19 de maio de 2013

DOMINGO DE PENTECOSTES

A Igreja divina

O Evangelho deste dia de Pentecostes é inteiramente consagrado à vinda e à obra do Espírito Santo.

O dia de Pentecostes relembra-nos, de fato, não só as promessas, mas a vinda do Espírito Santo sobre os Apóstolos, de modo que, é realmente este o dia em que nasceu a Igreja Católica pela virtude do Espírito Santo.

Foi pela luz e a força deste mesmo Espírito Santo, que a Igreja se expandiu triunfante, penetrando no mundo inteiro, regenerando-o e levando- o a Deus.

Como estamos meditando sobre a organização da Igreja como sociedade, o nosso tema corresponde plenamente ao assunto da festa de Pentecostes.

Esclareçamos hoje dois pontos apologéticos de suma importância no assunto:

1. O corpo da Esteja.
2. A alma da Igreja.

Estes dois aspectos nos darão, num relance, a fisionomia inteira da Igreja, e nos mostrarão a sua união suave, harmoniosa e forte.

I. O corpo da Igreja

São Paulo diz que a reunião dos fiéis forma um corpo único.—Unum tamen corpus sunt. (1 Cor. XII. 12)

E continuando a sua magistral aplicação, o Apóstolo diz que nós somos o corpo de Cristo e membro de seus membros (1 Cor. XII. 27) e que o Cristo é a cabeça da Igreja. (Col. I. 18)

A Igreja é, pois, o corpo místico de Jesus Cristo, sendo Ele mesmo a cabeça deste corpo vivo.

Havendo um corpo, deve haver também uma alma. Pois, todo corpo vivo é vivificado por uma alma:

alma vegetativa para as plantas;
alma sensitiva para os animais;
alma racional para os homens;
alma divina para a Igreja.

Por isso dizemos que as plantas têm uma vida vegetativa; os animais, uma vida sensitiva; o homem, uma vida racional; e a Igreja, uma vida divina. E esta vida é o próprio Espírito Santo.

O corpo da Igreja é a organização social, visível, de que o sucessor de São Pedro, o Papa é a cabeça visível.

E fazem parte deste corpo todos aqueles que são batizados e estão submissos aos chefes que governam a Igreja.

Esta submissão é exterior e interior, pois, os fiéis têm, necessariamente, relações externas e internas com a Igreja docente.

As relações externas constam da profissão de uma mesma fé, da participação dos mesmos sacramentos e da obediência ao único Vigário de Jesus Cristo na terra: o Papa.

Estas três relações externas são necessárias para se pertencer ao corpo da Igreja; mas não bastam para alguém ser um bom Cristão.

A relação interna com a Igreja docente é o característico dos que pertencem à alma da Igreja: é a união com Jesus Cristo, pela graça santificante, não podendo ser unido aos demais membros da Igreja que desconhece.

Desta distinção, ressalta que, para pertencer, ao mesmo tempo, ao corpo e à alma da Igreja, é preciso ter interiormente a graça de Deus, e exteriormente fazer profissão de fé imposta pela Igreja docente, participar dos sacramentos que ela reconhece, e obedecer a Jesus Cristo, Chefe invisível da Igreja, representado visivelmente na pessoa do Santo Padre, o Papa.

Um católico deixa de pertencer à alma da Igreja, separando-se dela publicamente, pela apostasia, a heresia, o cisma, ou sendo separado dela pela excomunhão.

Os pecadores, mesmo públicos, conhecidos como tais, e os hereges ocultos, pertencem ainda ao corpo da Igreja, mas deixam de pertencer à sua alma.

Pode-se também pertencer à alma da Igreja, sem pertencer ao seu corpo. Nesta condição estão aqueles que não podem conhecer exteriormente a Igreja, como são as crianças batizadas; e, de modo secundário, aqueles que, pela fé e a esperança, possuem o gérmen da graça, como são os hereges e cismáticos de boa fé.

Quando a boa fé de uma alma encontra a graça divina, realiza-se o mistério da Justificação.

II. A alma da Igreja

A Igreja, sendo um corpo vivo, possui também uma alma.

A alma é o princípio da vida.

Lembremo-nos da cena magnífica da criação de Adão. Há uma tocante analogia entre a criação do homem e a criação da Igreja.

Depois de ter tomado um pouco de barro, e de ter formado dele o corpo do homem, Deus tira de seu Coração um sopro de amor, e eis que a estátua de barro se anima, abre os olhos, o coração bate... e a humanidade começa a existir!

É a imagem do que aconteceu no berço da Igreja.

Com suas mãos divinas, Jesus Cristo dispôs o corpo da Igreja, criou-lhe, formou-lhe as artérias, e, inclinando-se amoroso sobre esta Igreja em formação, lhe insuflou um sopro de vida.

No começo do mundo Deus soprou sobre a fronte de Adão, e criou nele uma alma vivente. (Gen. II. 7)

Aqui, Jesus Cristo sopra sobre a fronte de sua Igreja, representada pelos Apóstolos sob a direção de Pedro: et insufflavit in eos, e faz deles uma sociedade vivente: Accipite Spiritum Sanctum.

Eis porque, logo em seguida, com a sua palavra onipotente, Ele lança a Igreja no espaço, como Deus lançara Adão no espaço do mundo.

Crescei e multiplicai-vos e enchei a terra e sujeitai-a (Gen. 28), disse Deus a Adão.

