de certos pontos disciplinares prescritos pela autoridade, não muda tão pouco nem a moral, nem a hierarquia; como a mudança de uns regulamentos da polícia, não altera a constituição de um país.

A Igreja conserva ciosamente a doutrina de Jesus Cristo, sem nada ajuntar, mudar ou suprimir; e se um cristão dos primeiros séculos, cujos ossos embranquecidos repousam nas catacumbas, voltasse em nossa época, entrando na primeira Igreja Católica que encontrasse, poderia ali unir-se aos fiéis e cantar o mesmo símbolo que havia aprendido em sua infância, o qual nunca variou.

EXEMPLOS

1. Testemunho de Guizot

Guizot era protestante, mas tinha bom senso. Eis o que ele escreveu: "O Catolicismo é a maior e a mais santa escola de respeito que existe no mundo. Temos precisão dela. Respeito profundamente a Igreja Católica, e admiro a sua unidade perfeita através dos séculos e das nações. Considero a sua dignidade, a sua liberdade, a sua autoridade moral, como essenciais à sorte da cristandade inteira".

2. Reflexões de um protestante

Há pouco tempo, um protestante, ex-senador dos Estados Unidos, M. Lorimer, converteu-se ao Catolicismo. Interrogado por um jornalista a respeito de sua conversão, respondeu:

Durante 15 anos, li todos os livros de controvérsia religiosa que pude adquirir, e cheguei à conclusão de que somente uma coisa me restava a fazer: tornar-me católico.

No começo, a idéia de entrar no seio da Igreja romana me repugnava; resolvi, porém, examinar a religião, e, à medida que ia estudando, as minhas convicções se tornaram mais nítidas, de modo que me tornei católico quase mau grado meu.

Nasci na Escócia. Meu pai era pastor presbiteriano, muito rígido. Segui os cursos de religião até os meus 20 anos, e, durante todo este tempo, não ouvi senão invectivas contra a Igreja Católica.

Cresci no ódio contra esta Igreja; ora, foi precisamente este ódio que provocou a minha conversão. Muitas vezes eu disse de mim para mim: Como é que a Igreja Católica, se é tão perversa como dizem, pode continuar a existir?

Comecei uma investigação com idéias pré-concebidas e como defensor decidido do protestantismo.

O resultado não se fez esperar; descobri uma Igreja diametralmente oposta a tudo o que havia lido a seu respeito. Averigüei a unidade perfeita de seus ensinamentos através dos séculos, a sua conformidade perfeita com o Evangelho, a legitimidade da sua autoridade, etc.

Em vez de protestante, tornei-me desde então um católico decidido, de fé, e convencido de que não se pode procurar a religião verdadeira sem terminar na Igreja Católica.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 227 – 234)

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