21 de maio de 2011

CONHECER MARIA (VIII)

Maria medianeira da graça


1) Queridos irmãos, sejam fiéis servidores de Jesus Cristo e amantes devotos de sua Mãe Santíssima, a Virgem Maria, se querem ser eternamente felizes com eles no céu. Vocês serão gratos a Deus e à sua Bendita Mãe, enquanto forem humildes de coração e castos de corpo; enquanto forem modestos no falar, prudentes, tímidos, controlados e com a condição de que não devem a ninguém ocasião de escândalo ou de justas queixas.

2) É muito útil para sua salvação, para a honra de Deus e para o louvor da Bem-aventurada Virgem, que vocês sejam devotos na oração, empenhados no estudo e no trabalho, mansos frente às repreensões, sóbrios na comida, irrepreensíveis em seus olhares e corretos em todo seu comportamento. Por conseguinte, se desejam louvar de modo digno e venerar adequadamente à Virgem Santa, comportem-se como filhos de Deus: com simplicidade, sem malícia, sem perversidade, sem mentiras, sem ira, sem disputas, sem murmurações, sem suspeitas, suportando por Jesus e Maria qualquer contrariedade com caridade fraterna, com humildade e paciência à imitação da vida dos santos, para a mesma paz de vocês e para a edificação dos demais. Porém, sobretudo para desfrutar a glória da Santíssima Trindade. Efetivamente, todas as coisas amargas se tornam doces e as pesadas leves, quando o amor a Jesus e a lembrança de sua Santa Mãe penetram no íntimo do coração. Se alguém o quer experimentar, basta com que ambos sejam o freqüente objeto de seu pensamento, que fale e leia a respeito deles e que a eles dirija seus cantos e seus rogos.

3) Para que possam logo conhecer um pouco a excelentíssima dignidade da Bem-aventurada Virgem Maria, escutem alguns dos tantos dons e privilégios com os que Deus lha há bendito e exaltado, acima de todos os santos anjos e arcanjos no céu, e acima de todos os homens na terra. Maria é a Virgem Santíssima e a muito querida Mãe de Deus de quem se canta na Igreja amplamente difundida em todo o mundo: “A Santa Mãe de Deus foi exaltada acima dos coros dos anjos”. Reflitam atentamente sobre os antigos episódios concernentes aos patriarcas, de cuja extirpe nasceu Maria como rosa sem espinhos entre os espinhos. Efetivamente, assim como um dia muitos santos homens: patriarcas, profetas, juízes, reis, sacerdotes, levitas, doutores e escribas, anunciaram com palavras, signos e figuras que Cristo, Filho de Deus, nasceria de uma virgem para a redenção do mundo e morreria na cruz, do mesmo modo, em perfeita harmonia e de acordo com o plano divino da salvação, a Bem-aventurada e Virgem Maria foi prefigurada e preconizada por meio das sagradas virgens daquele tempo, através de mulheres ilustres, casas viúvas, devotas profetisas, e mediante honestas matronas, que viviam castamente, e que, para guardar sua pureza, levavam vida de clausura em suas próprias casas junto com suas criadas, longe dos olhares dos homens.

4) Maria, como disse a Sagrada Escritura, é verdadeiramente a Virgem mais prudente de todas as virgens, a mais pudica de todas as mulheres, a mais formosa de todas as moças, a mais honesta de todas as Senhoras, a mais graciosa de todas as donzelas e a rainha mais nobre de todas as rainhas. Dela refulgem todo o decoro da virgem, toda a virtude moral, toda especulação teológica, toda amorosa devoção, todo exercício de virtude, toda perfeição de santidade. Ademais, todas estas qualidades se acumulam, residem e resplandecem nela de modo tão perfeito que ninguém a ela se assemelhou antes de sua aparição, nem ninguém foi, é ou será semelhante a ela depois de sua vinda. Como alguma vez o templo material de Salomão foi o mais majestoso de todos os templos da terra, por muito o mais famoso e o mais ornamentado, e era magnificamente venerado pelos reis e os povos, assim também o templo espiritual de Deus, a Bem-aventurada Virgem Maria, limpa de toda mancha, é superior a todos os templos dos santos, e, pelo mesmo, mais que todos deve ser imensamente honrada e amada.

