13 de junho de 2020

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard


Fecundidade das obras pela vida interior.

Parte 07/31

Quanto mais as virtudes teologais existirem num coração, tanto mais esses eflúvios hão de ajudar a fazer nascer essas mesmas virtudes nas almas.
Por meio da vida interior o apóstolo irradia fé - A presença de Deus nele patenteia-se às pessoas que o ouvem.
A exemplo de São Bernardo, do qual se disse: Solitúdinem cordis circumferens ubique solus erat, o apóstolo isola-se das outras pessoas e destarte logra ficar interiormente solitário; mas logo se entrevê que ele não está só, que tem no coração um hóspede misterioso e íntimo, com o qual volta a conversar a cada momento, e que não fala senão de acordo com a direção, conselhos e ordens dele. Sente-se que é sustentado e guiado por esse hóspede e que as palavras saídas da sua boca apenas são o eco fiel das palavras desse Verbo interior: Quasi sermones Dei. A lógica e a força dos argumentos manifestam-se então menos que o Verbo interior, o Verbum docens, falando por meio da sua criatura. Verba quae ego loquor vobis, a meipso non loquor. Pater autem in me manens, ipse facit ópera. Influência profunda e duradoura, muitíssimo mais profunda que a admiração superficial ou a devoção passageira, que o homem sem espírito interior pode excitar. Esse pode levar o auditório a dizer: Isso parece verdadeiro e interessante. Ora, essa impressão não passa de um sentimento totalmente impotente de si mesmo para dar às almas uma fé sobrenatural e fazê-las viver dessa fé.
Irmão Gabriel, leigo trapista, exercendo as funções de segundo hospedeiro, reavivava a fé de numerosos visitantes muito melhor do que vingaria fazê-lo um sacerdote douto, mas cuja linguagem falasse mais ao espírito que ao coração. O general Miribel ia às vezes conversar com o humilde frade e comprazia-se em dizer: Venho retemperar-me na fé.
Jamais se tem pregado, discutido e se têm escrito sábios tratados de apologética tanto como em nossos dias e jamais talvez, ao menos considerando apenas a massa dos fiéis, a fé seja menos vivaz. Amiudadas vezes, aqueles que tem a missão de ensinar só vêem no ato de fé um ato de inteligência, quando ele depende também da vontade. Esquecem-se de que o crer é dom sobrenatural e que há um abismo entre a percepção dos motivos de credibilidade e o ato definitivo de fé. Só Deus e a boa vontade daquele que é ensinado logram preencher esse abismo; ah! mas como ajuda a preenchê-lo a reflexão da luz divina produzida pela santidade daquele que ensina!

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