11 de abril de 2011

A SANTÍSSIMA TRINDADE

A GERAÇÃO ETERNA DO FILHO

Diz Deus pelo profeta: “Eu que dou vida aos outros não posso então engendrar a mim mesmo?” Ou seja, “eu que sou vivo, não teria os atos da vida, entre todos o de engendrar meu semelhante?”

De fato, o homem recebeu de Deus o poder de gerar o homem. Devemos concluir que Deus pode também gerar Deus. Será que aquele que deu ao homem o poder de falar ou de escutar não poderá ele mesmo falar e escutar? Ninguém dá o que não tem. O homem gera o homem, logo Deus gera Deus.

Mas como Deus engendra? Não pode ser com um corpo pois Deus é espírito. Procuremos nos espíritos uma imagem, pálida imagem, mas que se aproxima melhor do ato divino.

Nossa alma tem a faculdade de conhecer; graças a esta faculdade, ela se representa os objetos como num espelho interior. Nossa alma vê com os olhos do corpo uma flor. Imediatamente forma-se na alma a idéia de flor; é uma espécie de geração. A flor passa de seu estado material a um estado espiritual, na alma daquele que a vê. É sempre assim que fazemos, mesmo sem o saber, e necessariamente, passando toda a natureza do material para o espiritual. E se a coisa já é espiritual, como a virtude ou a honra, ela permanece assim em nossa alma.

Deus também conhece. E o que Ele conhece? Ele conhece a si mesmo. Num só olhar ele se vê eterno, imutável, infinito. Ele tem dele mesmo uma idéia igual a si próprio, igualmente grande, perfeita, igualmente subsistente. É seu Filho, verdadeiramente gerado à sua semelhança, a imagem viva de suas perfeições infinitas.

Para nos ajudar a conceber esta geração inefável, façamos uma suposição. Imaginemos que uma mãe tenha perdido seu filho. Ela forma dentro dela uma imagem, uma imagem muito parecida. Suponhamos que ela possa dar vida a esta imagem; não teria ela assim gerado espiritualmente seu filho dentro dela? Isso, que é uma impossibilidade para nós ou para qualquer outra criatura, é uma realidade em Deus. Pela infinita fecundidade da natureza divina, Deus, contemplando-se a si mesmo, gera seu Filho, imagem de sua bondade, figura de sua substância, esplendor de sua glória, seu verdadeiro Filho, Deus como Ele, eterno e infinito como Ele.

É por isso que São João Evangelista chama ao Filho de Verbo. “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus e o Verbo era Deus”. Verbo quer dizer palavra. Há uma palavra interior que a alma pronuncia quando ela pensa e fixa seu pensamento em algo. É o que se chama o verbo interior da alma. Ora, a palavra interior de Deus é seu Filho, é seu Verbo, concebido e engendrado espiritualmente. Por isso preferimos o nome de Verbo a qualquer outro que se dê ao Filho, pois ele nos leva, mais que os outros, ao âmago do mistério da divindade.

Vejamos ainda alguns efeitos nas coisas materiais que nos ajudarão a avançar ainda mais no mistério. Uma chama acende outra chama igual a ela, sem no entanto nada perder de sua luz. O sol lança seus raios pelo espaço imenso sem perder nada de sua energia. Assim o Pai engendra o Filho; assim Deus gera Deus. E o Credo, na missa solene nos faz cantar, falando do Filho: Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro.

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FONTE: EMMANUEL-ANDRÉ, Pe. O mistério da Santíssima Trindade. Niterói: Permanência, 2006. p.15-17.

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