9 de junho de 2013

TERCEIRO DOMINGO DEPOIS DE PENTECOSTES

A Universalidade da Igreja

Bela e tocante lição de misericórdia a que Jesus nos dá no Evangelho de hoje.

Esta misericórdia extende-se a todas as almas, sem exceção: O Filho do Homem veio salvar o que estava perdido. Ora, pelo pecado original, o mundo inteiro estava perdido... Todos, pois, devem ser salvos.

A Igreja, fundada por Jesus Cristo, tem por fim dirigir as almas para o céu.

Para poder realizar este fim e atingir todos os homens torna-se necessário que esta Igreja seja universal.

É esta universalidade, ou catolicidade da Igreja que vamos meditar hoje, examinando as duas prerrogativas que formam tal Catolicidade, a saber:

1. O depósito de todas as verdades.
2. A sua extensão ao mundo inteiro.

Estas duas condições são uma 3a nota característica da verdadeira Igreja de Jesus Cristo.

I. Depósito de todas as verdades

A universalidade ou Catolicidade é uma marca necessária da verdadeira Igreja porque, sendo necessário para a salvação o conhecimento das verdades reveladas, Deus devia confiar estas verdades a uma sociedade, estabelecida por Ele, para assegurar a salvação de todos os homens.

E não somente devia confiar-lhe estas verdades, mas devia ordenar que as fizesse conhecidas por todos, e dar-lhe os meios para que as fizesse chegar ao conhecimento de todos.

Sem isso, Jesus Cristo não alcançaria a meta almejada: vindo a este mundo para a salvação de todos.

Ora, somente a Igreja Católica pode reivindicar para si esta universalidade, e isto com toda justiça por lhe ser este nome tão especial, que Santo Agostinho e São Cirilo de Jerusalém, já diziam em seu tempo:

“Embora todos os hereges queiram ser católicos, quando um estranho lhes pergunta: Onde está a Igreja Católica? Não há um só que tenha a ousadia de indicar o seu templo ou a sua casa”.

A Igreja Católica, e somente ela, possui a universalidade das verdades reveladas.

Destas verdades, Jesus Cristo comunicou pessoalmente umas a seus Apóstolos, prometendo-lhes o Espírito Santo, que lhes ensinaria o restante.

Os Apóstolos comunicaram todas estas verdades à Igreja, quer por escrito no Novo Testamento, quer oralmente pela pregação que foi recolhida pelos primeiros fiéis, e a qual chamamos: tradição.

Possuindo deste modo a universalidade das verdades reveladas, a Igreja comunica estas verdades ao mundo inteiro, conforme a ordem recebida de Seu chefe e fundador, que lhe disse:

Ide por todo o mundo pregai o Evangelho à toda criatura, (Marc. XVI, 15) dai de graça o que de graça recebestes. (Math. X, 8) O que vos digo nas trevas, dize-o às claras: e o que vos é dito aos ouvidos, pregai-o sobre os telhados (Math. X, 27).

E a Igreja obedece: Ela não sepulta a verdade num segredo misterioso, ela não tem, como tinham os sacerdotes pagãos e os filósofos antigos, uma doutrina pública e outra privada; ela diz tudo o que sabe, e o diz a todos.

Como Mãe desvelada, a Igreja distribui a verdade com inteligência, proporcionando-a à inteligência, à idade e ao caráter de cada um.

A Igreja é uma Mãe; a verdade é um alimento.

Ora, a mãe prudente prepara, ela mesma, o alimento para seus filhos, e não lhes serve senão o que podem assimilar.

II. Extensão ao mundo inteiro.

É a segunda qualidade: a universalidade da Doutrina de Jesus Cristo. Tal doutrina, sendo destinada a todos, deve ser espalhada no mundo inteiro até o fim dos tempos.

É uma nova ordem de Jesus Cristo: ser-me-eis testemunhas em Jerusalém e em toda a Judéia e na Samaria e até as extremidades da terra. (Act. I. 8)

Vivendo ainda os Apóstolos, já a Igreja fazia ouvir a sua voz no mundo inteiro; ia à procura dos bárbaros no meio das suas florestas, dos selvagens nos desertos, voando tão depressa como os conquistadores dos novos mundos, para fazer brilhar a luz evangélica.

Sem dúvida, não se devem interpretar estas palavras no sentido de que a Igreja enche o mundo de um modo físico: isto não é exigido para o cumprimento das promessas.