5) Maria é uma muito ilustre filha, nobremente procriada da insigne estirpe dos patriarcas, descendente da ilustre casta sacerdotal, prenunciada pelo coro dos profetas, descendente de estirpe real, descendente em linha reta de Davi, da tribo de Judá, filha do povo de Israel e nascida, por disposição divina, de pais santos e gratos a Deus.

6) Feliz e imaculada Virgem Maria, digníssima de todo louvor e honra, com a que cada um deve sentir a necessidade de se abraçar com todo amor e respeito! Esplêndida pedra preciosa das virgens, predestinada por Deus desde o princípio e antes de todos os séculos para dar à luz, na plenitude dos tempos, ao Redentor do mundo! Desejada pelos patriarcas, prenunciada pelos profetas, eleita de muitos reis e de muitos justos, foi longo tempo esperada pelo devotíssimo povo de Israel e, por fim, visivelmente doada ao mundo enfermo pela misericórdia de Deus.

7) Sagrada e ilustríssima Virgem Maria, quão maravilhoso e louvado em todo mundo é o teu nome! Do oriente ao ocidente, em todas as zonas do orbe, ele é proclamado a judeus e gentios, a gregos e romanos, a latinos e germanos, junto com o Evangelho de Jesus Cristo teu Filho, e assim mesmo é proclamado sem interrupção alguma em todas as Igrejas cristãs, nas capelas e nos claustros, nos campos e nas selvas consagradas a Deus, de parte de pequenos e grandes, de sacerdotes e doutores, dos pregadores de todas as ordens religiosas, que em uníssono se comprazem em poder elevar-te até às estrelas, e exaltar tua santidade e tua beleza acima de qualquer dignidade angélica. Eles, mesmo que cantem, rezem, meditem e celebrem solenemente tuas festas, não se cansam nunca, de acordo com o ditado da sabedoria que proclama: “Quem se alimenta de mim, terá ainda mais fome; e quem me bebe, terá ainda mais sede.”

8) Louvor e glória, pois, ao Deus Altíssimo, que aqui na terra te concedeu, ó Maria, as graças maiores entre todas as filhas dos homens, e que agora pôs teu trono ao lado do de teu Filho no reino dos céus, no lugar mais alto e mais encantador, acima dos coros dos anjos e dos santos, preparado para ti desde toda eternidade e destinado a durar com felicidade para sempre.

9) A ti que és digna de suma veneração, ó Virgem Maria, Mãe e Filha do eterno Rei, te tribute louvor toda boca, venerando-lhe com as mais altas honras, por que é a mais pura das virgens, a mais humilde, a mais caridosa, a mais paciente, a mais misericordiosa, a mais fervorosa na oração, a mais profunda na meditação, a mais excelsa na contemplação, a mais pródiga de conselhos, a mais poderosa para prestar socorro. És o palácio real de Deus, a porta do céu, o paraíso das delícias, o poço das graças, a glória dos anjos, a alegria dos homens, o modelo dos costumes, o esplendor das virtudes, o farol da vida, a esperança dos necessitados, a saúde dos enfermos e a mãe dos órfãos.

10) És a Virgem das Virgens, toda suave e formosa, resplandecente como uma estrela, doce como uma rosa, branca como uma margarida, luminosa como sol e a lua no céu e na terra. És Virgem mansa, inocente como uma cordeirinha, simples como uma pomba, prudente como uma nobre matrona, serviçal como uma humilde criada. És santa raíz, cedro excelso, videira fecunda, fruto dulcíssimo, majestosa palmeira. Em ti se encontram todos os bens e por meio de ti se nos concedem os prêmios eternos. Por conseguinte, enquanto vivemos, todos devemos recorrer a ti, como filhos ao regaço da mãe e como órfãos à casa do pai, a fim de sermos protegidos de todo mal por teus gloriosos méritos e tuas orações.

