4 de março de 2020

A ALMA DE TODO APOSTOLADO

J. B. Chautard

A VIDA ATIVA, PERIGOSA SEM A VIDA INTERIOR, UNIDA A ESTA ASSEGURA O PROGRESSO NA VIRTUDE

Parte 1/4

1 - As obras, meio de santidade para as almas interiores, tornam-se perigo para a salvação das outras almas.
a - Meio de Santidade - Das criaturas que associa a seu apostolado, exige nosso Senhor de maneira formal não só que se conservem na virtude, como também que nela progridam. A prova existe em cada página das epístolas de São Paulo a Tito e a Timóteo, e nas apóstrofes do Apocalipse aos bispos da Ásia.
Por outro lado, já no princípio o demonstramos, as obras são desejadas por Deus.
Ver, portanto, nas obras, em si, um obstáculo à santificação, e afirmar que, emanando, embora, da vontade divina, elas hão de afrouxar a nossa marcha para a perfeição, seria uma injúria, uma blasfêmia irrogada à sabedoria, bondade e providência divinas.
Dilema inevitável: Ou o apostolado, seja qual for a forma que revista, se é desejado por Deus, não só não tem em si, como efeito, o poder de alterar a atmosfera de sólida virtude na qual deve andar uma alma cuidadosa da sua salvação e progresso espiritual, sempre se torna para o apóstolo um meio de santificação, caso o exerça nas condições requeridas;
Ou então, a pessoa escolhida por Deus como cooperadora e obrigada, portanto, a corresponder ao apelo divino, teria o direito de alegar a atividade, as penas e os cuidados despendidos em prol da obra mandada, como legítimas desculpas da sua negligência em se santificar.
Ora, consequência da economia do plano divino, Deus deve a si mesmo o conceder ao apóstolo da sua escolha as graças necessárias para Ele realizar a união das ocupações absorventes não só com a segurança da sua salvação, senão ainda com a aquisição das virtudes levadas até a santidade.
Os socorros que dispensou aos Bernardos, aos Franciscos  Xavier, Deus também os deve, na medida do necessário, ao mais modesto dos obreiros evangélicos, ao mais humilde dos religiosos professores, à mais ignorada das irmãs enfermeiras. Não tenhamos temor de o repetir: é essa uma verdadeira dívida do Coração de Deus para com o instrumento que escolheu. E todo apóstolo, caso cumpra as condições exigidas, deve ter confiança absoluta no seu direito rigoroso às graças requeridas por um gênero de trabalhos que lhe hipotecam o tesouro infinito dos auxílios divinos.
Aquele que se consagra às obras de caridade, diz Álvares de Paz, não deve pensar que elas lhe hão de fechar a porta de contemplação e torná-lo menos capaz de se entregar a ela. Deve, ao invés, ter a segurança de que o hão de dispor de maneira admirável para essa contemplação. Estas verdades são nos ensinadas não só pela razão e pela autoridade dos santos Padres, como também pela experiência quotidiana, porquanto vemos certas almas que se dedicam às obras de caridade para com o próximo, confissões, pregação, catecismos, visita dos enfermos, etc..., elevadas por  Deus a tão alto grau de contemplação que com toda a razão se podem comparar aos antigos anacoretas.
Por esta frase "grau de contemplação", o eminente Jesuíta, como todos os mestres da vida espiritual, designa o dom do espirito de oração, que é caracterizado pela exuberância de caridade numa alma.



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