25 de abril de 2011

Vida de São João Bosco - CARIDADE, MORTIFICAÇÃO, CASTIDADE E HUMILDADE.

Felizmente aí estava a dar-lhe segurança para o seu modo de julgar, o argumento das obras, dessas múltiplas criações partidas do mais tranqüilo dos mortais, do mais simples dos sacerdotes do Piemonte.
Pela audácia da concepção, pela variedade impressionante das formas, pela solidez da estrutura, elas bem atestavam que o autor bebia na fonte de toda a luz e de toda a força: Deus Nosso Senhor em cujos braços se abandonara e em cuja vida abismara sua mesma vida... A verdadeira palavra que define esta alma pronunciou-a o Cardial Alimonda na oração fúnebre: "A virtude intima e divina que punha em movimento esta vida prodigiosa era a caridade celeste".
Era essa e não outra.
Os biógrafos falam de seu espírito de penitência. E foi sem dúvida prodigioso. Dormia só cinco horas por noite e muitas vezes a aurora surpreendia-o sentado à escrivaninha. Nunca se preocupava com a qualidade dos alimentos. Suportava sem se queixar o duro trabalho do confessionário. Encurtou a vida nas peregrinações que teve que fazer para lá e para cá, a fim de arranjar dinheiro para suas empresas. Tolerou com o coração resignado duras cruzes que lhe pesavam sobre os ombros. Desde 1845 até a morte queimava-lhe a epiderme um eczema quase contínuo que fez exclamar ao salesiano que se encarregou de lhe preparar o corpo para a sepultura: "Que cilício! E quando se pensa que ele o conservou sempre escondido!"
Entretanto esse espírito de penitência não era outra coisa senão o seu modo particular de viver desapegado das criaturas, jamais dominado por elas. A não ser que o queiramos imaginar como a oferta íntima com que ele, no segredo da alma, entregava o corpo atormentado ao Mestre a quem tanto amava.
Surpreendem e comovem seus escrúpulos a respeito da pureza, escrúpulos que lhe faziam evitar até a mesma palavra castidade, para não despertar porventura com ela algum mau pensamento. Até o fim da vida jamais soube da existência de certas formas de desonestidade. É o Cardial Cagliero quem nos garante ter verificado isso. Os que o conheceram de perto atestam que ele levou consigo ao túmulo a inocência batismal. Para certos corações insidiados pelas más tendências bastava que ficassem perto dele para se sentirem logo livres da tentação. Um de seus filhos prediletos, o Padre Julio Barberis, nos diz que Dom Bosco desejou fazer dessa virtude e característica, de sua congregação. De sua pessoa, de seu contato, de sua palavra exalava uma como virtude secreta que por contágio penetrava e purificava as almas. Até pelo modo como ele tomava a mão de um menino ou colocava a própria mão na cabeça dele percebia-se seu imenso respeito para com o corpo batizado. E enfim, misericordioso como era para com qualquer falta, era pelo contrário inexoravelmente severo quando eram faltas contra os bons costumes. A pureza de sua alma era mesmo angélica. E não era isso a fidelidade de um coração e de um corpo a uma beleza, a um amor e a uma alegria superior que o tinham dominado completamente?
Dom Bosco expressava a respeito de si mesmo os juízos mais humildes. Dizia por exemplo: "Se Deus tivesse encontrado para suas obras um instrumento mais mesquinho, tê-lo-ia certamente preferido a mim e teria ficado muito mais bem servido".
Ao voltar dos dias triunfais de Paris, opunha-lhes como a honras fúteis, a humildade de sua origem: "Lembras-te, dizia ao Padre Rua, daquela pequena colina, à direita da estrada de Buttigliera? Nessa colina há uma casa muito pobre com um pequeno campo ao lado.
Nesse campo eu tomava conta de duas vaquinhas. Todos esses distintos senhores que me cumularam hoje de gentilezas mal sabiam que estavam homenageando a um camponês!"
"Qual é a coisa mais bela que já viste em tua vida?" perguntou ume dia no pátio a um menino, sem nem sonhar que provocava esta resposta espontânea: "Dom Bosco". "Ora essa! - replicou então – tu me fazes lembrar um campônio que visitou a exposição dos objetos de nossa última rifa. Enquanto todos se extasiavam a contemplar esta ou aquela obra de arte, nosso homem ficou boquiaberto perante um enorme salame. Para os seus olhos não havia nada de mais belo". Essa confissão sincera e repetida de sua pequenez ele a fazia para não subtrair nada à glória de seu Senhor e Mestre e para cantar o poder, a sabedoria e a bondade daquele que o escolhera para sua obra. E é também esta uma forma autêntica de amor.

Do livro Dom Bosco, de A. Auffray SDB
Tradução de D. João Resende Costa,
Arcebispo de Belo Horizonte

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