[Sermão] Eucaristia: o Santíssimo Sacramento do Altar
Sermão para a Festa de Corpus Christi
30 de maio de 2013 - Padre Daniel Pinheiro
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
***
A minha carne é verdadeiramente alimento e o meu sangue é verdadeiramente bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em Mim e Eu nele.
A Festa de Corpus Christi, prezados
católicos, deve ser muito cara aos nossos corações. O que há de mais
belo, de mais sublime, de mais divino do que a Santíssima Eucaristia?
Nosso Senhor prometeu aos Apóstolos que estaria com eles todos os dias,
até à consumação dos séculos. Nosso Senhor poderia ter se contentado em
cumprir a sua promessa por sua presença espiritual, pelos auxílios da
graça derivados de seus méritos infinitos obtidos, de modo particular,
na cruz. Nosso Salvador quis, porém, permanecer entre nós em Corpo,
Sangue, Alma e Divindade, sob as aparências do pão e do vinho. Após seu
sacrifício na Cruz, não poderia haver modo mais eficaz, mais sublime de
Nosso Senhor mostrar a sua caridade para conosco. A Eucaristia é o fruto
do Sagrado Coração de Jesus que transborda de caridade para conosco.
Para que nós pudéssemos considerar em
toda a sua plenitude essa caridade, foi instituída a festa de Corpus
Christi. Na Quinta-Feira Santa, nós comemoramos e relembramos a
instituição da Eucaristia, da Missa, do sacerdócio, mas nossa alma está
muito ocupada com o pensamento da paixão e morte de Nosso Senhor. A
Igreja quis, então, no séc. XIII, acrescentar um segundo dia em que
festejamos e consideramos o triunfo de Nosso Senhor Jesus Cristo
presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Um segundo dia em que
festejamos o triunfo da caridade de Nosso Senhor para conosco.
A Eucaristia é um Mistério de nossa Santa
Religião e é um dogma, quer dizer, uma verdade em que somos obrigados a
acreditar com toda certeza, pois Deus nos revelou e a Igreja nos ensina
como tal. É somente pela fé que acreditamos que, após as palavras do
sacerdote, encontram-se o Corpo e o Sangue de Cristo realmente e
substancialmente presentes sob as aparências de pão e de vinho. Após as
palavras da consagração, ocorre, portanto, a transubstanciação: toda a
substância do pão e toda a substância do vinho se convertem no Corpo e
no Sangue de Cristo. Ora, como o Corpo e o Sangue de Cristo estão unidos
à sua Alma e à sua Divindade, temos sob as espécies do pão e do vinho, o
Corpo, a Alma, o Sangue e a Divindade de Cristo. A visão, o tato, o
paladar todos os sentidos nos dizem que estamos diante de um pouco de
pão e de um pouco de vinho. Todavia, sabemos pela fé e com certeza
absoluta que estamos diante do Corpo, Sangue, Alma e Divindade do
Senhor. Cremos porque Nosso Senhor nos falou claramente: “a minha
carne é verdadeiramente alimento e o meu sangue é verdadeiramente
bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue fica em Mim e Eu
nele.” (Jo 6, 56,57) Como o mistério da Santíssima Trindade de que
tratamos domingo passado, só podemos reconhecer que Nosso Senhor está
realmente presente na hóstia consagrada e no cálice consagrado pela fé.
Fé que não contradiz a razão, mas a eleva.
A Eucaristia, instituída por Nosso
Senhor, é ao mesmo tempo sacrifício e sacramento. A Eucaristia é um
sacramento. A Eucaristia, como os outros seis sacramentos, foi
instituída por Cristo para nos transmitir a graça de modo eficaz.