Ide, pois, ensinai a todas as gentes, disse Jesus aos Apóstolos.

Sob o sopro de Deus, Adão levantou-se e começou a cantar em êxtases.

A Igreja levanta-se igualmente sob o sopro do Espírito Santo, e começa a falar, a agir, a converter o mundo.

O corpo da Igreja é belo, harmonioso; mas o que é mais harmonioso ainda e mais belo é a sua alma: é o Espírito Santo que a anima.

Os inimigos da Igreja estão bem iludidos a este respeito. Dizem e predizem que vão destruir a Igreja, que vão sepultá-la.

Desde Juliano o Apostata, até Hitler, a mesma canção tem sido entoada sob diversos tons e melodias: mas o fiasco tem sido e será sempre o mesmo.

Que podem eles fazer? Podem matar o corpo, mas não matam a alma!

Podem encarcerar o Papa!
Podem exilar os Bispos!
Podem assassinar os Padres!
Podem demolir as Igrejas!

Mas, que é isso? Só atacam o corpo da Igreja: a alma lhes escapa.

O que seria preciso era estrangular a alma.

Mas, como fazê-lo, quando não se pode nem tocar a alma de uma criança?

A alma do homem foge quando o corpo é incapaz de hospedá-la. E a alma da Igreja, está no Papa, nos Bispos, nos Padres, nos fiéis, mas ela não está ligada a ninguém: é o Espírito Santo.

Oh, perseguidores, oh, iconoclastas! Oh comunistas! Cerrai os punhos contra a Igreja! Despedaçai-a com a vossa foice afiada!... Batei-a sobre a bigorna dos vossos erros, com a massa do vosso ódio! Podeis matar o corpo... a alma vos escapa, ela é divina!

Há 19 séculos que a impiedade, o vício e a loucura procuram estrangular a alma da Igreja.

Que conseguiram eles?

Caíram! E sobre o seu túmulo desonrado a Igreja sempre triunfante, canta o seu <>, e lança o seu perdão.

A Igreja não morre! Ela é divina, porque a sua alma é divina: é o próprio Espírito Santo.

Ela está sempre viva, sempre radiante, sempre gloriosa... Ela triunfa no sangue de seus filhos, nas fogueiras, sob a espada de seus perseguidores, como triunfa sobre os túmulos de seus carrascos.

Eis a alma da Igreja: a alma divina da Igreja; a alma que diviniza o corpo da Igreja e faz dela o farol da humanidade, o rochedo indestrutível, onde todos os náufragos da vida encontram abrigo e salvação.

III. Conclusão

Tal é a obra admirável, fundada por Jesus Cristo: obra divina, inteiramente divina.

Ele mesmo, com as suas mãos divinas, formou o corpo da Igreja e insuflou neste corpo o sopro divino, que é o Espírito Santo.

O que precede é o bastante para excitar em nós um grande amor à Igreja divina de Cristo, coluna e firmamento da verdade.

Os nossos pais chamavam-na, com lágrimas nos olhos: Sancta Mater Ecclesia - A nossa Santa Mãe Igreja, como expressão da veneração e do amor que lhe dedicavam.

De fato, ela é Mãe, ela é a Esposa de Jesus Cristo; ela é o sopro de seu Coração, ela é o próprio Espírito Santo, fecundando e salvando a humanidade em demanda para o céu.

Ela merece, pois, todo o nosso amor e toda a nossa fidelidade, tanto ao seu corpo como à sua alma.

EXEMPLOS

1. Testamento de O'connell

O'connell, sentindo aproximar-se o termo da sua vida, depois de seus grandes empreendimentos, depois de ter feito triunfar a fé cristã em sua pátria, a Irlanda, desejava ir morrer em Roma, e depositar os seus restos mortais aos pés do representante de Deus na terra.

Não teve a felicidade de chegar à Roma. A moléstia prostrou-o em Genova, onde morreu nos mais admiráveis sentimentos de fé e de amor à Igreja Católica.

Em seu Testamento deixou o seu corpo para a Irlanda, seu coração para Roma e sua alma para o céu.

Seu coração devia ficar em Roma. De fato é ali que permanecem as afeições do cristão.

2. Santa Teresa

Chegando ao fim da sua carreira laboriosa e fecunda, Santa Teresa de Ávila, em presença das suas Irmãs, reunidas em redor de seu leito, agradecia a Nosso Senhor em alta voz de tê-la feito filha da Santa Igreja, e de permitir que morresse como tal, - Sim, Senhor, disse ela com um acento de imensa gratidão, sou verdadeiramente a filha da vossa Santa Igreja. É suave morrer na fé da Igreja romana, fortalecida pelos socorros com que ela abre as portas do céu para os seus filhos.

3. Santa Catarina

Quando se trata da Igreja, cada cristão deve saber defendê-la. Santa Catarina era filha de um humilde tintureiro de Sena; consagrou a sua vida em exaltar a Santa Igreja.

Não receava para este fim, ir ao palácio dos reis da Europa, de visitar os Cardeais e até o Soberano Pontífice para combinar meios de trabalhar pela prosperidade da Igreja.

Foi ela que decidiu o Papa a deixar Avinhão e a voltar para Roma.

Se não nos é dado fazer tanto como esta santa, pelo menos rezemos pela exaltação da Santa Igreja e a conversão de seus inimigos.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 219 – 226)

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