[Sermão] A Festa de Pentecostes
Sermão para o Domingo de Pentecostes
19 de maio de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
***
E ficaram todos cheios do Espírito Santo e falavam das grandezas de Deus (Communio).
Festejamos hoje, caros católicos,
Pentecostes. Pentecostes é a descida do Espírito Santo sobre os
Apóstolos e Nossa Senhora no cenáculo em Jerusalém. A descida do
Espírito Santo em Pentecostes é importantíssima. Ela é a festa da
promulgação da Igreja e a festa da promulgação da nova lei.
No Antigo Testamento, a festa de
pentecostes comemorava a promulgação da lei mosaica, dada por Deus a
Moisés no Monte Sinai, e que constituiu perfeitamente os judeus como o
povo eleito. Podemos dizer que Pentecostes que nós comemoramos hoje foi a
promulgação da Nova Lei, a promulgação da Igreja fundada por Nosso
Senhor Jesus Cristo sobre a Cruz. Nosso Senhor começou a fundar a Igreja
por sua pregação; Ele consumou a fundação quando estava pregado na Cruz
e, finalmente, Ele promulgou a sua Igreja aos olhos de todos quando
mandou o Espírito Santo aos apóstolos, para que anunciassem o Evangelho a
toda a criatura. Portanto, Pentecostes é um acontecimento capital na
vida da Igreja e um acontecimento único. Pentecostes é, praticamente, o
começo da Igreja.
Hoje, é muito comum ouvirmos que estamos
vivendo um novo Pentecostes. Em geral, diz-se que estamos vivendo um
novo Pentecostes em razão do atual fervor de caridade de nossa época,
que se assemelharia ao fervor dos Apóstolos logo após Pentecostes.
Basta, porém, olhar ao nosso redor e ter um pouco de bom senso para
constatar que estamos bem longe do ardor apostólico, que, em um único
dia, levou ao batismo cerca de três mil pessoas. O número de católicos
tem diminuído proporcionalmente, o número de católicos que levam a sério
a religião é ainda menor. Outros, porém, dizem, às vezes de modo
inconsciente, que estamos vivendo um novo Pentecostes no sentido de que
uma nova Igreja foi fundada nessas últimas décadas, a Igreja antiga e
antiquada tendo sido abandonada. É um novo Pentecostes porque pretendem
que uma nova Igreja foi fundada, com uma nova lei, com uma nova moral.
Isso é um erro gravíssimo. A Igreja fundada por Nosso Senhor Jesus
Cristo é só uma e sempre a mesma até a consumação dos tempos. O Espírito
Santo ensinou aos apóstolos todas as coisas, portanto, desde o início
nada falta à Igreja. O Espírito Santo assiste a Igreja, garantindo sua
infalibilidade e infectibilidade. A Igreja não pode mudar sua
constituição, sua doutrina, sua moral. Ela é sempre a mesma, tal qual
fundada por NS, que está com ela todos os dias até a consumação dos
séculos.
Pentecostes, sendo a promulgação plena da
Igreja, é também a promulgação plena da nova Lei. Se a Antiga Lei se
baseava sobretudo no temor, a nova lei se baseia, antes de tudo, no
amor. É breve a diferença entra a antiga lei e a nova lei, diz Santo
Agostinho, é uma sílaba (breve): temor, amor. É uma diferença breve na
palavra, mas longa no significado. A nova lei é a lei da caridade, em
que devemos agradar a Deus não tanto pelo medo de punições quanto pelo
amor. As punições continuam existindo, claro, e são úteis para a nossa
conversão, mas o que deve nos mover a sermos bons cristãos é, antes de
tudo, o amor, em resposta a todo o bem que Nosso Senhor Jesus Cristo fez
por nós, indo até a morte e morte de cruz para nos salvar. O que deve
nos mover é o amor, que é desejar e agir para o bem de Deus e do
próximo. O que deve nos mover é o amor, quer dizer, o fato de
reconhecermos as perfeições divinas e o fato de desejar que Deus seja
mais conhecido, amado e servido. A Nova Lei é a lei da caridade, é a lei
do amor. Todos sabem disso, mas como é mal compreendida essa lei da
caridade! Para evitar todo equívoco a respeito do que é essa caridade,
Nosso Senhor deixa claro que aquele que o ama verdadeiramente é aquele
que guarda as suas palavras. A nova lei não é o politicamente correto. A
nova lei não é um sentimento vago e difuso. A nova lei não é se sentir
bem e está tudo ótimo. A nova lei não é a união sentimental em
detrimento da verdade ou a paz em detrimento de Deus. A nova lei não é
cada um faz o que quiser desde que não prejudique seu próximo. A nova
lei é guardar as palavras de Nosso Senhor e coloca-las em prática,
porque assim agimos para o nosso bem, para a nossa salvação. Assim
agimos para o bem do próximo e da sociedade. Assim agimos para que Deus
seja mais conhecido, amado e melhor servido. O Espírito Santo, que
infunde em nossa alma a graça e a caridade, faz que observemos as
palavras de Cristo, seus mandamentos.