Todavia, a Eucaristia não é simplesmente um sacramento, mas ela é o
Santíssimo Sacramento. Ela é o Santíssimo Sacramento porque, além de
transmitir a graça, como os outros sacramentos, ela contém o autor da
graça, ela contém Nosso Senhor Jesus Cristo, homem e Deus. É o próprio
Deus que se encontra na Eucaristia. É o próprio Deus que, no excesso de
sua caridade, se entrega a nós como alimento na Eucaristia. Cristo se
entrega a nós pela Eucaristia para que nos unamos intimamente a Ele, a
fim de que sejamos transformados em outros Cristos, em almas que tenham
as mesmas virtudes de Cristo. Esse pão vivo e celestial, esse pão dos
anjos, conserva e aumenta a vida da alma, que é a graça. Ela obtém o
perdão dos pecados veniais, se estamos arrependidos, e nos preserva dos
mortais. Ela aumenta o fervor da caridade, nos dispondo a agir cada vez
mais por amor a Deus.
A Eucaristia é também chamada de
Santíssimo Sacramento do Altar. Do altar. O altar é o local onde se
oferece o sacrifício. A Eucaristia é denominada Santíssimo Sacramento do
Altar porque é pela Eucaristia, no momento da consagração, que se
perpetua o Sacrifício de Cristo, oferecido no Calvário na Sexta-feira
Santa. É a Missa o sacrifício da Nova Lei. As prefigurações e sombras do
Antigo Testamento cedem lugar à realidade e à luz. O sacrifício de
Melquisedeque, o sacrifício de Isaac, o sacrifício do cordeiro pascal,
os sacrifícios do Templo anunciavam o sacrifício perfeito e imaculado de
Cristo. Trata-se do único e mesmo sacrifício do Calvário que é renovado
nos altares. É a mesma vítima: Cristo. É o mesmo sacerdote principal:
Cristo, que na Missa age por meio do padre. Entre a Missa e o Calvário
muda somente o modo em que o Corpo e o Sangue de Cristo são oferecidos à
Santíssima Trindade. No Calvário, Cristo ofereceu sua humanidade
derramando sangue, com sofrimento. No altar, ele se oferece, no momento
da consagração, de modo incruento e sem sacramental, sem derramamento de
sangue, sem sofrimento, sem morrer. Todas as graças que Cristo mereceu e
adquiriu no Calvário são aplicadas pela Missa. É pela Missa que nos vêm
todas graças. A Missa é um tesouro infinito. Nosso Senhor morreu na
Cruz para nos salvar e instituiu a Missa como sacrifício perfeito da
Nova Aliança, para renovar o sacrifício do seu Corpo e do seu Sangue,
para aplicar seus méritos infinitos adquiridos no Calvário.
A Eucaristia, como falamos no início, é um Mistério da fé. Ela é também um Mistério da esperança. É Nosso Senhor que o diz: “o que come deste pão viverá eternamente”.
Todavia, é preciso aproximar-se do Corpo de Cristo com as disposições
corretas, pois quem come desse Pão ou bebe desse Cálice indignamente
será réu do Corpo e do Sangue de Cristo, bebendo a própria condenação,
como nos diz São Paulo. Devemos nos aproximar da comunhão com as
disposições corretas, disposições de que tratamos não faz muito tempo
(ver sermão sobre o milagre da multiplicação dos pães):
necessidade de ser católico, batizado, estar em estado de graça, estar
em jejum de pelo menos uma hora, aproximar-se da comunhão com devoção e
vestido modestamente. Recebendo bem a Eucaristia, podemos esperar vencer
nosso combate nesse vale de lágrimas e alcançar o céu. A Eucaristia nos
dá forças para alcançar o céu como o maná deu força aos judeus para a
travessia do deserto e como o pão que Deus deu a Santo Elias permitiu
que o santo profeta andasse ainda mais 40 dias e 40 noites (I Reis, 5). A
Eucaristia é um mistério de esperança.
