26 de março de 2011

CONHECER MARIA (I)

Maria e o mistério da Encarnação

1) Bendigo-Vos e Vos agradeço, Senhor Deus meu, criador e redentor do gênero humano, pela imensa bondade que Vos induziu a redimir ao homem de modo ainda mais maravilhoso que o que já havia realizado ao criá-lo. Por certo, enquanto éramos ainda inimigos vossos e a morte antiga exercia sua iníqua dominação sobre todo o gênero humano, Vos recordastes de vossa infinita misericórdia, e desde o trono sublime de vossa glória dirigistes a mirada a este vale de pranto e de miséria.

2) Observastes a enorme aflição de vosso povo sobre a terra e a grave herança dos filhos de Adão. E, em virtude de um profundo impulso de amor, começastes a ter pensamentos de paz e de redenção. Assim, quando chegou a plenitude dos tempos, viestes a visitar-nos, baixando do céu, e mediante a encarnação apareceste entre os homens em vossa condição de verdadeiro Deus e verdadeiro homem, levando a cabo as expectativas dos profetas.

3) Bendigo-Vos e Vos exalto, Salvador nosso, Jesus Cristo, pela imensa humildade com que Vos dignastes eleger como Mãe a uma donzela pobre que fizestes desposar com um pobre carpinteiro José, homem santo e justo.

4) Bendigo-Vos pelo anúncio da digníssima encarnação e pela reverente saudação angélica, que o Arcanjo Gabriel pronunciou, impregnado de intensa devoção, quando se encontrou com a santíssima Virgem Maria, para anunciar-lhe o divino mistério do Filho de Deus, que ia encarnar-se nela.

5) Exalto-Vos e Vos rendo homenagem pela grandeza da fé da Virgem Maria, por seu decidido consentimento, por sua humildíssima resposta e por todas suas virtudes confirmadas quando, ao arcanjo que trazia o gozoso anúncio, respondeu com dócil submissão: Eu sou a seva do Senhor, que se cumpra em mim o que foi dito” (Lc 1, 38).

6) Exalto-Vos e Vos glorifico, ó eterna Sabedoria do Pai, por haver-se interessado vossa inacessível alteza no mísero cárcere de nossa natureza mortal, e por vossa puríssima concepção que teve lugar em Maria por obra do Espírito Santo (Lc 1, 35): em seu seio virginal, o inefável poder do Altíssimo, ao descer sobre ela, formou de sua carne imaculada vossa carne sacrossanta. Por conseguinte, vós que sois o verdadeiro Deus, consubstancial com o Eterno Pai, passastes a ser uma só carne conosco, porém sem contágio do pecado, para transformar-nos em um só espírito conVosco, mediante a adoção como filhos de Deus (Gál 4, 4).

7) Exalto-Vos e Vos glorifico por haver querido esvaziar-Vos de vossa grandeza, assumindo nossa fragilidade, a pobreza, as penas e a mortalidade abrasada com amor, para encher-nos com vosso esvaziamento, para salvar-nos com vossa paixão, para enaltecer-nos com vossa humilhação, para robustecer-nos com vossa debilidade e para conduzir-nos à glória da imortalidade com vossa mortalidade.

8) Exalto-Vos e Vos glorifico por esses intermináveis nove meses dos quais vos escondestes como menino na pequenez de um seio virginal, esperando seu tempo para nascer. Vós, que como Deus, não tende tempo nem tende idade, mas ordenastes todas as coisas no tempo com admirável harmonia.

9) Ó admirável e maravilhosa dignação, Deus de imensa glória, que não Vos desdenhastes de fazer-se desprezível e de assumir, para salvar-nos, nossos sofrimentos, Vós, que criastes todas as coisas sem esforço. Ó dulcíssimo Jesus, esplendor da glória eterna, quanto mais Vos eis humilhado na humanidade, tanto mais me hás demonstrado vossa bondade, quanto mais Vos tende tornado desprezível por mim, tanto mais Vos amo.

10) Bendigo-Vos e Vos agradeço, Senhor Jesus, Filho unigênito do Pai, único gerado antes da existência do mundo, porque, de modo inefável e por causa de vossa grandíssima humildade, Vos dignastes nascer em um sujo estábulo e ser colocado por amor à santa pobreza em uma rústica manjedoura. Exalto-Vos, amadíssimo Jesus, pelo vosso advento coroado de luz, por vosso glorioso nascimento da Imaculada Virgem Maria, por vossa pobreza e por vossa humilde adaptação em uma manjedoura tão pequena e vil. Quem poderia imaginar o Deus altíssimo reduzido a tanta pequenez por amor aos homens? Quantas graças não deve tributar-Vos todo o gênero humano, porque elegeste a pequenez de uma manjedoura para redimi-lo?

11) Que imensa ternura, admirável doçura e delicadíssimo amor nos invadem ao ver a Deus feito menino, envolto em pobres fraldas e deitado em uma estreita manjedoura em frente a animais! Que incompreensível humildade, que o Senhor de todos os Senhores se digne converter-se em servidor dos servidores! E isto, Senhor e Deus meu, Vos pareceu ainda pouco, já que quisestes chegar a ser meu Pai, Vós que sois meu Criador. Até Vos dignastes a ser meu irmão e minha carne na realidade de Vossa natureza humana, mesmo assim sem contrair no mínimo a antiga corrupção.

12) Vosso nascimento é superior às leis da natureza, mas como este devia precisamente reparar a natureza, com um grande milagre supera o modo em que nascem os homens e conforta com divino poder nossos dificultosos nascimentos. Quão feliz e amável é vosso nascimento, dulcíssimo Jesus, Filho de uma Virgem excelsa, ou seja, de nossa excelente Mãe Maria, o qual renova o nascimento de todos, melhora sua condição, dissipa seus prejuízos e rasga o decreto condenatório da natureza. E, desta maneira, aquele que se envergonha de fazer parte da estirpe pecadora de Adão, pode alegrar-se por vosso nascimento não contaminado, certo de haver renascido felizmente por vossa graça.

13) Ó Jesus, Filho unigênito de Deus, agradeço vosso milagroso e ilustre nascimento, em virtude do qual temos acesso a esta graça na que vivemos, e confiamos na esperança da glória dos filhos de Deus, que o céu prometeu. Vós sois o penhor de nossa redenção, Vós sois a eterna esperança de todos nós fiéis. A Vós recorremos, humildes pecadores, a Vós que fostes o primeiro em buscar-nos, quando ainda não Vos conhecíamos.

14) Ó santa e doce infância, que infunde no coração dos homens a verdadeira inocência, pela qual toda idade retorna a Vós afortunada e se torna semelhante a Vós, não por debilidade dos membros, senão pela humildade dos sentimentos e pela bondade dos costumes. Conceda-me seguir vossas santas pegadas, clementíssimo Jesus, que para dar a todos os homens exemplo de virtude e de eterna salvação, quisestes nascer da Virgem Maria à meia-noite. Permita-me, pois, que possa dar-Vos graças e cantar vossos louvores com os anjos e com toda milícia celestial, aos que quisestes como felizes mensageiros de vosso sagrado nascimento.

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“de Maria nunquam satis"
"sobre Maria nunca se falará o bastante"
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(KEMPIS, Tomás de. Imitación de Maria: Libro Segundo, Capítulo I. pág. 27-32)

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