3 de junho de 2013

Sermão 2º Domingo depois de Pentecostes - Padre Daniel Pinheiro - IBP


A Assistência à Santa Missa


Sermão para o Segundo Domingo depois de Pentecostes
02 de junho de 2013 - Padre Daniel Pinheiro

Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém. Ave-Maria…
***
“Um homem fez uma grande ceia e convidou muitos. E, à hora da ceia, mandou um servo dizer aos convidados que viessem, porque tudo estava preparado.”
A Parábola que Nosso Senhor conta hoje nos faz ver a conduta misericordiosa de Deus, que convida todos os homens à prática do Evangelho, à fé, à Igreja, à salvação, à felicidade eterna do céu. Todavia, podemos ver também nesse banquete a Santa Missa. Não porque a Missa seja essencialmente um banquete, pois sabemos que ela é essencialmente a renovação do sacrifício do Calvário. Podemos, porém, dizer que a Santa Missa é esse banquete ao qual Nosso Senhor nos convida, que ela é esse banquete que já está todo preparado. Todavia, quantos, infelizmente, não compreendem o valor da Santa Missa e quantos fabricam desculpas para não assistir à Santa Missa.
O terceiro mandamento nos manda santificar os domingos e festas. A nossa razão, sem necessidade da revelação, nos mostra que temos o dever de dedicar uma parte do nosso tempo ao culto de Deus, e isso não só em privado, mas também em público, pois somos animais racionais e sociais. Devemos dedicar um tempo para honrar publicamente aquele que nos criou, que nos sustenta, etc. Para facilitar o cumprimento desse dever, Deus determinou ao povo eleito que o sábado deveria ser o dia do Senhor. Essa determinação foi abrogada pela Nova Lei, que substituiu o sábado pelo domingo, porque foi nesse dia que Nosso Senhor ressuscitou e porque foi no domingo de Pentecostes que a Igreja foi promulgada, como dissemos na Festa de Pentecostes. Mudou-se também o dia para que os cristãos não confundissem as festas da nova lei com as festas judaicas. Esse mandamento de santificar domingos e festas nos obriga, de um lado, a cultuar e Deus como ele quer ser cultuado: pela assistência à Santa Missa. Por outro lado, ele obriga ao descanso dominical, proibindo, em particular, os trabalhos servis.
Trataremos hoje da assistência à Santa Missa. O homem tem o dever de honrar e adorar publicamente a Deus. Isso se faz, antes de tudo, por meio do sacrifício, que é o ato oficial e externo de adoração que os indivíduos e a sociedade oferecem a Deus. Hoje, e até o final dos tempos, esse sacrifício é o Sacrifício de Cristo renovado em nossos altares. Hoje, esse sacrifício é a Santa Missa. Não há outro sacrifício que seja agradável a Deus. Não devemos sacrificar comidas, animais ou outras criaturas. Oferecer a Deus outro sacrifício, que não o sacrifício da Missa, é desagradar a Deus. Só um sacrifício é possível, o da Santa Missa.
