1 de junho de 2020

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard


Parte 3/31

Temos acaso já notado bem, neste ponto a importância primordial dada pelo Salvador a este espírito de oração? Lançando um olhar sobre o mundo e sobre os séculos vindouros e vendo a multidão de almas chamadas aos benefícios do Evangelho, Jesus contristado exclama: A seara é verdadeiramente grande, mas os obreiros poucos! Messis quidem multa, operárii autem pauci. Que irá ele propor como meio mais rápido de difundir sua doutrina? Exigirá acaso seus discípulos vão frequentar as esolas de Atenas ou estudar, junto de césares de Roma, como se conquistam e governam os impérios?. . . Escutai o Mestre, homens de zelo. Ele vai nos revelar um programa, um princípio luminoso: Rogate ergo Dóminum messis ut mittat operários in messem suam. Sábias organizações, recursos a procurar,  templos a erigir, escolas a construir: nada disto menciona.  Rogate ergo. A oração, o espírito de oração, eis a verdade fundamental que o Mestre não cessa de recordar. O resto, todo o resto daí promana.
Rogate ergo! Se o tímido murmúrio da súplica de uma alma santa mais capaz de suscitar legiões de apóstolos que a voz eloquente de um recrutador de vocações menos cheio do espírito de Deus, que concluir daqui senão que o espírito de oração, o qual anda sempre a par do zelo no verdadeiro apóstolo, há de ser a razão principal da fecundidade do seu trabalho?
Rogate ergo! Orai antes de mais nada: só depois é que Nosso Senhor acrescenta: Euntes docete . . . praedicate. Certo é que Deus se utilizará deste segundo meio; porém, as bênçãos que tornam o ministério fecundo estão reservadas à prece do homem de oração, prece sobremodo poderosa para sair do seio de Deus os ardentes eflúvios de uma ação irresistível sobre as almas. A voz autorizada de São Pio X assim põe em relevo a tese da nossa modesta obra:
Para restaurar todas as coisas em Cristo pelo apostolado das obras, é necessária a graça divina e, para receber esta, deve o apóstolo estar sempre unido a Cristo. Somente depois de termos formado Jesus Cristo em nós mesmos é que poderemos facilmente comunicá-lo às famílias e às sociedades. Todos aqueles que tomam parte no apostolado devem portanto revestir-se de verdadeira piedade.
E o que dizemos da oração aplica-se também ao outro elemento de vida interior, ao sofrimento, isto é, a tudo o que vai de encontro à natureza, quer exterior, quer interiormente.
Pode-se sofrer como pagão, como condenado, ou como santo. Para sofrer verdadeiramente com Jesus Cristo, é necessário tender a sofrer como santo. O sofrimento serve então para nosso proveito pessoal e para a aplicação do mistério da Paixão às almas: Adímpleo ea quae desunt passionum Christi, in carne mea, pro córpore ejus, quod est Ecclésia. - Impletae erant, diz Santo Agostinho comentando este texto,  impletae erant omnes, sed in cápite, restabant adhuc passiones Chriti in membris. Praecessit Christus in cápite. Jesus Cristo sofreu, mas como cabeça. Séquitur in corpore: Agora é ao seu corpo místico que toca sofrer. cada sacerdote pode, pois, dizer: Esse corpo sou eu, eu sou membro de Cristo, e é necessário que eu complete, pelo seu corpo que é a Igreja, o que falta aos sofrimentos de Cristo.
O sofrimento, diz o Padre Faber, é o maior dos sacramentos. Este profundo teólogo demonstra sua necessidade e deduz suas glórias. Todos os argumentos de célebre oratoriano podem aplicar-se a fecundidade das obras pela união dos sacrifícios do obreiro evangélico ao sacrifício do Gólgota, e desta sorte pela sua participação na eficácia infinita do sangue divino.

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