A Eucaristia é também um mistério de
caridade. Mistério da caridade porque nos é impossível compreender o
amor infinito de Deus para com os homens. Não bastou à caridade de Nosso
Senhor morrer na Cruz para nos salvar, pobres pecadores. Ele quis
permanecer conosco e permanecer conosco real e substancialmente com seu
Corpo, Sangue, Alma e Divindade. De fato, Nosso Senhor nos amou e nos
amou até o fim, quer dizer, ao máximo, buscando a nossa salvação. A
Eucaristia é mistério da caridade porque, como nenhum outro sacramento,
ela nos transmite a graça e aumenta o fervor da caridade. Nós cremos na
presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo não somente porque Ele nos
falou. Nós acreditamos na presença real porque nós cremos no amor de
Deus (I Jo, 16) por nós. De fato, é preciso crer no amor infinito de
Deus pelos homens para poder crer na Eucaristia. O que Deus não faz por
nós, caros católicos? Não sejamos ingratos. Acreditemos no amor de Deus e
deixemos que essa caridade guie as nossas vidas, para que façamos em
todas as coisas a perfeita vontade divina.
Sendo o sacramento da Eucaristia um
mistério de fé, de esperança e de caridade, ele é também o sacramento da
nossa consolação. Diante da tristeza, quando nossa alma pergunta “por
que, Deus, anda a minha alma triste, diante das aflições causadas pelo
inimigo?” não deixemos nos abater. Podemos ficar triste diante de certos
males, mas nunca abatidos, desesperados. Se a tristeza começa a crescer
e a se apoderar de nosso coração, ela perturbará a nossa alma,
perturbando o uso da razão, prejudicando a virtude. Diante da tristeza,
olhemos para o Sacrário. Pensemos no amor divino. Busquemos consolo em
Deus. Encontraremos consolos diante das misérias da vida na medida em
que estivermos unidos a Deus. Nas criaturas, nos amigos, nas diversões
lícitas, podemos até encontrar algum consolo, mas é passageiro. Deus
deve ser nosso supremo e, na verdade, único consolo, pois é Ele o bem
infinito. Por que está triste a minha alma, quando Deus fez tudo para me
salvar? Enquanto sacrifício, a Eucaristia nos coloca diante dos olhos
os sofrimentos de Cristo, para que possamos unir os nossos aos dEle, e
somos consolados. Enquanto sacramento, Nosso Senhor está conosco na
Eucaristia como amigo, que quer o nosso bem disposto a nos ajudar a
carregar o nosso jugo, para aliviá-lo, e, assim, somos consolados. Não
deixemos a tristeza tomar conta de nossa alma. Dirijamos o nosso olhar e
a nossa alma ao sacrário, onde Nosso Senhor quis ficar, humildemente e
muitas vezes desprezado, para nos salvar e consolar.
A Festa de Corpus Christi é a festa do
triunfo da fé e a festa do triunfo da caridade divina. Quão desprezado
encontra-se Nosso Senhor na Eucaristia. Quanta irreverência na
celebração das Missas, quantos sacrilégios cometidos naquilo que há de
mais sagrado na face da terra. Quanta irreverência na recepção da Santa
Eucaristia, quantos comungam sem pensar se estão em estado de graça ou
não. Quantas partículas em que Nosso Senhor está realmente presente se
perdem em comunhões feitas na mão. Quanta irreverência nos gestos e nos
trajes diante do Altíssimo. Devemos, então, com entusiasmo redobrado
professar com muita solenidade a nossa fé na presença real e substancial
de Nosso Senhor Jesus Cristo na Eucaristia. Devemos confessar com muita
solenidade a caridade divina para conosco e agradecer por todos os seus
inumeráveis benefícios. Não bastam, porém, os ritos e solenidades
exteriores, caros católicos. Devemos afirmar nossa fé e expressar o
nosso amor e gratidão para com Deus interiormente, antes de tudo,
convertendo-nos inteiramente a Ele, tomando a firme decisão de servi-lo.
Façamos isso comungando com grande devoção e assistindo piedosamente à
Santa Missa. Ofereçamos essa Missa e a nossa comunhão nesse dia, em
reparação pelos nossos próprios pecados, pelos pecados públicos, pelos
pecados de nossa nação e de todos os povos. Olhando para a Eucaristia,
devemos crer no amor de Deus para conosco e devemos responder a tão
insistentes chamados de Nosso Senhor para que nos convertamos. Que
Cristo Eucarístico possa reinar em nossas almas e nas nações.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.
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