Nos domingos e festas de preceitos, somos, então, obrigados a assistir à Missa sob pena de pecado mortal. Muitas pessoas já não compreendem porque o fato de deixar de assistir à Missa aos domingos e dias santos sem ter motivo sério é uma falta grave e acham isso um exagero. Infelizmente, muitos já não sabem ou não querem compreender que a Santa Missa é o maior bem que nós temos na terra. Na Santa Missa, é o sacrifício de Cristo que se renova. A Missa e o a Cruz são o mesmo sacrifício. O mesmo sacerdote, que é Cristo. A Mesma vítima, que é também Cristo. A única diferença entre a Missa e o Calvário é o modo pelo qual Nosso Senhor Jesus Cristo se oferece a Deus. Na Cruz, Cristo se ofereceu de modo cruento, com sofrimentos, com derramamento de sangue. Na Missa, Ele renova o sacrifício do Calvário, oferecendo-se a si mesmo de forma incruenta, de forma sacramental, sem sofrimento, sem sangue, sem morrer novamente. É pela Cruz que Cristo nos obteve a possibilidade de ter os pecados perdoados. É pela Cruz que Cristo nos obteve os méritos para pedirmos as graças necessárias para a nossa salvação. É pela Cruz que Cristo no torna possível adorar perfeitamente a Deus. É pela Cruz que podemos agradecer a Deus por todos os benefícios que nos deu. Tudo isso que Cristo adquiriu no Calvário, Ele quis nos dar e aplicar por meio da Santa Missa, por meio da renovação incruenta de seu sacrifício. Podemos dizer, então, que é pela Missa que podemos obter o arrependimento de nossos pecados para buscar a confissão. É pela Missa que podemos obter as graças que precisamos para nos salvar. É pela Missa que podemos agradecer a Deus pelos seus inúmeros benefícios. É pela Missa que podemos adorar a Deus perfeitamente, reconhecendo o soberano domínio de Deus sobre todas as coisas e nos submetendo a esse soberano domínio. Claro que podemos fazer tudo isso fora da Missa, e devemos fazer todas essas coisas fora da Missa. Toda a eficácia, porém, dessas ações vêm da Missa, da Santa Missa. A Missa é o centro do mundo. A Missa é o centro de nossas vidas. Todas as graças vêm ao mundo por meio de Cristo, todas as graças nos são aplicadas por Cristo por intermédio da Santa Missa (daí, diga-se de passagem, a importância do Rito da Missa e a importância da Missa ser bem celebrada). A Santa Missa tem um valor infinito, pois nela é o próprio Homem-Deus que se oferece à Santíssima Trindade.
Tendo compreendido isso, é fácil compreender porque somos obrigados, pelo terceiro mandamento do decálogo e pelo primeiro mandamento da Igreja a assistir à Missa aos domingos e festas sob pena de pecado mortal. Pela Missa nos vem todas as graças como acabamos de dizer. Deixar de assistir à Missa aos Domingos sem ter uma razão séria, sem ter uma razão proporcional, traz para nossas almas grandes prejuízos. Deixamos de honrar Deus como lhe é devido. Deixamos de agradecer-lhe como lhe é devido. Deixamos de obter graças abundantíssimas para a nossa salvação. Deixamos de obter graças imensas de verdadeiro arrependimento. Trocamos um tesouro de valor infinito por uma criatura, pela preguiça, por uma diversão ou outra coisa…
Todos os fiéis devem, então, assistir à Missa aos domingos e dias de preceito determinados pela Igreja, sob pena de pecado mortal. E devemos assistir à Missa inteira, do primeiro sinal da cruz à bênção final. Para assistir à Missa, devemos ter a presença corporal, a intenção de cultuar a Deus e a atenção.
É preciso, então, assistir à Missa inteira. Quem falta a alguma parte dela já não assiste à Missa inteira. Conforme ao que se deixa de assistir, comete-se um pecado grave ou leve. Deixar de assistir a uma parte notável da Missa, pela duração ou pela importância, é falta grave. Assim, alguém que chega depois do ofertório, ou que chega depois do Evangelho e sai logo depois da comunhão omite uma parte notável da Missa. Aquele que se ausenta do prefácio até a consagração incluída ou da consagração inclusa até o Pai Nosso também perde uma parte notável, ainda que assista a todo o resto. Aquele que assiste à Missa inteira, mas deixa de assistir à consagração, também deixa de assistir a uma parte notável da Missa e comete uma falta grave. O Preceito pode ser cumprido, em caso de necessidade, pela assistência a duas Missa distintas, desde que não sejam celebradas ao mesmo tempo (no Rito tradicional é possível ter várias Missas em uma Igreja ao mesmo tempo, em altares distintos)  e desde que se assista à consagração e à comunhão do sacerdote na mesma Missa.