11) Ouçam o que afirma certo escritor sobre as doze estrelas que adornam a coroa da Bem-aventurada Virgem, pela qual Maria resplandece no céu acima de todos os santos. Estas doze estrelas são as doze características de sua extrema realeza. Com respeito à Igreja militante, ela possui quatro características, que redundam em obras de misericórdia: atende mais benignamente que todos os outros e se inclina com mais humildade; obra com firmeza, mas socorre com freqüência, como nos ensina a experiência nas difíceis necessidades da Igreja. Em relação à Igreja triunfante, Maria possui igualmente quatro características: seu trono no céu está colocado acima de todos os outros e resplandece com mais intensa luz; é amada com mais fervor e honrada com maior difusão, como corresponde aos seus gloriosos méritos. Com respeito à Santíssima Trindade possui também quatro características, ou seja, quatro estrelas que brilham mais que todas: entre os que contemplam a glória da eterna Trindade, nenhum outro a intui com maior limpidez, a ama com mais profunda alegria, a contempla mais intimamente e desfruta dela com mais felicidade no céu. Não há nenhuma dúvida a respeito.

12) Escutem também o que, a propósito destas doze estrelas, disse Bernardo, o ardoroso amante da Bem–aventurada Virgem, o “Doutor Melífluo” e devoto educador de monges: “Sobre sua cabeça uma coroa de doze estrelas:... Quem poderá jamais estimar o valor destas pedras preciosas? Quem poderá jamais contar as estrelas de que se compões a coroa régia de Maria? É impossível que o homem possa explicar como está composta esta coroa.”

13) Em minha modesta opinião e longe da perigosa sondagem dos mistérios divinos, me parece que posso identificar nestas doze estrelas quiçá sem incongruência, as doze prerrogativas com que está adornada Maria: prerrogativas do céu, prerrogativas da carne e prerrogativas do coração. Se este número três for multiplicado por quatro, provavelmente teremos as doze estrelas, que fazem brilhar a coroa de nossa Rainha aos olhos de todos. Para mim, o fulgor resplandece na natividade de Maria, na anunciação, na intervenção do Espírito Santo, na inefável concepção do Filho de Deus. Vocês, na medida de sua diligência, poderão aprofundar melhor o tema. A mim basta ter sinalizado tão somente algumas considerações. Mas, se se quer aprofundar mais no significado místico das doze estrelas, leia-se o discurso de São Bernardo, que começa assim: “Um grande sinal apareceu no céu”.

14) Queridos irmãos, pelo singular respeito e amor que você têm à Santíssima Virgem Maria, evoquem freqüentemente em sua mente estes temas, e inclusive saboreiem-nos com seus lábios. Em agradecimento, entoem com fervor hinos e cantos de alegria em suas festas e em suas solenidades. Mas, sobre tudo descubram-se as cabeças e façam uma inclinação diante do altar de Deus e da imagem da Virgem Bem-aventurada; dobrem os joelhos humildemente, como se na realidade vissem à Maria dialogar com o anjo e levar nos braços o seu Filho. Logo, levantando os olhos com grande confiança de serem salvos, implorem com muito afeto a ajuda compassiva da Mãe da misericórdia, e rezem a seguinte oração:

15) “Clementíssima Mãe de Deus, Virgem Maria, Rainha do Céu, Senhora do mundo, alegria dos santos, alento dos que delinqüem, escuta os gemidos dos pecadores arrependidos; atende aos desejos dos devotos; socorre as necessidades dos enfermos; reanima o coração dos atribulados; assiste aos agonizantes; proteja a teus suplicantes servidores dos assaltos dos demônios; leva contigo os que te amam ao prêmio da eterna bem-aventurança, onde com teu amadíssimo Filho Jesus Cristo reinas com felicidade para sempre. Amém.

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“de Maria nunquam satis"
"sobre Maria nunca se falará o bastante"
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(KEMPIS, Tomás de. Imitación de María: Libro Segundo, Capítulo VII. pág. 62 - 71)

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