VIA-SACRA EUCARÍSTICA
São Pedro Julião Eymard
(1811-1868)
São Pedro Julião Eymard
(1811-1868)
Oitava estação
Jesus consola as piedosas mulheres
V. Nós Vos adoramos, etc.
Tendo o Salvador por missão, nos dias de sua Vida mortal, consolar os aflitos e os abandonados, quer ser fiel a este dever até no meio dos maiores sofrimentos. Ao aproximarem-se as piedosas mulheres que choravam suas Dores e sua Paixão, esquece-se de Si mesmo para enxugar-lhes as lágrimas. Que excesso de Bondade!
Jesus, no seu divino Sacramento, raramente tem quem o venha consolar do abandono dos seus, dos crimes de que é objeto. Permanece só, dia e noite. Se seus Olhos ainda pudesse chorar, quantas lágrimas não derramaria pela ingratidão dos seus filhos, pelo desamparo em que o deixam. Se seu Coração ainda pudesse sofrer, quantos tormentos não havia de padecer, vendo-se abandonado até pelos próprios amigos! Mas, pelo contrário, apenas nos chegamos a ele, acolhe-nos com Bondade, ouve-nos as queixas, presta atenção à nossa miséria, contada, por vezes, longa e egoisticamente, esquecendo-se a si mesmo para consolar-nos, para refazer-nos.
Divino Salvador, por que procuro eu tantas vezes as consolações humanas, em lugar me dirigir a vós? Ah! quanto deve isto ferir-vos o Coração, tão cioso do meu! Sede, Jesus, na vossa Eucaristia, o único consolo, o único confidente de minha alma. Uma palavra, um Olhar todo de Bondade bastam-me. Possa eu amar-vos de todo coração, e então, fazei de mim o que quiserdes.
Pai-Nosso etc.
Nona estação
Jesus cai pela terceira vez
V. Nós Vos adoramos, etc.
Que sofrimento nessa terceira queda de Jesus! O peso da Cruz esmaga-o e os esforços cruéis dos seus carrascos mal conseguem levantá-lo.
Jesus, antes de ser elevado na Cruz, quer cair uma terceira vez e assim dizer-nos de certo modo quanto sente por não poder fazer a volta do mundo com a Cruz às costas.
Jesus virá a mim, em Viático, pela última vez antes de deixar eu também esta terra de exílio. Não me recuseis, Senhor, tão preciosa Graça – a mais preciosa de todas, o complemento de todas as outras.
Seja-me dado, porém, receber-vos piedosamente nessa derradeira Comunhão tão cheia de amor!
Ah! quão terrível é a queda de Jesus ao cair pela última vez no coração dum moribundo impenitente que, a todos os pecados passados, acrescenta o crime do sacrilégio e recebe indignamente aquele que vai brevemente julgá-lo, profanando destarte o Viático de sua salvação.
Quão doloroso lhe deve ser encontrar-se num coração que o detesta, num espírito que o despreza, num corpo de pecado todo entregue a satanás.
E que julgamento terão esses desgraçados? Só a idéia faz tremer.
Perdão, Senhor, perdão por eles. Rogamo-vos por todos os moribundos. Dignai-vos conceder-lhes a Graça de morrer em vossos braços depois de vos ter recebido dignamente no santo Viático.
Pai-Nosso etc.
Décima estação
Jesus é despojado de suas vestes
V. Nós Vos adoramos, etc.
Quanto deve sofrer Jesus nesse despojamento cruel e desumano! Arrancam-lhe as vestes presas às suas Chagas, que novamente se rasgam e se abrem.
Quanto deve sofrer na sua modéstia, vendo-se tratado como não se ousaria tratar um escravo vil e miserável, que morre pelo menos na mortalha em que será enterrado.
Jesus é ainda despojado de suas vestes no seu estado sacramental. Não contente de vê-lo despojado, pelo Amor que nos tem, da glória de sua Divindade e da beleza de sua Humanidade, seus inimigos despojam-no ainda da honra que lhe dá o culto, saqueando as Igrejas, profanando os Vasos sagrados, o mesmo Tabernáculo e lançando-o por terra. Está entregue às suas mãos sacrílegas, Ele o Rei e o Salvador de todos os homens, tal qual no dia de sua crucifixão.
Deixando-se despojar de tudo na Eucaristia, quer Jesus reduzir-nos ao estado de pobreza voluntária que não tem mais apego a nada, para então revestir-nos de sua Vida e de suas Virtudes.
Ó Jesus-Eucaristia, sede vós meu único bem!
Pai-Nosso etc.
Décima primeira estação
Jesus é pregado na cruz
V. Nós Vos adoramos, etc.
Por quantos e tão horríveis tormentos passa Jesus ao ser crucificado! Só um milagre do seu poder fá-lo tudo suportar, sem cair morto.
No Calvário, Jesus está pregado num madeiro inocente e puro. Na Comunhão indigna, é crucificado pelo pecador num corpo de pecado. É atar um corpo vivo a um cadáver em decomposição!
No Calvário, Jesus é crucificado por inimigos declarados. Aqui pelos seus próprios filhos numa hipócrita devoção.
No Calvário, só é crucificado uma vez. Aqui o é todos os dias e por inúmeros cristãos!
Ó meu Salvador, perdão, perdão pela imortificação dos meus sentidos, que ora expiais mui cruelmente!
Quereis pela vossa Eucaristia crucificar minha natureza, imolar incessantemente o velho homem e unir-me à vossa Vida crucificada e ressuscitada. Fazei, Senhor, que me entregue, pois, todo a vós, sem reserva e sem condições.
Pai-Nosso etc.
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FONTE: A Divina Eucaristia - escritos e sermões de São Pedro Julião Eymard. São Paulo: Loyola, 2002. v3. p.261-278.
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