Se a pessoa perde uma parte não notável da Missa, comete uma falta venial. Por exemplo, chegar atrasado, mas antes do ofertório não é perder uma parte notável. Deixar de assistir somente ao que segue à comunhão do sacerdote também não é perder uma parte notável. Deixar de assistir do início até a Epístola junto com o que segue à comunhão, também não é omitir uma parte notável. Diga-se, de passagem, que aquele que perde uma parte não notável da Missa pode comungar, pois não cometeu um pecado mortal ao deixar de assistir a uma parte não notável da Missa.
Em todo caso, o que chega atrasado à Missa está obrigado, leve ou gravemente, conforme à importância do que deixou de assistir, a suprir a parte que Missa que perdeu, assistindo-a em outra Missa, a não ser, claro que seja moralmente ou fisicamente impossível, por tratar-se da última Missa, por exemplo ou por outras razões válidas.
É evidente que para julgar a gravidade do pecado cometido é preciso considerar não só a qualidade ou a quantidade das partes da Missa a que se deixou de assistir, mas também a negligência e culpa da pessoa em não chegar no horário ou em não suprir a parte perdida da Missa. Se a pessoa não chegou antes do ofertório porque há um engarrafamento inesperado, por exemplo, não há, claro, nenhuma falta.
Essa presença corporal necessária para assistir à Missa é uma presença moral, de tal forma que seja possível dizer que aquela pessoa é uma das que realmente assistem à Missa. Por falta de presença corporal não cumpre o preceito aquele que assiste à Missa pela televisão ou pelo rádio ou o que permanece tão afastado do grupo de pessoas que assistem à Missa que já não se pode considerar que ela faz parte desse grupo. Todavia, não é necessário estar dentro da Igreja nem ver o sacerdote, bastando que faça parte dos que assistem à Missa e que possam acompanhar a Missa de alguma forma, seja pelos sons do sinos ou dos cantos, seja pelos gestos das outras pessoas, ajoelhando, levantando, etc…. Portanto, aqueles que estão na sacristia, ou atrás de uma coluna ou até mesmo na rua, se a Igreja está cheia, ou que estão ali atrás no claustro, estão corporalmente presentes à Missa e cumprem perfeitamente o preceito.
Além da presença corporal, é necessário que se assista à Missa com a devida intenção de cultuar Deus. Assim, aquele que vai à Missa unicamente para ouvir a música ou simplesmente para acompanhar outra pessoa, sem a intenção de honrar Deus, não assiste à Missa.
É preciso também ouvir a Missa com atenção, quer dizer, com a aplicação de nosso espírito ao que está ocorrendo. Para ouvir validamente a Missa se requer, ao menos, a atenção externa, evitando toda ação incompatível com a aplicação de nosso espírito à Missa. Assim, aquele que lê livros não religiosos durante parte notável da Missa não cumpre o preceito; aquele que conversa ou dorme durante parte notável da Missa não cumpre o preceito, etc. Por outro lado, o que toca órgão, o que faz a coleta, o que canta no coral ou o que dorme por alguns momentos, cumpre o preceito. A presença corporal com a intenção de honrar Deus e a atenção externa bastam para cumprir validamente o preceito. Claro que estamos falando aqui do mínimo para que o preceito seja cumprido e não do ideal, pois para que a pessoa possa obter os frutos da Missa e para que haja realmente o culto a Deus por parte dela, é preciso também a atenção interior, aplicando nossa inteligência e nossa vontade ao que está se realizando sobre o altar. Essa atenção pode ser às palavras e gestos do sacerdote, à significação dessas palavras e gestos, ou fazendo atos de caridade ou recitando orações piedosas, como o Terço. A distração voluntária durante a Missa é, portanto, uma falta, em geral leve, mas é uma falta, e uma falta que nos priva de muitas graças.
