4 de abril de 2011

A SANTÍSSIMA TRINDADE

OS ATOS DA VIDA DIVINA

Deus se chama a si próprio de Deus vivo. Ele possui a vida no mais alto grau. Ele é a própria vida, segundo esta palavra de Nosso Senhor: “Eu sou a vida” (Jo XVI, 6). Sendo a vida, Deus é a fonte da vida de todos os seres vivos.

O que é a vida? A vida é a faculdade que tem um ser de se mover ele próprio. As pedras, por exemplo, são inertes, não vivem. Já as plantas são vivas, nós as vemos sair da terra e se desenvolver por um princípio interno. Mas a vida das plantas é imperfeita; encontramos nos animais uma vida mais perfeita do que nas plantas porque eles sentem, eles mudam de lugar como querem, eles reconhecem e procuram aquilo que lhes convém, eles se afastam e se defendem daquilo que lhes é contrário. Mas a vida é ainda mais perfeita no homem.

Além das qualidades que são comuns com os outros animais, o homem tem uma alma. A alma é vida, e a morte não tem sobre ela nenhum poder. A alma traz consigo as sublimes faculdades de conhecer e amar. A vida da alma consiste em exercer essas duas faculdades, fazê-las agir sem sair de si mesma. Ela conhece, e por isso ela representa dentro de si os objetos, como num espelho interior. Ela ama e se lança interiormente na busca do objeto amado como num impulso interior.

A vida da alma é admirável, mas ela é uma fraca imagem, um distante eco da vida divina. A alma às vezes conhece, às vezes não: mas Deus é só inteligência e amor. Conhecer e amar é a própria natureza de Deus.

A alma conhece as coisas uma após as outras e as afeições de seu coração se sucedem uma depois da outra: Deus conhece todas as coisas de um só olhar que não tem começo nem fim; ele ama de um amor imutável e eterno.

A alma busca seu conhecimento nos objetos exteriores; ela é levada a amá-los pela beleza que neles descobre. Deus conhece tudo em si mesmo, sua ciência é a regra suprema de tudo o que existe; é sua ciência que, junto com seu amor, tirou do nada todas as criaturas; a bondade que está nelas é um reflexo da bondade divina. Digamos, com Santo Agostinho, que Deus não conhece as coisas porque elas são, mas as coisas são porque Deus as conhece. Deus não ama as coisas porque elas são boas, mas elas são boas porque Ele as ama. É seu conhecimento que as faz ser, é seu amor que as faz boas.

Procuremos, então, entrar neste grande e insondável mistério da vida divina. Deus se conhece a si próprio e conhece todas as coisas em si. Deus se ama e ama todas as coisas em si. Ora, por uma infinita bondade da sua natureza, o seu ato de conhecimento se termina numa pessoa divina que é seu Filho, e o seu ato de amor se termina em outra pessoa divina que é o Espírito Santo.

Examinaremos separadamente estes dois atos divinos, contemplando primeiro a geração eterna do Filho e em seguida a Processão do Espírito Santo.
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FONTE: EMMANUEL-ANDRÉ, Pe. O mistério da Santíssima Trindade. Niterói: Permanência, 2006. p.14-15.

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