PRIMEIRO DIA - SEXTA-FEIRA
O amor é um fogo que abrasa.
Et apparuerunt illis dispertitae linguae, tamquam ignis – “E apareceram-lhes repartidas umas como que línguas de fogo” (Act. 2, 3).
Sumário. A novena do Espírito Santo é a primeira de todas, porque foi celebrada pelos santos apóstolos e por Maria Santíssima no Cenáculo, entre muitos prodígios. Lembremo-nos de que ao divino Paraclito é atribuído especialmente o dom do amor. Convém, portanto, que nesta novena consideremos o grande valor do amor divino. Em primeiro lugar, o amor é aquele fogo que inflamou todos os Santos a fazerem grandes coisas para Deus. Se quisermos também ficar abrasados, apliquemo-nos sempre, mas em particular nestes dias, à oração, que é a fornalha onde o fogo do amor se acende.
I. Deus ordenou na antiga Lei que o fogo ardesse continuamente no seu altar: Ignis autem in altari semper ardebit (1). Diz São Gregório que os altares de Deus são nossos corações, onde Ele quer que o fogo de seu santo amor arda sem cessar. Por isso o Eterno Pai, não satisfeito de nos ter dado Jesus Cristo, seu Filho, para nos salvar por sua morte, quis dar-nos ainda o Espírito Santo, para que habitasse em nossas almas, e as conservasse continuamente abrasadas de amor.
Jesus mesmo declarou que descera à terra exatamente para inflamar com este fogo sagrado os nossos corações, e que o seu único desejo era vê-lo aceso: Ignem veni mittere in terram, et quid volo, nisi ut accendatur? (2) Eis aqui porque, esquecendo as injúrias e ingratidões dos homens, logo que subiu ao céu, nos enviou o Espírito Santo. – Assim, ó Redentor amadíssimo, na vossa glória, como nos vossos sofrimentos e humilhações, nos amais sempre?
Pela mesma razão o Espírito Santo quis aparecer no Cenáculo sob a forma de línguas de fogo: Et apparuerunt illis dispartitae linguae, tamquam ignis (3) – “E apareceram-lhes repartidas umas como que línguas de fogo”. Por isso também a Igreja nos faz rezar com estas palavras: “Ó Senhor, fazei que o vosso divino Espírito nos inflame com o fogo que Jesus Cristo veio trazer sobre a terra e que desejou tão ardentemente ver brilhar nela.” – Foi este amor o fogo que inflamou os santos a fazerem grandes coisas para Deus: a amar os inimigos, a desejar os desprezos, a despojar-se de todos os bens terrenos e a abraçar com alegria os tormentos e a morte. O amor não pode ficar ocioso e nunca diz: Basta. A alma que ama a Deus, quanto mais faz por seu Amado, mais quer fazer ainda para mais lhe agradar e ganhar mais e mais a sua afeição.
II. O Espírito Santo acende o fogo do amor divino por meio da meditação: In meditatione mea exardescet ignis (4) – “Na minha meditação se acenderá o fogo”. Se então desejamos arder em amor para com Deus, amemos a oração; ela é a feliz fornalha em que o coração se abrasa neste ardor celeste.
Meu Deus, até aqui nada fiz por Vós, que tão grandes coisas haveis feito por mim. Ah! Quanto a minha frieza Vos deve mover a rejeitar-me! Peço-Vos, ó Espírito Santo: Fove quod est frigidum – Aquecei o que está frio. Livrai-me da minha frieza e inspirai-me um grande desejo de Vos agradar. Renuncio a todas as minhas satisfações, e antes quero morrer do que dar-Vos o menor desgosto. – Aparecestes sob a forma de línguas de fogo; consagro-Vos a minha língua, para que não Vos ofenda mais. Ó Deus, Vós me destes a língua para Vos louvar e dela me tenho servido para Vos ultrajar e levar os outros também a ofender-Vos! Arrependo-me de toda a minha alma.
Ah! Pelo amor de Jesus Cristo, que na sua vida Vos honrou tanto com a sua língua, fazei com que de agora em diante não cesse de Vos honrar, celebrando vossos louvores, invocando-Vos muitas vezes, falando da vossa bondade e do amor infinito que mereceis. Amo-Vos, meu soberano bem; amo-Vos, ó Deus de amor. – Ó Maria, sois vós a Esposa mais querida do Espírito Santo; obtende-me este fogo divino. (II 393.)
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1. Lev. 6, 12.
2. Luc. 12, 49.
3. Act. 2, 3.
4. Ps. 38, 4.
*. Os fiéis que nestes dias, ou em qualquer outro tempo do ano, fizerem a Novena em honra do Espírito Santo, podem ganhar cada dia 300 dias de indulgência, e uma indulgência plenária, debaixo das condições de costume, num dos dias da Novena ou da oitava que a segue.
(LIGÓRIO, Afonso Maria de. Meditações: Para todos os Dias e Festas do Ano: Tomo II: Desde o Domingo da Páscoa até a Undécima Semana depois de Pentecostes inclusive. Friburgo: Herder & Cia, 1921, p. 102 - 104.)
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