18 de maio de 2024

A Paixão de Nosso Senhor Jesus Cristo Piedosas e edificantes meditações sobre os sofrimentos de Jesus

MEDITAÇÃO PARA O SÁBADO

Da crucifixão e morte de Jesus
1. Eis aí o Calvário, feito teatro do amor divino, onde um Deus morre por nós num mar de dores. Tendo Jesus aí chegado, arrancam-lhe do corpo, com violência, as vestes pegadas às suas carnes dilaceradas e o lançam sobre a cruz. O Cordeiro divino se estende sobre esse leito de morte, apresenta suas mãos aos carrascos e oferece ao eterno Pai o sacrifício de sua vida pela salvação dos homens. Eles o pregam e alçam-no na cruz. Contempla, minha alma, o teu Senhor suspenso por aqueles três duros cravos e pendente daquele madeiro no qual não encontra sossego nem repouso. Ora se apoia sobre as mãos, ora sobre os pés, mas redobra a dor na parte em que se apoia. Ah, meu Jesus, como é amarga a morte a que vos sujeitais! Eu vejo escrito sobre a cruz: Jesus Nazareno, rei dos judeus. Afora esse título de escárnio, que sinal existe de vossa realeza? Ah, esse trono de dores, essas mãos encravadas, essa cabeça traspassada, essas carnes dilaceradas, bem proclamam rei de amor. Chego-me enternecido para beijar esses pés chagados. Abraço essa cruz, na qual como vítima de amor quisestes morrer sacrificado por mim. Ah, meu Jesus, que seria de mim, se não tivésseis satisfeito por mim a justiça divina? Agradeço-vos e amo-vos.
2. Estando alçado na cruz, Jesus não encontra quem o console. Dos que o circundam, uns blasfemam e outros escarnecem dizendo: “Se és o Filho de Deus, desce da cruz”. “Salvou a outros e não pode salvar a si mesmo” (Mt 27,40-42). Nem sequer aqueles mesmos que são seus companheiros de suplício lhe demonstram compaixão, unindo-se um deles aos demais para imprecá-lo: “É um dos ladrões que estavam suspensos blasfemava-o” (Lc 23,39). Maria estava, é verdade, aos pés da cruz, assistindo com amor o Filho agonizante: a vista, porém, dessa mãe dolorosa ainda mais afligia a Jesus, vendo a pena que ela sofria por seu amor. Assim o Redentor, não encontrando conforto aqui na terra, se volta para o eterno Pai no céu. O Pai, porém, vendo-o coberto com todos os pecados dos homens, pelos quais devia satisfazer, disse-lhe: Não, Filho, eu não posso consolar-te: é preciso que até eu te abandone aos sofrimentos e te deixe morrer sem alívio. Foi então que Jesus exclamou: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” (Mt 27,46). Ah, meu Jesus, como vos vejo cheio de dores e tristezas. Oh! tendes razão, pensando que tanto sofrestes para ser amado pelos homens e que mui poucos vos amarão. Ó belas chamas de amor, vós que consumistes a vida de um Deus, consumi também em mim todos os afetos terrenos e fazei que eu arda somente por esse Senhor que quis sacrificar sua vida por meu amor sobre um patíbulo infame. Mas vós, ó Senhor, como pudestes morrer por mim, prevendo as injúrias que eu vos faria? Vingai-vos agora de mim, mas vingai-vos de maneira que me seja proveitosa: concedei-me uma tão grande dor, que me faça sempre chorar os desgostos que vos dei. Vinde, flagelos, espinhos, cravos e cruz, que tanto atormentastes o meu Senhor, vinde ferir-me o coração e recordai-me sempre o amor que ele me consagrou. Salvai-me, ó meu Jesus, salvai-me, concedendo-me a graça de vos amar, pois em amar-vos consiste a minha salvação.
3. O Redentor, prestes a expirar, diz ainda com voz moribunda: “Tudo está consumado” (Jo 19,30), como se dissesse: Ó homens, tudo está acabado, realizada está a vossa redenção. Amai-me, pois, desde que não posso fazer mais coisa alguma para conquistar o vosso amor. Minha alma, olha para teu Jesus agonizante: contempla aqueles olhos obscurecidos, a face pálida, o coração que bate ainda, mas vagarosamente, o corpo que já se abandona à morte; contempla aquela bela alma que já está para abandonar seu sagrado corpo. O céu se obscurece, a terra treme, abrem-se os sepulcros, testemunhando a morte do fator do mundo. Jesus, afinal, tendo recomendado a seu Pai a sua bendita alma, expira pela violência das dores e entrega o espírito nas mãos de seu Pai bendito, depois de ter dado do coração aflito um grande suspiro e inclinado a cabeça em sinal da oferta que renovava nesse momento de sua vida por nossa salvação. Aproxima-te, minha alma, daquela cruz. Abraça os pés de teu Senhor morto e pensa que ele morreu pelo amor que te consagrou. Ah, meu Deus, a que estado vos reduziu o amor para comigo. E quem mais do que eu gozou dos frutos de vossa morte? Fazei-me compreender quão grande foi o amor de um Deus ter morrido por mim, para que de hoje em diante eu não ame a ninguém mais fora de vós. Eu vos amo, ó sumo bem, ó verdadeiro amante de minha alma: eu a entrego nas vossas mãos. Pelos merecimentos de vossa morte, fazei que eu morra a todos os amores terrenos, para que eu ame exclusivamente a vós, que unicamente mereceis todo o amor. Maria, minha esperança, rogai a Jesus por mim.

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