Nós dizemos que os Romanos eram os senhores do mundo inteiro, embora várias nações escapassem ao seu domínio; assim a Igreja Católica é conhecida sobre todos os pontos do universo e não há talvez uma cidade no mundo onde não tenha ela os seus aderentes.

O protestantismo com suas 888 ramificações é apenas conhecido em certos lugares e em certos países, e não goza de universalidade senão como erro, e não como doutrina fixa.

Numa escola de meninos pobres, na Inglaterra, a professora perguntou a uma das alunas católicas: Chamam a Igreja Romana Católica, porque está espalhada no mundo inteiro; porque a heresia, que está também no mundo inteiro, não se chama Católica?

A menina inteligente respondeu com uma sabedoria que não se julgaria de menina:

“A Igreja Romana é chamada Católica não somente porque está espalhada em toda parte, mas também porque em toda parte Ela é a mesma. A heresia encontra-se também em toda parte; em cada região, porém, ela é diferente da de outras regiões, visto ser dividida num número incalculável de seitas, adotando uma o que outra rejeita.”

A resposta não podia ser mais exata...

Não é necessário que o universo inteiro, ao mesmo tempo, conheça e professe a Religião Católica; basta que aos poucos e sucessivamente, ela tenha sido pregada em todo o mundo, de onde pode ter desaparecido pela heresia ou a apostasia.

Apoiando-se sobre o testemunho de numerosos navegadores e intimoratos desbravadores, pode-se afirmar que todo o globo já foi percorrido, por mar e por terra; e que, nas cinco partes do mundo, por toda a parte, penetrou o Evangelho. O mundo foi, é, e ficará católico, embora infelizmente, haja muita ignorância, muita indolência, muita frieza.

III. Conclusão

A Catolicidade ou universalidade da Igreja é, pois, um fato inconteste.

Ela possui o depósito de todas as verdades, e ninguém pode assinalar uma verdade evangélica que não seja ensinada pela Igreja.

Além disso, Ela transmite estas verdades ao mundo inteiro, pelo heroísmo e a santidade da sua legião de Missionários, que, desde os apóstolos até hoje, percorrem as plagas mais remotas e mais selvagens, para ali implantarem o reino de Deus.

O resultado corresponde a estes esforços. A Igreja Católica, e só Ela, é conhecida no mundo inteiro; grupa-se em redor da sua autoridade tudo o que há de mais sincero, honesto, virtuoso e heróico.

Quantitativamente, ela abrange o mundo, e qualitativamente ela é centro de todas as virtudes que florescem no universo...

Nenhuma seita religiosa pode atribuir-se esta universalidade, como não pode atribuir-se nem a unidade, nem a santidade, já expostas. Se a Igreja Católica não é a verdadeira, então todas as seitas cristãs são falsas, e o cristianismo inteiro é uma ilusão de centenas de milhares de homens, através dos séculos.

EXEMPLO - A Igreja e Victor Hugo

Victor Hugo acabava de atacar a Santa Sé na Câmara dos deputados. Montalembert respondeu com um discurso célebre, do qual cito apenas fragmentos:

“Senhores. O discurso que acabais de ouvir já recebeu o castigo que merecia, nos aplausos da oposição!”

A estas palavras, a esquerda irrompeu com furor; e, durante 5 minutos o orador foi obrigado a calar-se. Continuando, completou:

“Em vista de a palavra “castigo” vos ferir, retrato-a e a substituo pela de “recompensa””.

É neste discurso que se encontra a passagem famosa e tão admirada: “Pode-se negar a força da Santa Sé, mas não a sua fraqueza, que faz a sua força indomável contra vós...

Permití-me uma comparação familiar: Quando um homem é coagido a lutar contra uma mulher, se esta não é a última das criaturas, ela só pode afrontá-lo impunemente. Ela lhe diz: - Batei, vós vos desonrais, mas não me vencereis.

Pois bem, a Igreja é uma mulher. Ela é muito mais que uma mulher, é mãe; a mãe da Europa, a mãe da sociedade moderna.

Podeis ser filhos desnaturados, filhos revoltosos e ingratos, sempre sois filhos. E chega o momento em que esta luta parricida se torna insuportável ao gênero humano, em que aquele que a começou cairá esmagado, ou pela derrota ou pela reprovação unânime da humanidade!”

Nunca um discurso foi tão aplaudido numa reunião.

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(MARIA, P. Júlio. Comentário Apologético do Evangelho Dominical. O Lutador, 1940, p. 245 – 250)

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