Muitas pessoas têm dúvidas com relação à assistência à Missa e o cuidado com as crianças pequenas. Como Nosso Senhor disse: deixai vir a mim as criancinhas (Lucas XVIII, 16). Claro que aquele que tem que voltar sua atenção aos cuidados da criança cumpre o preceito perfeitamente, bem como não tem que se preocupar aquele que tem que se afastar um pouco mais do grupo das pessoas que assistem à Missa quando a criança faz um pouco mais de barulho. Muitos pais gostariam de poder prestar mais atenção à Missa, mas a santidade não consiste em fazer o que queremos, mas em fazer aquilo que Deus quer, em particular cumprindo com nossos deveres de estado. Ofereça à Santíssima Trindade os cuidados que são dispensados aos filhos e que impedem o prestar atenção perfeitamente na Missa. É boa, muito boa a presença das crianças na Missa, pois na Missa rezamos de modo particular por todos os presentes. A criança, ainda que não compreenda o que está ocorrendo, recebe muitas graças em virtude dessas orações. Além disso, muitas graças são dadas à família que assiste à Missa unida. Aquele que vem à Missa com as crianças assiste à Missa e assiste bem à Missa, ainda que dedique parte notável da Missa aos cuidados da criança. Os pais podem e devem – com discrição, voz baixa e sem atrapalhar os outros – explicar às crianças o que está ocorrendo durante a Missa em suas partes mais importantes, sem que a assistência à Missa seja prejudicada. Tudo isso demanda um certo sacrifício dos pais, mas esse sacrifício será recompensado pelas graças recebidas pelas crianças e pelos pais. E, muito rapidamente, as crianças se acostumarão a ficar quietas durante a Missa.
Consideramos brevemente, então, o valor infinito da Missa e que, por isso, somos obrigados a assistir à Missa aos domingos e dias de preceito. E vimos que devemos assistir à Missa com presença corporal, com intenção de cultuar Deus e com atenção ao menos externa. Para deixar de assistir à Missa é necessária uma causa medianamente grave, ou seja, é preciso algo que cause um notável incômodo ou notável prejuízo nos bens da alma ou do corpo da própria pessoa ou do próximo. Para julgar a gravidade da causa devemos examinar se ela nos impediria também de fazer outras coisas importantes. As principais causas para poder deixar de assistir à Missa licitamente são três. A primeira é a impossibilidade moral: por exemplo, uma doença que impeça sair de casa também para outros assuntos importantes; uma distância considerável – os moralistas dizem cerca de uma hora a pé e tem gente que não quer fazer meia hora, quarenta minutos de carro;  também os muito anciãos ou debilitados, que não podem ir à Igreja ou permanecer todo o tempo da Missa sem grave incômodo etc. não têm obrigação. Outro motivo que dispensa de assistir à Missa é a caridade, que obriga a socorrer o próximo, por exemplo, acompanhando um doente, ou se puder impedir com sua presença um pecado grave, ou para combater um incêndio e assim por diante… O terceiro principal motivo é por ter de cumprir uma obrigação, ou um dever: às vezes as mães para cuidar dos filhos, os militares, os policiais que devem garantir a segurança, médicos que têm de ficar de plantão e outros…
O católico que deixa de ir à Missa deixa de receber inúmeras graças, prejudica muitíssimo a sua vida espiritual e ofende gravemente a Deus, que quer ser honrado come lhe é devido, pela participação dos fieis à Santa Missa, pela participação à renovação do Sacrifício de Cristo. Assistir à Missa não é um fardo insuportável, mas é um grande bem para nossas almas e para a sociedade. A Missa é o que há de mais importante na terra, é o nosso maior tesouro, pois é em virtude dela, em última instância, que nos santificamos.  Nosso Senhor já preparou tudo e nos convida com insistência a assistir à Missa e a assistir bem à Santa Missa. Basta aceitarmos o convite, sem desculpas vãs como as dos convidados para o banquete.
Em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo. Amém.

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