No dia de Pentecostes, o Espírito Santo
desceu sobre os Apóstolos e Nossa Senhora na forma de línguas de fogo.
Vejamos o que significa isso. O fogo tem luz, tem calor, e tinha, nesse
caso, forma de língua (a explicação que segue é baseada em São Roberto
Belarmino).
A luz dessas línguas é a sabedoria.
Como Nosso Senhor havia dito antes aos apóstolos – ouvimos no Evangelho
de hoje – o Espírito Santo veio, em Pentecostes, ensinar toda a verdade
aos Apóstolos e recordar tudo aquilo que o Salvador havia dito. Nosso
Senhor deu aos Apóstolos o mandamento de ensinar o Evangelho a todos os
homens. Para fazê-lo sem erro e de maneira eficaz, eles precisavam da
assistência do Espírito Santo. Depois de Pentecostes, os Apóstolos gozam
de uma infalibilidade pessoal. Isso significa que os Apóstolos não
podiam errar quando ensinavam em matéria de fé e moral. Os Apóstolos,
auxiliados pelos dons do Espírito santo, tinham também um conhecimento
profundo das verdades de fé, necessário para que fossem lançados os
fundamentos sólidos da Igreja. A luz das línguas de fogo significa,
então, a fé profunda dos apóstolos, a infalibilidade de que gozavam e o
conhecimento profundo da doutrina de Nosso Senhor.
O calor dessas línguas de fogo é a caridade e o zelo.
Com a Ascensão de Cristo e a descida do Espírito Santo, os Apóstolos
são inflamados com a caridade divina, com o amor pelas coisas do alto.
Eles buscam com afinco a glória de Deus, que consiste em que Deus seja
mais amado, conhecido e amado pelos homens. Eles buscam com afinco
transmitir o Evangelho para salvar o próximo. Essa caridade intensa para
com Deus e para com o próximo dá origem ao zelo, que consiste em
repelir tudo o que possa prejudicar o bem amado. Os Apóstolos combaterão
com ardor tudo o que ofende Deus, tudo o que prejudica as almas. Eles
combaterão os erros, os falsos profetas, o pecado.
O formato de língua de fogo significa a eloquência,
que foi dada aos Apóstolos, para exercerem a missão de pregar o
Evangelho a todos os povos. Por isso, então, a forma de língua do fogo.
Os apóstolos deviam transmitir e bem aquilo que conheciam profundamente e
aquilo que amavam intensamente.
Peçamos, portanto, caros católicos, ao
Espírito Santo, nesse dia de Pentecostes e durante a oitava de
Pentecostes, que nos sejam dadas as graças simbolizadas pelas línguas de
fogo. Não peçamos carismas ou dons carismáticos, que não nos unem
necessariamente a Deus e que têm pouca utilidade hoje. Peçamos ao Divino
Espírito Santo a graça de uma fé viva e profunda, peçamos a graça de um
zelo ardente pela glória de Deus e pela salvação das almas, a começar
pela nossa. Peçamos a graça de fazer um apostolado eficaz, segundo
nossas forças e capacidades, sobretudo pelo exemplo. Peçamos a ele a
graça do verdadeiro amor a Deus, que é guardar os mandamentos de Nosso
Senhor, pois somente assim fazemos realmente o bem para nós mesmos, para
o próximo, para a sociedade e damos maior glória a Deus. Façamos isso
imitando os apóstolos: perseverando na oração e em união com Maria
Santíssima. Nosso Senhor veio trazer o fogo do amor divino à terra. Ele
quer que esse fogo se acenda… ele quer que esse fogo se acenda em nossas
almas.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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